Exportando armas para regiões de crise
13 de dezembro de 2005A indústria bélica alemã é a quarta maior exportadora de equipamentos do mundo. Esta informação consta do relatório da Conferência Unificada Igreja e Desenvolvimento (GKKE), que reúne representantes católicos e luteranos, além de especialistas de organizações científicas e ONGs.
De acordo com os dados recolhidos, somente a Rússia, os Estados Unidos e a França teriam exportado mais armamentos que a Alemanha. O balanço da política armamentista do ex-governo da coalizão social-democrata e verde foi considerado pelo estudo "decepcionante e fraco".
O presidente do GKKE, Karl Jüsten, critica ainda o novo governo federal por evitar se comprometer com uma política restritiva de exportação de armamentos.
Barril de pólvora
O documento lança sobretudo a pergunta de como a exportação de armas pode ser compatível com metas de ajuda ao desenvolvimento. Um terço das vendas iria para nações que, por outro lado, estão recebendo assistência.
"A venda de armas coloca em risco as chances de uma ajuda efetiva e contrasta com as declarações do governo alemão sobre as políticas de desenvolvimento", ressalta Jüsten.
O relatório conjunto das Igrejas católica e luterana destaca que o interesse de alguns destes países em tecnologia, software e produção de armamentos é interpretado, em conseqüência disso, como um fomento para a criação de novas indústrias bélicas locais.
Além disso, os armamentos são também fornecidos para regiões de conflito, por exemplo, no Oriente Médio e na Ásia, o que beneficiaria a corrida armamentista regional. "A presente crise no Iraque mostra que as atuais transferências de armas são indicadores para conflitos futuros", explica Bernhard Moltmann, do Instituto de Pesquisa pela Paz de Frankfurt.
Números
As licenças de exportação podem ter caído de 4,8 bilhões de euros para 3,8 bilhões entre 2003 e 2004, mas mesmo assim o volume negociado excede em muito o da última década, quando a Alemanha era governada pelo chanceler Helmut Kohl.
Também problemática é a disseminação do comércio de pequenas armas, que, segundo a Conferência Unificada Igreja e Desenvolvimento, é "um produto da ilegalidade". Estas armas seriam responsáveis por numerosas vílimas em todo o mundo.
Transparência
Parece que pouco ser alterará com o governo de Angela Merkel. O representante da Igreja luterana, Stephan Reimers, lembrou "com consternação, que as negociações da recente coalizão deixaram de lado a questão da exportação de armas". Até o momento, o novo governo se reservou de concordar com qualquer política restritiva.
Em 1988, os ministros das Relações Exteriores dos 15 integrantes da União Européia adotaram um código de conduta, visando estabelecer padrões para o gerenciar e refrear as exportaç õesde armamentos a partir da Europa.
"Em nível europeu, atingimos uma transparência satisfatória, o que está longe de se aplicar à Alemanha", admite Bernhard Moltmann. " As decisões relacionadas à exportação de armas são tomadas pelo conselho de segurança alemão, a portas fechadas", critica. Para Moltmann, o Parlamento pecisa ter papel mais ativo no tocantes às licenças para exportação.