Cúpula ALC-UE
16 de maio de 2008O governo peruano não poupou esforços para garantir a segurança das 27 delegações de alto escalão européias e 33 latino-americanas e caribenhas que se encontram nesta semana em Lima para a 5ª Cúpula da América Latina e Caribe e União Européia (ALC-UE).
Aviões de caça, especialistas em guerra bacteriológica e 95 mil policiais foram engajados pelo governo do presidente Alan García para assegurar que nada aconteça aos mais de 40 chefes de Estado e governo da União Européia, Caribe e América Latina presentes à cúpula. Entre eles, a chefe de governo alemã Angela Merkel e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Na principal e última etapa do encontro, a se realizar nesta sexta-feira e sábado (16 e 17/05) na capital peruana, os governos das diversas nações discutirão temas relativos aos biocombustíveis, mudanças climáticas, biodiversidade, livre comércio e combate à miséria.
Cooperação, parceria e estagnação
O primeiro encontro deste tipo foi realizado no Rio de Janeiro em 1999; seguiram-se então Madri (2002), Guadalajara (2004) e Viena (2006). A cúpula procura fortalecer os laços existentes desde os tempos coloniais entre a Europa e os países latino-americanos e caribenhos. O fortalecimento da democracia e da Justiça, como também a boa cooperação nas áreas de economia, ciência e cultura pertencem aos principais campos desta parceria.
O interesse europeu pelos mercados asiáticos e as diferentes posições dos governos latino-americanos e caribenhos provocaram um marasmo nas tentativas de aproximação entre os continentes nos últimos anos. Há anos que as negociações entre o Mercosul e a União Européia estão estagnadas devido às discussões sobre o livre comércio entre os blocos.
Com a ausência dos chefes de governo do Reino Unido, da França e da Itália na 5ª ALC-UE, a chanceler federal alemã Angela Merkel desempenhará importante papel na aproximação entre os continentes. A participação da chanceler federal alemã denota o crescente interesse de seu país pelo mercado de 540 milhões de pessoas representado pelos países latino-americanos e caribenhos.
Declarações e investimentos
Comentando o ressurgimento do interesse pela América Latina na Alemanha, o jornal de economia Handelsblatt, de Düsseldorf, afirma: "Já estava mais do que na hora de Angela Merkel, depois de várias viagens à Ásia, dedicar sua atenção à América Latina. […] Os pronunciamentos dos políticos, que anseiam estreitar parcerias, intensificar diálogos, dar impulsos e assinar todos os tipos de papéis com nomes bonitos, devem ser seguidos, o mais breve possível, pela economia com investimentos".
Um dos pontos também levantados pela imprensa nas dificuldades de relacionamento entre os dois lados do Atlântico foram os governos de orientação nacionalista de esquerda, principalmente na Bolívia e na Venezuela, que dificultariam uma maior aproximação entre os continentes.
Sobre o tema, o Berliner Zeitung comenta que "[…] para que as relações entre a União Européia e a América, alguma dia, ganhem o atributo de estratégicas, então ambos os lados têm que aceitar suas diferenças. […] Pois entre as características da parceria estratégica entre UE e AL está o fato de que nenhum dos lados pode escolher seu parceiro".
Após os ataques de Hugo Chávez, que aproximou Merkel de Hitler, a chanceler federal alemã comentou, em sua visita ao Brasil, que não procurará o confronto com o presidente venezuelano durante o encontro em Lima. Além disso, segundo informações da delegação de Merkel, ela tentará se reunir, à margem da cúpula, com o presidente boliviano Evo Morales.
Cúpula dos Povos
Paralelamente à cúpula oficial, cerca de 2 mil representantes de organizações não governamentais e movimentos sociais da Europa, América Latina e Caribe se encontram na capital peruana para participar da 3ª Cúpula dos Povos na Universidade Nacional de Engenharia, ao norte da capital peruana.
A cúpula alternativa se propõe a discutir criticamente o neoliberalismo e o militarismo, as companhias multinacionais, bem como os novos tratados de livre comércio e proteção aos investimentos.
Já no Museu da Nação em Lima, sede da 5ª ALC-UE, os chefes de Estado e governo tratarão da proteção ao clima e à biodiversidade, dos biocombustíveis, da liberalização do comércio e do combate à miséria.
A União Européia deseja que os Estados latino-americanos se comprometam mais no combate às mudanças climáticas e na proteção à biodiversidade, principalmente na região amazônica.
Quanto aos biocombustíveis, a UE planeja aumentar seu percentual na gasolina para 10% até 2020. O bloco deseja que eles sejam produzidos de forma sustentável para o meio ambiente. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de bioetanol depois dos EUA, e os europeus dependem da importação do produto.