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CriminalidadeEstados Unidos

Ex-namorada de Epstein é condenada por tráfico sexual

30 de dezembro de 2021

Socialite britânica Ghislaine Maxwell é considerada culpada por ajudar o milionário americano a abusar sexualmente de adolescentes. Procurador elogia mulheres que testemunharam sobre "um dos piores crimes imagináveis".

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Ilustração mostra Ghislaine Maxwell em tribunal
Ilustração mostra Ghislaine Maxwell em tribunal. Defesa alega que socialite serviu de "bode expiatório"Foto: Jane Rosenberg/REUTERS

A socialite britânica Ghislaine Maxwell, ex-namorada e braço direito do milionário Jeffrey Epstein, morto em 2019, foi considerada culpada pela Justiça americana nesta quarta-feira (29/12) por recrutar e aliciar meninas adolescentes para serem abusadas pelo megainvestidor americano.

O veredicto foi a conclusão de um mês de julgamento, que incluiu relatos sórdidos de exploração sexual de meninas a partir dos 14 anos de idade, feitos por mulheres que descreveram os abusos sofridos de 1994 a 2004. Elas teriam sido abusadas em mansões de Epstein na Flórida, em Nova York e no Novo México.

O júri de um tribunal em Nova York considerou Maxwell culpada por cinco dos seis crimes de que foi acusada, sendo o mais grave deles o de tráfico sexual de menor. Com as penas máximas para cada uma das condenações variando entre cinco e 40 anos de prisão, a socialite provavelmente passará longos anos atrás das grades. Uma data para a leitura da sentença ainda não foi marcada.

"Um dos piores crimes imagináveis"

A condenação é uma vitória para mulheres que passaram anos lutando em tribunais civis para que a socialite fosse responsabilizada por seu papel de recrutar e aliciar as vítimas adolescentes de Epstein e às vezes participar dos abusos.

Uma das vítimas, Anne Farmer, disse estar grata pelo fato de o júri ter reconhecido o "padrão de comportamento predatório" de Maxwell.

"Ela causou sofrimento a muito mais mulheres do que as poucas de nós que tiveram a chance de testemunhar no tribunal", disse Farmer. "Espero que este veredicto traga consolo para todos os que precisam e demonstre que ninguém está acima da lei. Mesmo aqueles com grande poder e privilégio serão responsabilizados quando abusarem sexualmente e explorarem jovens."

O procurador dos EUA Damian William elogiou as mulheres que testemunharam contra Maxwell após serem vítimas do que chamou de "um dos piores crimes imagináveis".

A defesa havia insistido que Maxwell foi vítima de um processo vingativo, servindo de "bode expiatório" para trazer justiça a mulheres que ficaram privadas de seu principal vilão quando Epstein se matou em 2019, aos 66 anos, enquanto aguardava para ser julgado por crimes sexuais. Maxwell foi presa no ano seguinte.

Peça-chave de esquema de abuso

Durante o julgamento de Maxwell, promotores pediram que 24 testemunhas dessem detalhes sobre a vida dentro das mansões de Epstein, que intrigava a opinião pública desde que foi preso em 2006, na Flórida, num caso de abuso sexual infantil.

Um empregado disse que era esperado que ele fosse "cego, surdo e ignorante" quanto à vida privada de Epstein, um financista que cultivava amizades com políticos influentes e magnatas dos negócios, e de Maxwell, filha do magnata da mídia Robert Maxwell e que cresceu em meio a riqueza, privilégios e amizade com a realeza.

Pilotos afirmaram que nomes como os do príncipe britânico Andrew, Bill Clinton e Donald Trump voaram nos jatinhos particulares de Epstein.

Jeffrey Epstein e  Ghislaine Maxwell
Jeffrey Epstein e Ghislaine MaxwellFoto: US Attorney Office/Zuma/picture alliance

A promotora Alison Moe disse que Maxwell era a peça-chave do esquema de Epstein para atrair meninas para lhe fazer massagens, durante as quais ele teria abusado sexualmente delas.

Os jurados encontraram evidências concretas, como uma mesa de massagem dobrável usada por Epstein e um livro que continha informações de contato de algumas das vítimas. Registros bancários mostram que o megainvestidor transferiu 30,7 milhões de dólares para Maxwell, que foi sua namorada e depois funcionária e amiga.

Detalhes sobre abusos

Mas o cerne do processo foi o testemunho de quatro mulheres que disseram ter sido vítimas de Maxwell e Epstein quando meninas. Além de Anne Farmer, que decidiu usar seu nome verdadeiro, as outras três preferiram testemunhar com apenas o primeiro nome ou pseudônimos: Jane, uma atriz de TV; Kate, ex-modelo do Reino Unido; e Carolyn, hoje uma mãe se recuperando da dependência de drogas.

Elas relataram como Maxwell usava seu charme e presentes para ganhar a confiança das jovens, dando a elas garantias de que Epstein poderia usar sua fortuna e suas conexões para realizar os sonhos delas.

As mulheres contaram que Maxwell as persuadia a fazer em Epstein massagens que se tornavam sexuais, encontros que a socialite tentava pintar como normais. Depois de uma massagem sexual, Kate, então com 17 anos, disse que Maxwell perguntou-lhe se ela tinha se divertido e lhe disse: "Você é uma garota tão boa.''

Carolyn contou que era uma das várias adolescentes desprivilegiadas que moravam perto da casa de Epstein na Flórida no início dos anos 2000 e aceitou uma oferta para fazer massagens em troca de notas de 100 dólares.

Maxwell fez todos os arranjos, disse Carolyn ao júri, mesmo sabendo que a garota tinha apenas 14 anos na época. Jane disse que em 1994, quando ela também tinha apenas 14 anos, foi instruída a acompanhar Epstein na propriedade dele em Palm Beach, e ele masturbou-se sobre ela.

Última a testemunhar, Farmer descreveu como Maxwell tocou seus seios enquanto lhe fazia uma massagem na propriedade de Epstein no Novo México e como ele rastejou inesperadamente para a cama e pressionou seu corpo contra o da jovem.

Mais acusações

Maxwell, de 60 anos, negou veementemente todas as acusações por meio de seus advogados. A defesa questionou se os relatos das testemunhas teriam sido influenciados por advogados.

A família da socialite reclamou das condições na prisão no Brooklyn onde ela está presa desde julho de 2020.

A ex-companheira de Epstein ainda aguarda julgamento por duas acusações de perjúrio (falso testemunho) relacionadas ao depoimento que deu em 2016 num caso de difamação apresentado por Virginia Giuffre, que alega que Epstein a "emprestava" para fazer sexo com ricos e poderosos, incluindo o príncipe Andrew. Maxwell teria presentado Epstein ao príncipe, que nega as acusações.

lf (AP, AFP)