Medo dos ilegais
2 de novembro de 2008O boom do setor de construções dos últimos anos na Espanha atraiu centenas de milhares de africanos ao país. Muitos desses operários foram os primeiros a ser descartados em conseqüência da recente estagnação do mercado imobiliário espanhol. O país que recebeu 1 milhão de imigrantes em 2007 agora se confronta com uma taxa de desemprego de 11,3%, uma das mais elevadas da zona do euro.
O fato levou o governo a cerrar portas a futuros candidatos, através de leis voltadas a cortar vistos de trabalho e limitar os vistos por reunião familiar. Além disso, Madri oferece dinheiro aos estrangeiros desempregados para que voltem para casa.
Também no Reino Unido
A Espanha não é a única perplexa diante do problema do trabalho migrante. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prediz que, até o final do próximo ano, 20 milhões de vagas haverão sido cortadas, em todo o mundo, e diversas nações européias já consideram medidas para restringir a imigração.
O Reino Unido é uma delas. O ministro da Imigração Phil Woolas declarou recentemente ao jornal The Times: "Se as pessoas estão ficando desempregadas, a questão da imigração se torna extremamente espinhosa. [...] Tem sido fácil demais entrar neste país no passado e vai ficar mais difícil."
Nos últimos quatro anos, numerosos trabalhadores dos novos países-membros da UE escolheram o Reino Unido, porém muitos estão retornando a seu país de origem, à medida que o impacto da crise global se agrava. Paralelamente, o governo britânico estuda uma reforma da legislação migratória, incluindo um sistema de pontos semelhante ao adotado na Austrália, com o fim de facilitar o ingresso de mão-de-obra altamente especializada, filtrando os candidatos menos interessantes para o país.
"Migrantes migram, de um jeito ou de outro"
Contudo, a Organização das Nações Unidas adverte: simplesmente mandar trabalhadores para casa não resolve a situação: tal medida teria como o único efeito reduzir o número dos imigrantes legais, incentivando a clandestinidade. Segundo Peter Sutherland, representante especial do secretário geral da ONU para assuntos migratórios: "Temos visto quão ineficientes meras medidas de proibição são, no tocante à migração. Na verdade, elas não funcionam. Migrantes migram. Eles encontrarão um jeito, de uma forma ou de outra".
Para enfrentar a situação, a ONU elaborou uma iniciativa de 15 milhões de euros, destinada a proteger os migrantes durante a atual crise econômica. O lançamento transcorreu durante o Fórum Global de Migração e Desenvolvimento, realizado na última semana de outubro em Manila, Filipinas.
Estima-se em 40 milhões o número de migrantes no mundo inteiro, 25% ilegais. De acordo com Sharan Burrow, presidente da Confederação Sindical Internacional (ITUC), a maioria destes se encontra nos Estados Unidos. "Nosso medo é que esses números venham a crescer."
Itália e Grécia
Embora ainda não se registre um pique global da imigração ilegal, certos países europeus sentem o aumento da pressão imigratória. Na última segunda-feira (27/10), 400 imigrantes ilegais foram detidos ao tentar desembarcar na Ilha de Lampedusa, na Itália. No fim de semana anterior, segundo a guarda costeira, 280 clandestinos haviam logrado penetrar na ilha.
O Ministério italiano do Interior registrou um acréscimo dramático no número de desembarques ilegais por via marítima no país: um total de 23.600, de janeiro a outubro de 2008. A agência de notícias AFP calcula que, somente em outubro, 2.800 imigrantes tentaram entrar no país.
Ainda segundo a mesma fonte, nos primeiros nove meses deste ano 10 mil foram detidos, ao tentar ingressar clandestinamente na Grécia. No mesmo período de 2007, este número foi de 9.240 pessoas.