Ex-diretor do FMI eleito presidente da Alemanha
23 de maio de 2004A Alemanha precisa rapidamente se transformar para vencer os atuais desafios internos e mundiais foi o recado principal do futuro presidente da Alemanha, Horst Köhler, em seu discurso de agradecimento na Assembléia Nacional, em Berlim, logo após ser eleito neste domingo (23/5) com maioria absoluta de votos em primeiro turno. O ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) pregou ainda abertura do mercados alemães para os países em desenvolvimento.
A eleição de Köhler foi mais apertada que o esperado. O candidato da oposição recebeu apenas 50,16% dos votos. Na história da República Federal da Alemanha, apenas o social-democrata Gustav Heinemann venceu a disputa presidencial por margem ainda menor (50,05%), em terceiro turno, em 1969.
A União Democrata Cristã (CDU), a União Social Cristã (CSU) e o Partido Liberal enviaram 622 delegados à Assembléia Nacional. Seu candidato obteve, porém, apenas 604 votos, um a mais que o necessário para ganhar em primeiro turno. A adversária Gesine Schwan, indicada pelo governo, acabou com 589 votos, dez a mais do que a soma de delegados social-democratas, verdes e socialistas. Do total de 1024 eleitores, nove se abstiveram. Dois votos foram anulados.
Presidente da Alemanha, mas não só dos alemães
Antes de tudo, Köhler agradeceu os membros do colégio eleitoral que votaram nele e disse que pretende convencer com seu trabalho aqueles que não lhe deram seu voto. "Desejo ser o presidente de todos os alemães e um presidente de todas as pessoas que aqui vivem", declarou referindo-se aos estrangeiros que representam quase 9% da população do país.
"A Alemanha me deu tanto. Quero retribuir. Eu amo nosso país", continuou o democrata-cristão, numa declaração de patriotismo rara entre os alemães. Köhler justificou: "Patriotismo e internacionalismo não são opostos. Eles estão condicionados um ao outro. Quem não cuida de si mesmo, não cuida dos outros."
Globalização em benefício dos pobres
O economista que fez carreira como assessor de governos e dirigente de instituições considera a Alemanha atrasada em suas reformas estruturais e acrescentou estar preocupado com a economia, o mercado de trabalho e a segurança social. Disse ver um "novo racha na sociedade alemã inaceitável". Köhler defendeu que a Alemanha faça o dever de casa para melhor aproveitar as oportunidades da globalização.
"A globalização, entretanto, também têm de favorecer os pobres. A Alemanha deve abrir seus mercados para os países em desenvolvimento e, assim como outras nações industrializadas, mudar sua atitude", acrescentou o futuro presidente, nascido no início da Segunda Guerra Mundial em território polonês ocupado pelas tropas hitleristas.
Educação, idéias e crianças
Köhler respaldou a opção recente do governo social-democrata e verde de priorizar a educação e a inovação científica, mas não deixou de alfinetar: "A Alemanha caminha, para meu gosto, devagar demais para a sociedade do conhecimento." O país precisa de idéias e de experimentá-las, observou.
Mas necessita primeiro se transformar também num país de crianças, ressaltou, numa crítica à baixa taxa de natalidade, que contribui para o envelhecimento da população e o déficit no sistema previdenciário. "Crianças são pontes para o mundo de amanhã", disse. Segundo ele, a sociedade alemã tem de se esforçar para se tornar um ambiente favorável às crianças. Família e profissão devem ser objetivos compatíveis.