Europeus buscam emprego na América Latina
28 de julho de 2015Natural de Sevilha, no sul da Espanha, Magdalena Martín Sevilla decidiu fazer do Chile a sua nova casa, depois de não ter conseguido encontrar emprego por meses. Em 2012, ela fez as malas e deixou a Espanha.
"A situação econômica tem sido terrível desde 2008", diz. "É impossível encontrar trabalho na própria área. As pessoas simplesmente acabam realizando trabalhos mal pagos e que não querem fazer."
Antes da crise, a jovem de 20 poucos anos estudou com o objetivo de ajudar famílias de baixa renda. Depois de se formar, ela passou cinco meses à procura de trabalho na Espanha. Quando uma fundação no Chile lhe ofereceu um emprego, ela não pensou duas vezes. Sevilla se mudou para a capital chilena, Santiago, para combater a pobreza na América Latina.
A mudança para o Chile e a adaptação foram fáceis, já que o espanhol é sua língua materna, mas ela diz que ainda tem de lidar com as saudades da família e de amigos. Além disso, ela sente que as pessoas na Espanha sabem aproveitar a vida um pouco melhor.
Escapando da crise econômica
Jorge Salgado-Reyes também se mudou para o Chile em busca de trabalho. Ele deixou o Reino Unido em 2010, quando, segundo ele, tudo ficou mais difícil. "Nossa renda bruta de 100 mil libras [por volta de 525 mil reais] foi reduzida a migalhas de um mês para o outro", conta.
Quando se mudou para o Chile, Salgado-Reyes voltou a ter esperanças, já que na Europa não havia trabalho para ele. Aos 48 anos de idade, ele trabalha como investigador particular e dirige a própria empresa.
De acordo com ele, a competição era difícil no Reino Unido. "Há cerca de 10 mil agências de detetives no Reino Unido. Já no Chile, há apenas umas dez", afirma.
Chile atrai milhares de europeus
Mais europeus estão se mudando para a América Latina e o Caribe do que o contrário, segundo um recente estudo realizado pela Organização Internacional de Migração (IOM, na sigla em inglês). E não são apenas as potências econômicas do bloco latino, como Brasil e México, que estão atraindo migrantes.
O Chile está se tornando cada vez mais popular. Aproximadamente 70 mil europeus – principalmente alemães, franceses, belgas, romenos e búlgaros – vivem hoje no país, de acordo com Gastón Parra González, especialista chileno em política de imigração.
Alguns profissionais já têm uma oferta de trabalho quando embarcam em suas jornadas, enquanto outros simplesmente vão até o Chile para tentar a sorte.
"As empresas chilenas muitas vezes olham para uma área específica de especialização na Europa", diz Parra. "Romenos e búlgaros estão sendo contratados para trabalhar no norte do deserto do Atacama no setor de energia sustentável, instalando painéis solares."
O Chile, um país relativamente pequeno com pouco mais de 17 milhões de habitantes, possui uma economia em expansão, o que atrai não somente europeus, mas também outros migrantes provenientes da América Latina.
"E há mais e mais empresas se deslocando para o Chile, o que significa mais clientes para nós", comemora o detetive Salgado-Reyes.
"Não é um paraíso"
Sevilla diz que muitos de seus amigos espanhóis também conseguiram empregos bem remunerados no Chile. No entanto, ela adverte que o país não é um paraíso. Parra concorda: "As pessoas que se mudam para cá não percebem quão caro é o Chile. Se você quer viver bem em Santiago, é quase tão caro como em capitais europeias, como Londres ou Berlim".
"Muitos imigrantes estão ficando desiludidos e reclamam que não sabiam que teriam de pagar tanto por coisas que eles consideram um direito adquirido, como educação e saúde, algo comum na terra natal", acrescenta Parra.
Os milhares de europeus que vêm a cada ano para tentar a sorte muitas vezes acabam em empregos de baixa remuneração, trabalhando em bares ou como operário em construções. Além disso, Parra afirma que muitos não conseguiram compreender que viver e trabalhar num país é muito diferente do que visitá-lo como turista.
Embora Sevilla e Salgado-Reyes afirmem que estão muito felizes com suas vidas profissionais no Chile, eles não descartam a possibilidade de voltar à Espanha e ao Reino Unido, respectivamente, se a situação econômica melhorar em seus países de origem.