Exposição mostra cem rostos da Europa jovem
17 de outubro de 2013Ele poderia ser um juiz de futebol, com suas longas meias pretas, calção até os joelhos e camisa pretos. Um jovem esportivo, de cabelos escuros e rosto redondo. Ele parece estar indo embora e, apesar do semblante desconfiado, olha para a câmera de maneira tranquila. Seu nome é Daniel e ele nasceu em 1989, embora pareça mais velho. A única informação sobre ele nos é revelada pela legenda da foto: estudante.
O fotógrafo Edgar Zippel não revela a nacionalidade dos cem jovens entre 18 e 24 anos que ele fotografou ao longo de cinco anos na Moldávia, Polônia, Islândia, Reino Unido, Portugal, Itália e Alemanha.
Seria Daniel do leste da Europa? Ou talvez da Islândia? Os visitantes da exposição "Retratos de Jovens Europeus", no Museu das Culturas Europeias em Berlim, são confrontados com seus próprios preconceitos, já que o segundo plano da foto não revela muitas coisas. Os rostos, as roupas e os nomes são as pistas para o público tirar suas conclusões e até mesmo se surpreender, como na foto de Maria, vestida com calças jeans e chapéu de cowboy. Só descobrimos que a jovem é alemã graças ao catálogo da exposição, que revela onde as fotos foram feitas.
Os jovens europeus hoje
A exposição segue a tradição das imagens etnográficas. Representando diferentes profissões e classes sociais, a mostra é uma espécie de arquivo da juventude europeia no começo do século 21. Como são os jovens hoje? Como eles se apresentam? Há diferenças regionais significativas? Pelo contrário, há muitas semelhanças.
Códigos globais de vestimenta são seguidos tanto pelos jovens da Moldávia como pelos de Portugal. Pescadores usam a mesma roupa de em todo o continente. E o bancário Karim, de Londres, vestindo terno e falando no telefone celular encostado em um carro, poderia vir de qualquer capital da Europa.
Embora códigos de vestimenta e símbolos de status fiquem cada vez mais idênticos, a exposição evita estereótipos. O que fascina é a individualidade dos rostos, que olham diretamente para o espectador – geralmente de uma maneira tranquila.
As pessoas nessa faixa etária são, geralmente, mais abertas e espontâneas, diz o fotógrafo: "Acredito que o rosto possa revelar muito sobre uma pessoa". E muitas histórias estão escritas nesses rostos. A testa franzida e o olhar profundo mostram a luta diária pela sobrevivência de Miguel, que toca acordeão ao lado de seu cachorro nas ruas de Lisboa.
Imagens espontâneas
Zippel escolheu os países onde iria fotografar. Alguns, como a Romênia, ele já conhecia, outros ele visitou pela primeira vez. Ele abordou as pessoas nas ruas e se surpreendeu que a maioria gostou de ser fotografada. Ele só teve que usar todo seu charme para convencer Ana, uma policial de Lisboa, a ser retratada. Ela tirou seu crachá de identificação e se deixou fotografar de maneira casual, com seu polegar sobre o cinto do uniforme.
Nem todas as fotos são imagens aleatórias. Zippel buscou a ajuda de assistentes e amigos para encontrar jovens de certas profissões e em situações específicas relacionadas aos seus países.
"Na minha cabeça, eu tinha a imagem de uma jovem italiana em uma lambreta, possivelmente falando no celular", disse. Em um domingo, o fotógrafo visualizou este motivo em um povoado nas montanhas da Sardenha. Mas na segunda-feira, quando saiu para fotografar, não encontrou mais as jovens. Essa foto, como muitas outras, não se tornaram realidade.
O fotógrafo não apenas captou o rosto desses jovens, mas também os perguntou: O que você quer fazer da vida? O que espera do futuro? Quais são seus medos? As respostas podem ser lidas na exposição. Apesar de todas as diferenças, os desejos dos jovens europeus são semelhantes.
Profissão e família são prioridades. Mais interessantes são seus medos. Orufire, um monge ortodoxo romeno, de barba preta, olhar claro e confiante, teme o "Juízo Final". Mattia, um pastor de ovelhas italiano, tem medo de não alcançar seus sonhos. Uma preocupação que ele divide com muitos outros jovens europeus.
Sem medo de nada
"Tenho medo de uma vida desperdiçada", confessou uma professora de escola primária polonesa ao fotógrafo. Uma declaração surpreendente para alguém de apenas vinte e poucos anos. Outra surpresa é como os jovens são confiantes em relação ao futuro. Muitos declararam "não terem medo de nada". Foi o que disse Daniel, o atlético estudante romeno.
Essas frases e rostos mostram a força surpreendente dos jovens europeus, mesmo vindos de países castigados pela a crise financeira. Apesar de muitas fotos terem sido feitas há três ou quatro anos, elas não retratam uma geração perdida. São imagens que dão esperanças a todos os europeus.
A mostra pode ser vista até 27 de abril de 2014 no Museu das Culturas Europeias em Berlim