Visita oficial
25 de junho de 2011A visita oficial de cinco dias do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, começa no momento em que as relações da China com o Velho Continente são assoladas por discórdia. Apesar da cooperação econômica e da boa balança comercial, a preocupação com direitos humanos e com a crescente dependência econômica europeia em relação à China são o principal tempero de uma pauta agridoce de discussões.
Em sua primeira parada, em Budapeste, Wen assinou uma série de acordos de cooperação com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban. O premiê chinês anunciou neste sábado (25/06) que a China está pronta para comprar títulos do governo da Hungria e ampliar para um bilhão de euros o crédito ao país. Esta é a primeira visita em 24 anos de um líder chinês à Hungria, país que até o final do mês detém a presidência da União Europeia.
De olho na crise grega
De acordo com Yan Jin, do Centro de Estudos Europeus na Universidade de Renmin, em Pequim, a crise da dívida na Grécia é o que mais preocupa o gigante asiático.
"A China está convencida de que a crise da dívida europeia e grega não é apenas um problema da União Europeia. Ela é importante para a economia mundial. E se a crise não for solucionada, pode afetar a economia de toda a Europa e, com isso, também a economia mundial e da China", diz Yan.
Mais do que tudo, a China está interessada em um euro estável e em parceiros comerciais europeus confiáveis. A República Popular investiu bilhões de suas enormes reservas cambiais em euros, além de ter comprado títulos dos governos da Grécia e da Espanha. E já anunciou a disponibilidade de investir mais. Mas ao mesmo tempo, especialistas chineses alertam aos europeus para não terem muitas expectativas de que a China vá socorrer a Europa.
Negócios na linha de frente
A visita de Wen Jiabao também tem o objetivo de ajudar a construir fortes laços comerciais. Empresas europeias esperam por grandes encomendas da China, mas muitas se queixam das desvantagens do mercado chinês.
Enquanto isso, os europeus estão cada vez mais desconfiados com o crescente engajamento da China em seu quintal. Recentemente, a controvérsia envolvendo a participação de uma empresa estatal chinesa em parte da construção uma estrada entre Berlim e Varsóvia ocupou as manchetes dos jornais.
Mas o vice-ministro do Exterior chinês, Fu Ying, disse que as preocupações de que a China planeje tomar conta de negócios europeus são infundadas. "Alguns políticos europeus atribuem motivos políticos a decisões econômicas. Isso não é verdade e não representa os fatos. Isso leva as empresas chinesas a perderem o interesse e a terem a impressão de que a Europa não é um campo acolhedor para investimentos."
Caso Ai Weiwei
Longe da arena comercial, Europa e China estão em lados opostos quando o assunto é direitos humanos. E o tema não deve passar em branco durante a visita de Wen, principalmente em relação ao tratamento que a China deu ao artista Ai Weiwei, que foi autorizado a voltar para casa na quarta-feira, depois de mais de dois meses preso.
Na sexta-feira, a polícia soltou o último dos quatro assistentes de Ai Weiwei que haviam sido presos junto com o artista, crítico do regime de Pequim. O assistente de Ai Weiwei, Wen Tao, voltou para casa na sexta à noite, segundo informou o próprio artista à agência de notícias AFP, através de uma mensagem de texto.
No dia anterior, o advogado de Ai havia anunciado a liberação de seu contador e do designer Liu Zhenggang. Na tarde da quinta-feira, o primo e motorista de Ai, Zhang Ais Jinsong tinham sido liberados.
Ai Wei Wei foi libertado após pagar fiança e se comprometer a obedecer regras severas. O artista, de renome internacional, está impedido de deixar Pequim sem permissão durante um ano. Com 54 anos de idade e sofrendo de diabetes, ele foi preso em 3 de abril e levado a local desconhecido e foi libertado após admitir culpa por evasão fiscal. Ai Weiwei está proibido de dar declarações à imprensa, mas sua família e aliados contradizem as acusações. Analistas atribuem a libertação de Ai Weiwei e seus assessores à viagem à Europa do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao.
Autor: Ruth Kirchner/Julia Elvers-Guyot (ff)
Revisão: Marcio Damasceno