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Europeus isolam Maduro ainda mais

Barbara Wesel ip
4 de fevereiro de 2019

Após fim de ultimato a líder venezuelano, vários Estados-membros da UE se unem a grupo de países que reconheceram Guaidó como presidente interino. Líderes defendem democracia e eleições livres e justas.

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Nicolas Maduro
Maduro rejeitou ultimato dado por europeus para convocar novas eleiçõesFoto: Reuters/Miraflores Palace

O ultimato expirou na noite de domingo (03/02): os quatro principais países da União Europeia – Espanha, França, Alemanha e Reino Unido – haviam estabelecido um prazo para que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, proclamasse eleições justas e livres. Caso contrário, eles reconheceriam o líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente interino. Maduro ficou impassível e reiterou numa entrevista à televisão espanhola no domingo rejeitar qualquer ultimato vindo de fora. Desde então, uma onda coordenada de reconhecimento a Guaidó percorreu capitais europeias.

No último minuto, porém, a Itália bloqueou uma declaração conjunta da União Europeia (UE) sobre a Venezuela nesta segunda-feira. Em Roma, a disputa pelo apoio de Guaidó levou a uma crise no governo. Já na semana passada, durante uma reunião de ministros do Exterior em Bucareste, a resistência da Itália foi o obstáculo que impediu uma declaração comum inequívoca.

Alessandro di Battista, representante do partido governista Cinco Estrelas, disse que "ultimatos, sanções e o congelamento de mercadorias" só abririam caminho para a intervenção militar. "O Movimento Cinco Estrelas e este governo nunca reconhecerão pessoas que se autoproclamam presidentes", concluiu.

Reação muito diferente teve o parceiro de coalizão Liga: "Maduro é um dos últimos ditadores de esquerda a governarem pela força e deixarem seu povo faminto", disse o líder da Liga, Matteo Salvini. O presidente italiano, Sergio Mattarella, pediu ao governo para chegar a um acordo e apoiar Guaidó, como fizeram outros países europeus. Mas o apelo não teve sucesso.

O próprio Guaidó pediu especificamente o apoio de Roma em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera. A população nascida na Itália é bastante influente na Venezuela. Mas os amigos de Moscou no Cinco Estrelas impediram a ação comum dos europeus. E declarações de política externa devem ser unânimes.

Os europeus têm assistido ao agravamento da crise venezuelana nas últimas semanas e meses com "crescente preocupação", como se diz na linguagem diplomática. Eles viram uma espécie de portador de esperança por trás do qual poderiam se unir quando Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, se autoproclamou presidente interino. Para vários líderes europeus, trata-se de apoiar o processo democrático no país sul-americano, e não uma troca de regime, como exige Washington.

Na quinta-feira passada, o Parlamento Europeu acelerou o processo com o reconhecimento simbólico de Guaidó como presidente interino. A competência legal para reconhecer o líder da oposição permanece, no entanto, reservada a cada Estado-membro da UE individualmente.

Se olharmos para as formulações adotadas por Paris, Berlim e Madri, fica claro que a UE quer, já desde o início, afastar acusações de interferência ilegal. Maduro teria recusado e, por isso, "Guaidó é agora a pessoa com quem conversamos sobre novas eleições", disse a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Os europeus esperavam que Maduro promovesse, o quanto antes, eleições justas e pacíficas, afirmou.

O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, foi ainda mais claro: os cidadãos da Venezuela têm que ser donos de seu destino e decidir seu próprio futuro. "Trabalhamos por um retorno total da Venezuela à democracia: direitos humanos, eleições e fim das prisões políticas", disse.

O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, durante comício em Caracas contra o presidente Nicolás Maduro
Desde que se declarou presidente interino, em 23 de janeiro, Guaidó vem ganhando apoio de cada vez mais paísesFoto: Reuters/A.M. Casares

Apenas o Reino Unido saiu do tom ao apresentar exigências muito mais robustas por, entre outras coisas, um "fim de Maduro", além de se referir ao seu regime como "cleptocrático". Com isso, Londres parece se aproximar da retórica mais agressiva de Washington, enquanto o restante dos europeus se concentra nos "processos democráticos".

Na quinta-feira desta semana, representantes de vários países europeus apoiadores de Guaidó se reunirão com parceiros da América Latina em Montevidéu, capital do Uruguai. O objetivo é abrir canais políticos para a Venezuela a fim de levar ajuda humanitária ao país assolado por uma grave crise econômica e de abastecimento.

Para isso, o governo federal alemão reservou cinco milhões de euros, e a UE prometeu mais financiamento. Até o momento, no entanto, Maduro se recusou a aceitar ajuda externa. Talvez os esforços de mediação dos países vizinhos possam agora ajudar a garantir que pelo menos os medicamentos e outras necessidades vitais possam ser enviados.

Para os representantes europeus que irão a Montevidéu trata-se também de apoiar a oposição na Venezuela e a preparação gradual de novas eleições. Os países da UE querem, assim, ajudar logística e financeiramente como puderem.

Disputa de poder entre Washington e Moscou

A reação de Moscou não tardou. Em comunicado, o Kremlin afirmou que os europeus querem apoiar a tentativa ilegal de Guaidó de tomar o poder. E tal tentativa de interferência externa é condenável, prosseguiu o texto.

Os europeus correm, portanto, risco de se tornarem uma marionete no conflito entre Moscou e Washington. O governo russo defende seus bilhões de investimentos na Venezuela e o engajamento de sua empresa de petróleo Rosneft, e se recusa a abrir mão dos empréstimos ao regime falido de Maduro. Além disso, Moscou considera o governante na Venezuela a cabeça de ponte política na América Latina.

A China também está envolvida em bilhões de investimentos. Washington, por outro lado, tenta limpar seu "quintal" político e trocar um governo hostil na Venezuela por um amistoso. 

Em contraste, a UE quer agir como mediadora para apoiar o movimento democrático no país. O bloco tem menos interesses próprios em jogo e, portanto, espera poder agir entre os interesses opostos das grandes potências. E isso só dará certo enquanto a crise política na Venezuela continuar sem intervenção militar.

Após Guaidó ter se autodeclarado presidente interino, em 23 de janeiro, os EUA, o Canadá, o Brasil e uma série de países da América Latina reconheceram prontamente o líder da oposição. Os europeus hesitaram inicialmente em apoiar Guaidó abertamente, se limitando a pedir novas eleições.

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