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Europa lembra vítimas de atentados racistas

11 de março de 2020

Apesar de eventos para lembrar o Dia Europeu em Homenagem às Vítimas do Terrorismo em todo o continente, muitos dos atingidos e seus familiares se sentem deixados sozinhos em sua dor.

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Deutschland Opfer des Brandanschlages auf Ausländerheim in Hamburg 1980
Vietnamitas foram primeiras vítimas de assassinatos racistas na República Federal da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

Por toda a Europa, diversos eventos marcam nesta quarta-feira (11/03) o Dia Europeu de Homenagem às Vítimas de Terrorismo. Na França, onde nos últimos cinco anos mais de 250 morreram em ataques terroristas, o presidente Emmanuel Macron esteve à frente das celebrações que reuniram 900 vítimas e seus familiares em Paris.

Em Zwickau, no estado da Saxônia, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, reuniu-se já na terça-feira com prefeitos de todo o país para falar sobre ódio e violência.

Muitas vítimas de ataques terroristas lutam por toda a vida com as consequências das atrocidades sofridas. Elas costumam se sentir decepcionadas com a postura da sociedade, um sentimento que mesmo um dia memorial pouco poderá mudar.

Como no caso de Đỗ Anh Lân, morto por três coquetéis molotov na noite de 22 de agosto de 1980. Ele tinha 18 anos quando fugiu do Vietnã para a Alemanha, onde vivia num centro de refugiados em Hamburgo. Terroristas de extrema direita jogaram os dispositivos incendiários pela janela. Đỗ Anh Lân morreu de queimaduras dias depois, assim como seu vizinho, Nguyễn Ngọc Châu. "Fora estrangeiros!", picharam os assassinos na fachada do abrigo de migrantes.

Nas estatísticas, esse dia marcou os primeiros assassinatos de cunho racista na República Federal da Alemanha. Passados 40 anos, a mãe, Đỗ Mui, luta até hoje com sua dor e para que seja construído um memorial em Hamburgo, oficial e aberto ao público, um local que dê visibilidade à dor. "Ninguém se importa", disse Đỗ Mui em entrevista ao jornal Die Zeit.

Assassinatos racistas

A Alemanha tem dificuldade de lidar com a cultura moderna de lembrança das vítimas do terrorismo. É claro que há uma memória viva, como agora após os assassinatos na cidade de Hanau, no estado de Hessen. Em 19 de fevereiro de 2020, um homem de 43 anos matou nove pessoas a tiro. As vítimas ou suas famílias eram imigrantes, o motivo: racismo. A cerimônia fúnebre contou com a presença do presidente Frank-Walter Steinmeier e da chanceler federal Angela Merkel.

Foi uma celebração digna. Mas as famílias das vítimas temem, em breve, serem novamente deixadas sozinhas com sua dor – e, acima de tudo, com seus medos. "Agora estamos recebendo cada vez mais relatos de alguns parentes que estão com medo de levar seus filhos à escola", relata Robert Erkan, do Centro de Assistência a Vítimas em Hanau.

Para os familiares das vítimas, o terror de direita não é um caso isolado: é uma realidade amarga, porque, apesar de todos os alertas e declarações da política, nunca deixou de existir.

Deutschland Gedenkbänke für NSU-Opfer in Zwickau
Memorial para vítimas da NSU em Zwickau, na antiga Alemanha OrientalFoto: picture-alliance /dpa/Tnn

Memoriais vandalizados

Obviamente também existem inúmeros locais importantes para lembrar as vítimas do terrorismo na Alemanha, especialmente na capital Berlim: o Memorial do Holocausto ou o centro de documentação Topografia do Terror estão entre os pontos mais visitados do país, com milhões de visitantes. Mas eles lembram as vítimas do nacional-socialismo, ou seja, de uma época anterior à fundação da República Federal da Alemanha.

Para novos memoriais, a situação não é fácil. Algumas vezes, sua construção é rejeitada, como no caso de Đỗ Anh Lân, outras, eles são vandalizados. Em muitas cidades, há memoriais em homenagem às vítimas da série de assassinatos de cunho racista praticados pelo grupo autodenominado Clandestinidade Nacional Socialista (NSU). Eles foram danificados, roubados ou pichados com suásticas. Na cidade de Kassel, os pais do Halit Yozgat, morto pela NSU, desejam há anos que a rua em que ele nasceu ganhe o nome Halitstrasse, o que a prefeitura da cidade rejeita.

Para os parentes, é difícil de aceitar. Eles não estão exigindo dinheiro do Estado, nenhuma indenização, mas resgate crítico e locais memoriais que devolvam ao falecido um pouco de dignidade. Muitas vezes, trata-se de uma dura luta: na cidade de Zwickau, na região da antiga Alemanha Oriental, um pequeno carvalho lembrava as vítimas. A árvore foi serrada. Como em outros casos, os autores provavelmente eram extremistas de direita.

O presidente Steinmeier foi a Zwickau conversar com os prefeitos do país na véspera do Dia Europeu de Homenagem às Vítimas de Terrorismo. Porque cada vez mais políticos locais estão sendo vítimas de ataques e insultos, o que foi confirmado por metade dos prefeitos, que afirmaram ter sido abordados várias vezes.

O presidente alemão lhes falou de coragem. No entanto dirigiu-se principalmente ao centro mais amplo da sociedade: "Ninguém deve mais dizer: isso não me interessa. E ninguém pode ficar calado. O chamado centro silencioso da sociedade ficou quieto por muito tempo, mas também sabemos: ela existe, sim existe essa maioria em nosso país que quer viver pacificamente e condena explicitamente a violência. Mas é justo essa maioria que precisa falar alto agora."

O recado do presidente alemão para essa parcela maior da sociedade é: "Não nos calemos. Devemos nos unir contra o ódio."

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Hans Pfeifer Ele é um repórter multimídia apaixonado, especializado em extrema direita.