Mundo do storyboard
13 de setembro de 2011O teórico e crítico italiano Ricciotto Canudo foi o primeiro a chamar o cinema de "a sétima arte" em seu manifesto escrito em 1911. A popular forma de arte e entretenimento é uma junção de som, movimento, cor, volume, representação e palavra, ou seja música, dança, pintura, escultura, teatro e literatura.
Quando assistimos a um filme, todo esse processo parece simples e quase natural, como se os mínimos detalhes, gestos, movimentos, cores e cortes não fossem pensados. Parte essencial dessa concepção são os storyboards, uma sequência de ilustrações ou imagens que ajudam a pré-visualizar um filme.
A exposição Entre Cinema e Arte. Storyboards de Hitchcock a Spielberg reúne pela primeira vez em Berlim mais de 80 anos de história do cinema através dessa ferramenta. Dos mais elaborados aos mais simples, esses storyboards nos mostram através de outra perspectiva como filmes são concebidos e executados.
História em quadrinhos
Os primeiros storyboards surgiram na década de 1920, mas quem desenvolveu essa técnica da forma como a conhecemos hoje foram os estúdios Walt Disney no começo da década seguinte. O primeiro filme a ter um storyboard completo foi Os três porquinhos, em 1933.
No final dessa década, todos os estúdios usavam a ferramenta. Similar a uma história em quadrinhos, os storyboards representam a ação que acontece diante das câmeras, assim como os movimentos da mesma, em uma série de imagens.
Um dos primeiros filmes de ficção que foram totalmente concebidos com storyboards foi E o Vento Levou, de 1939. O clássico hollywoodiano também faz parte da mostra. O poderoso produtor David O. Selznick queria o storyboard completo do filme antes da filmagem. Para ele, essa era a única maneira de planejar o visual do filme e alcançar a dramaticidade necessária para contar a história. Só para a sequência do incêndio em Atlanta foram criadas mais de 60 pinturas feitas com aquarela.
A técnica da concepção dos storyboards é diferente de filme para filme. Em alguns casos como no filme Taxi Driver o próprio diretor Martin Scorsese fez os desenhos de maneira simples e direta, pensando mais claramente nos movimentos de câmera e na ordem das cenas.
Já os desenhos feitos para o filme alemão Homens sem lei, de 1929, revelam o lado sombrio da trama. Por outro lado, o visual e o clima onírico do musical Sapatinhos vermelhos, de 1948, é retratado em um storyboard com diferentes técnicas e cheio de cores. O diretor de arte Hein Heckroth chegou até mesmo a animar algumas sequências para convencer os diretores sobre o visual da cena de balé.
Arte e efeitos especiais
Outra função dos storyboards é ajudar atores e equipe a entenderem como será o resultado final do filme depois da pós-produção e efeitos especiais. Alfred Hitchcock desenvolveu com Harold Michelson o storyboard de Os Pássaros. A qualidade artística se uniu ao método de planejamento de filmagem de Hitchcock e o resultado foi mais do que perfeito.
Outro diretor que utiliza o recurso para aprimorar e dar mais realismo às cenas com efeitos especiais é Steven Spielberg. Dois de seus filmes fazem parte da exposição com imagens bem diferentes. O storyboard de Inteligência artificial foi concebido enquanto o diretor do filme ainda era Stanley Kubrick. Nas imagens vemos grandes cenários que não chegaram à versão final do filme. Já os impressionantes desenhos de Os cavaleiros da arca perdida revelam assustadores fantasmas que, antes de ganhar vida nas telas, ganharam vida no contraste entre o fundo preto e as cores fluorescentes.
Além do storyboard e de cenas de 21 clássicos do cinema a mostra ainda conta com 26 obras de diversos artistas, como os norte-americanos Paul McCarthy e Andy Warhol, que se relacionam com os filmes e as ilustrações.
Dos mais artísticos aos mais rudimentares, esses storyboards ajudam-nos a entender como gênios do cinema transformam, através de desenhos, palavras em imagens.
A exposição Entre cinema e arte. Storyboards de Hitchcock a Spielberg poderá ser visitada no Museu do Cinema em Berlim até 27 de novembro.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque