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Europa teme dependência no setor de energia

(sm)3 de janeiro de 2006

O conflito em torno do abastecimento de gás natural russo deixa opinião pública européia em alerta. Políticos alemães sugerem retomada da produção de energia nuclear como alternativa à dependência no setor de energia.

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Crise do gás serviu de alerta para a EuropaFoto: AP

Após a suspensão do fornecimento de gás russo à Ucrânia ter prejudicado o abastecimento em países da Europa Ocidental, os europeus se mostraram apreensivos com sua dependência energética. Cerca de 66% de todo o gás natural importado pela União Européia provêm da Rússia.

Mesmo após a normalização do abastecimento e os sinais de que Moscou e Kiev pretendem retomar as negociações, a recente demonstração de poder da Rússia promete deixar marcas na consciência européia.

Mostras de poder político

"Usar o abastecimento de matérias-primas como arma era algo que só se conhecia do Oriente Médio. E mesmo lá, desde os anos 70, nenhum Estado mais ousou pressionar o exterior com a interrupção do fornecimento de petróleo ou gás natural", constatou o diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Hauptquartier von Gazprom
Central da Gasprom em Moscou, sob controle do KremlinFoto: AP

A ênfase da imprensa européia na dependência de ordem política parece ter sido até maior do que entre os políticos. O Le Monde, de Paris, afirmou que "esta é a primeira declaração de guerra do século 21": "Um país cortou o fornecimento de energia do outro porque este não se curvou às suas exigências. A Rússia, o maior produtor de gás do mundo, apertou o gatilho da arma do gás".

O jornal holandês De Volkskrant comentou que, "no início do século 21, o papel dos países árabes parece ter se transferido para a Rússia": "O que vigorava em 1973 ainda continua valendo: energia é política".

Diversificação é a chave

Por outro lado, a política de energia da União Européia foi colocada em xeque. "As razões da crise [entre Rússia e Ucrânia] são claras, mas suas conseqüências ainda incertas. O conflito tornou clara a dependência dos europeus em relação ao gás natural russo. França, Áustria, Alemanha e Itália tiveram que acordar. A Europa precisa de uma política de energia comum." Isso foi o que comentou o The Independent, de Londres.

Para o diário suíço Neue Zürcher Zeitung, "todos os países que não foram abençoados com petróleo e gás natural só têm uma saída para se proteger contra manobras de poder indesejadas, ou seja, através da diversificação do próprio abastecimento de energia."

Isto também está claro para os políticos. Tanto que o encontro da Comissão Européia com o setor de energia dos países-membros, previsto para esta quarta-feira (04/01), poderá marcar o início de um processo de revisão da política energética européia.

Urgência de alternativa energética

AKW Neckarwestheim
Conservadores querem prolongar o funcionamento das usinas nucleares na AlemanhaFoto: dpa

Na Alemanha, todos os partidos reagiram à demonstração de poder de Moscou com uma enfática reivindicação de relativizar a dependência alemã no setor de energia. Social-democratas advertiram contra "o perigo de chantagem", ao qual a Alemanha estaria cada vez mais exposta.

Os verdes interpretaram a crise russo-ucraniana como "o início de uma disputa européia por recursos naturais" e também alertaram contra a crescente dependência alemã da energia russa. De acordo com o Ministério da Economia em Berlim, 36% das importações alemãs de gás natural provêm da Rússia, uma cota que ainda deveria ser aumentada.

Conflito dentro da coalizão alemã

Os conservadores social-cristãos e democrata-cristãos aproveitaram a ocasião para reivindicar uma retomada intensificada de produção de energia atômica no país. A alternativa da energia nuclear se choca, no entanto, com o acordo de coalizão negociado com os social-democratas.

O ministro da Economia, Michael Glos, propôs que se rediscuta o calendário que regulamenta a longo prazo a suspensão a produção de energia nuclear no país, herdado do governo anterior. O secretário-geral do Partido Social-Democrata (SPD), Hubertus Heil, ressaltou que "o acordo de coalizão é bastante claro neste ponto", acrescentando que a proposta de Glos não passa de uma "opinião pessoal".