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Forças Armadas consumam golpe e derrubam Morsi do poder no Egito

3 de julho de 2013

Apoiados por manifestantes, militares suspendem Constituição e, dois anos após queda de Mubarak, retiram do poder primeiro presidente democraticamente eleito do país. Chefe do tribunal constitucional assume Presidência.

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Foto: Reuters

A crise política que paralisa o Egito atingiu nesta quarta-feira (03/07) seu ápice e culminou no que há semanas, quando centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas para protestar, já anunciava-se inevitável. A Constituição foi dissolvida e o presidente Mohammed Morsi deposto – num golpe de Estado orquestrado e anunciado pelos militares e que foi recebido com festa na Praça Tahrir.

Há alguns meses, a situação era quase impensável – e não deixa de ser paradoxal. Um movimento de princípios reconhecidamente democráticos conseguiu que os militares, que estiveram por trás de seis décadas de ditadura, removessem do poder um presidente defensor de uma aplicação estrita dos princípios islâmicos, porém eleito em votação amplamente aceita pela comunidade internacional. Tudo, novamente, com o pretexto de recolocar o país no caminho da democracia.

"O Exército entendeu o pedido da população. Nos esforçamos nos últimos meses para pedir uma reconciliação entre as forças políticas, incluindo o movimento do presidente", disse o chefe das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, em discurso em cadeia nacional após reunião com líderes políticos e religiosos. "As Forças Armadas, como uma instituição patriótica, têm a função de proteger a população egípcia e garantir e prevenir ações contra a população e contra a estabilidade."

A situação no Egito hoje, dois anos após a queda de Mubarak, é a seguinte: a Constituição está suspensa e será alterada por um comitê de especialistas ainda a ser formado; o chefe da Suprema Corte Constitucional, Adly Mansour, ocupará a Presidência do país de forma interina; será formado um governo de tecnocratas e eleições parlamentares serão convocadas o mais rapidamente possível.

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Manifestantes comemoram no Cairo a queda de MorsiFoto: Reuters

Num país de instituições frágeis, coube novamente à mais sólida delas, no caso o Exército, conduzir a mudança no poder. Denunciada como golpe militar por Morsi, o movimento foi justificado pelas Forças Armadas como a melhor resposta às demandas dos milhões de egípcios que se opõem à agenda islamista (que defende uma aplicação mais rígida dos princípios do Islã] do agora ex-presidente e de seus aliados da Irmandade Muçulmana.

Apoio de líderes políticos e religiosos

No discurso na TV ao lado de líderes militares, autoridades religiosas e figuras políticas da oposição, o chefe militar disse que o objetivo não era assegurar para as Forças Armadas o poder no Egito, mas garantir que o povo terá "segurança e estabilidade". Para analistas, o futuro do país passa por integrar as principais forças políticas e religiosas.

"Há três forças básicas no Egito: os islamistas – representados sobretudo pela Irmandade Muçulmana – o Exército e as ruas", diz o historiador Khaled Fahmy, da Universidade Americana do Cairo. "E nenhuma delas é forte o suficiente para se impôr sobre a outra. E o que vimos agora é a polícia, o Exército e os revolucionários contra a Irmandade."

Em declarações após o discurso dos militares, um conselheiro de Morsi disse que o presidente deposto já apelou para seus partidários a resistirem ao "golpe de Estado", porém pacificamente. Durante grande parte desta quarta-feira, os apoiadores do presidente permaneceram isolados numa praça no Egito por tanques do Exército.

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O Exército foi às ruas com a justificativa de garantir a segurança e estabilidade do paísFoto: Reuters

A decisão anunciada nesta quarta-feira concretiza a ameaça feita pelo Exército dois dias antes, quando deixou claro que interviria na crise política caso as exigências do povo não fossem atendidas de forma satisfatória por Morsi num prazo de 48 horas.

O Egito permanece, assim, profundamente dividido entre os adversários de Morsi, que denunciam uma guinada autoritária de poder destinada a instaurar um regime dominado pelos princípios do Islã, e os islamistas, que ainda querem ver reforçada a legitimidade conquistada nas urnas em 2012, na primeira eleição democrática realizada no país.

RPR/ap/afp/rtr