Eurodeputados pedem ao Reino Unido que volte atrás no Brexit
14 de janeiro de 2019Mais de cem deputados do Parlamento Europeu assinaram uma carta aberta pedindo ao Reino Unido que reconsidere a decisão de deixar a União Europeia (UE). O apelo ocorre pouco antes de uma votação crucial no Parlamento britânico para analisar o acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May com os líderes europeus.
A saída definitiva está marcada para 29 de março, mas o país está extremamente dividido em relação ao divórcio. Na versão inicial da carta recebida por órgãos de imprensa da Alemanha nesta segunda-feira (14/01), os eurodeputados expressam uma crescente preocupação sobre o que chamam de "desastre do Brexit, que será prejudicial tanto para o Reino Unido quanto para a Europa".
"Estamos relutantes em intervir em sua política interna, mas não podemos deixar de notar que as pesquisas de opinião mostram um número cada vez maior de eleitores que desejam uma oportunidade para reconsiderar a decisão sobre o Brexit", diz o documento.
"Qualquer decisão de permanecer na UE será amplamente bem-vinda por nós", afirmam os eurodeputados, elogiando o "enorme impacto" que políticos e cidadãos britânicos tiveram na construção do projeto europeu.
Eles pedem ainda que os britânicos reavaliem sua decisão "no interesse das próximas gerações", e se comprometem a "trabalhar juntos para reformar e melhorar a União Europeia" caso o Brexit venha a ser evitado.
Até o momento, 111 dos 751 membros do Parlamento Europeu assinaram a carta. Outros eurodeputados poderão assinar o documento até o dia 21 de janeiro, antes de sua publicação na imprensa britânica.
Theresa May, por sua vez, renovou os pedidos aos parlamentares britânicos para que apoiem seu acordo para o Brexit na votação desta terça-feira. Ela disse que, após receber novas garantias do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, as desconfianças envolvendo a polêmica sobre a fronteira com a Irlanda devem ser colocadas de lado.
As críticas de muitos opositores de May sobre sua estratégia para o Brexit estão centradas na questão do chamado backstop – o mecanismo que permite instaurar uma união aduaneira provisória entre a República da Irlanda, país-membro da UE, e a Irlanda do Norte, que integra o Reino Unido, o que manteria o país dentro das normas alfandegárias do bloco europeu.
A medida deveria durar até as duas partes da ilha chegarem a um acordo permanente para evitar a imposição de uma fronteira com controles alfandegários. Vários deputados temem que o mecanismo acabe mantendo o Reino Unido preso à UE, já que Londres não poderia abandoná-lo unilateralmente, ficando dependente de uma autorização de Bruxelas.
Uma carta enviada por Juncker e pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, "deixa ainda mais provável que o backstop jamais seja utilizado", afirmou May, afirmando que o documento de Bruxelas possuiria força legal.
"A Comissão pode assegurar que, assim como o Reino Unido, a União Europeia não deseja que o backstop entre em efeito", diz a carta, que confirma "a determinação da UE em substituir a solução do backstop na Irlanda do Norte por um acordo posterior que assegure de modo permanente a ausência de uma fronteira rígida na ilha da Irlanda".
O documento reafirma que o bloco europeu deverá trabalhar intensamente para evitar o acionamento do mecanismo, mas não menciona um período limite para que essa questão seja resolvida. As garantias oferecidas pelos europeus "possuem valor legal", em linha com a autoridade dos líderes do continente de "definir as direções e prioridades para a UE no mais alto nível", diz o texto.
Juncker e Tusk afirmam ainda que o acordo negociado com May "representa um compromisso justo" que eles não estariam em posição de modificar.
Na Alemanha, um dos presidentes do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o eurodeputado Jörg Meuthen, afirmou que o Brexit é um "caos sem esperança e uma situação altamente desastrosa", e lançou dúvidas sobre o futuro após o divórcio. "Temos eleições europeias em maio. Me pergunto como isso vai funcionar. Não é possível cancelar agora o Brexit sem enfrentar grandes dificuldades", observou.
Neste fim de semana, a AfD decidiu apoiar o fim do Parlamento Europeu, por considerá-lo "supérfluo" e "antidemocrático", apesar de lançar candidatos às eleições europeias. A sigla afirma que, caso suas reivindicações não sejam atendidas, será cogitado dar início no futuro a um processo para a saída da Alemanha do bloco europeu, o chamado "Dexit". Meuthen, porém, diz que essa seria uma opção "indesejada".
RC/dpa/ap/afp
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