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Megacidades africanas

13 de novembro de 2010

Mais da metade da população mundial vive agora em cidades, tendência que é refletida pelo rápido crescimento das metrópoles africanas. Exposição em Colônia documenta esse processo, focando jovens e produção artística.

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Vista de Lagos, capital da NigériaFoto: picture alliance/dpa

A buzina dos carros, o barulho dos ônibus e o grito dos vendedores anunciando suas mercadorias: esse é o dia-a-dia em uma rodoviária em Lagos. Os sons da capital nigeriana fazem parte da exposição Afropolis: cidade, mídia, arte, que o recém-inaugurado Museu Rautenstrauch-Joest, em Colônia, apresenta até março de 2011.

O artista acústico nigeriano Emeka Ogboh instalou um alto-falante na Biblioteca Pública de Colônia, promovendo um diálogo sonoro entre a cidade renana e Lagos. "É um cadinho com todos os tipos de sons", disse Ogboh. "Nessa rodoviária, você descobre o multiculturalismo e as atividades econômicas de Lagos. Isso incorpora todo o ser da cidade."

Desenvolvimento vertiginoso

Afropolis Flash-Galerie
Loja de figuras de gesso em bairro do CairoFoto: Kerstin Pinther

A mostra aborda o rápido ritmo de crescimento das metrópoles africanas, que atinge até 4% ao ano – o maior do mundo, segundo os organizadores da mostra. As cidades do Cairo, Lagos, Nairóbi, Kinshasa e Johanesburgo recebem destaque especial na exposição.

"O que nos interessa em particular é observar também o que acontece quando o mundo se torna cidade, quando tudo ou quase tudo é urbanizado. Há outros modelos, para além dos euro-americanos, e isso é o que tentamos analisar, através desses trabalhos artísticos", afirmou a curadora Kerstin Pinther, que concebeu a exposição.

Afropolis apresenta Nairóbi, por exemplo, como uma cidade cheia de oposições extremas. Bairros abastados fazem divisa direta com os barracos de zinco de enormes favelas. O grupo de artistas Slum-TV mostra, através de uma mistura de desenho animado e novela, como os moradores das favelas de Nairóbi dão conta de sua própria administração e se sustentam com o comércio ambulante ilegal.

Imagem negligenciada da África

Afropolis Flash-Galerie
Arranha-céu em Kinshasa, na República Democrática do CongoFoto: Junior Diatezua Kannah

A exposição almeja focalizar aspectos da cultura africana frequentemente ignorados na representação pública do continente. Segundo Pinther, "durante muito tempo, a etnologia e as ciências, entre outros, divulgaram uma imagem rural da África, com uma arte estática e atrelada à tradição. O que tentamos mostrar aqui o polo oposto, uma África extremamente contemporânea, com suas culturas urbanas e uma cena extremamente jovem".

Pontos de vista europeus também foram intencionalmente levados em consideração. Dois artistas dinamarqueses executaram a maquete de um dos bairros mais benquistos do centro do Cairo. Ele está ameaçado pelo planejamento urbano da cidade, que quer transformá-lo em centro de atração turística. Em resposta às planejadas modificações, a maquete dos artistas incorpora as aspirações e desejos dos moradores locais.

O poeta Kgafela oa Magogodi, de Johanesburgo, também conhece o problema dos supostos embelezamentos urbanos, que recebeu grande atenção sobretudo durante a Copa do Mundo de 2010.

"De certa forma, os governos africanos tentam mostrar uma boa imagem ao mundo através de suas cidades. Mas eles esquecem de fazer o mesmo para sua própria população, quer dizer, basicamente: acomodá-la e encontrar para ela um lugar na cidade", disse o poeta.

Resposta a Merkel

Afropolis Flash-Galerie
Kgafela oa Magogodi: africanos devem se importar menos com o mundoFoto: Kgafela oa Magogodi/Jyoti Mistry

Para mostrar como encontraram seu lugar nas metrópoles africanas, os artistas lançam mão em Afropolis de fotografias, textos, filmes e até mesmo blogs. Segundo Emeka Ogboh, as megacidades são caracterizadas principalmente pela convivência multicultural. Por esse motivo, o artista acústico está ansioso para ver as reações a sua instalação em Colônia.

"Acho interessante que ela possa ser escutada nas ruas alemãs, especialmente no contexto do discurso de Angela Merkel sobre integração, migração e multiculturalismo", disse Ogboh. Em outubro último, a chefe de governo alemã declarara que as tentativas de construir uma sociedade multicultural na Alemanha "fracassaram totalmente".

Para Ogboh, os sons bizarros de sua instalação poderiam ser comparados a imigrantes chegando a um novo lugar. Ele comenta que outras pessoas percebem como simples barulho aquilo que ele preza como composição e expressão da complexa convivência na megacidade.

Este parece ser o caso de alguns passantes de Colônia. O porteiro da biblioteca pública da cidade conta que algumas pessoas já reclamaram dos estranhos ruídos.

Afropolis pode ser vista até 13 de março de 2011 no Museu Rautenstrauch Joest de Colônia.

Autor: Jan Bruck (ca)
Revisão: Augusto Valente