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Extração de gás no Mar do Norte gera disputa na Alemanha

26 de agosto de 2024

Multinacional holandesa quer explorar gás natural em região próxima a Patrimônio Mundial da Unesco. Empreendimento abre divisão no governo alemão e é criticado por ambientalistas.

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Barco do Greenpeace protesta contra o campo de gás holandês, próximo à ilha de Borkum, na Alemanha
Campo de gás holandês próximo à ilha de Borkum, na Alemanha, gera protestosFoto: Lars Penning/dpa/picture alliance

Quem olha para o horizonte a partir da praia da ilha favorita dos alemães, Borkum, consegue ver o início da construção de uma plataforma no Mar do Norte. É deste local que a multinacional One-Dyas, da Holanda, planeja extrair gás natural.

O ponto de extração fica em território holandês, logo após a fronteira com a Alemanha. Os furos de sondagem serão perfurados a uma profundidade de três quilômetros e meio. O gás fluirá por um gasoduto próprio, para ser distribuído na Holanda. O país quer iniciar a exploração na plataforma Feld N05A ainda neste ano.

Na Alemanha, porém, o plano causou alvoroço, porque os holandeses também planejam extrair gás das profundezas do mar em território alemão. Inicialmente o projeto teve sinal verde das autoridades do estado alemão da Baixa Saxônia, onde fica a ilha de Borkum.

Mas o prefeito de Borkum, Jürgen Akkermann, disse que pretende revisar o plano. Ele teme os impactos que a extração pode causar na ilha, um lugar que atrai turistas por causa de sua beleza natural. Borkum fica no meio do Mar de Wadden, um Patrimônio Mundial da Unesco.

Gás de fontes locais é mais sustentável?

A Secretaria de Economia da Baixa Saxônia afirma que a Alemanha e a Holanda vão depender do gás como fonte de energia nos próximos 20 anos, ainda que sua extração seja danosa ao clima a longo prazo, alegando que seria mais sustentável extraí-lo de fontes locais, do que importá-lo por navios-tanque de países distantes.

Embora a empresa holandesa tenha total apoio do novo governo de direita da Holanda, a decisão final entre os alemães cabe ao ministro de Economia e Energia, Robert Habeck, do Partido Verde.

Se o projeto for realmente aprovado, a Alemanha e a Holanda terão que assinar um acordo de cooperação. No entanto, Habeck está ganhando tempo. Para o ministro, o empreendimento não é fundamental para o suprimento de energia da Alemanha. Ele também aguarda possíveis desdobramentos legais que possam resultar da ação de associações de proteção ambiental, que planejam judicializar o projeto.

Imagem aérea da ilha de Borkum, na Alemanha
A ilha de Borkum, localizada no Mar de Wadden, Patrimônio Mundial da Unesco, pode ser ameaçada por projeto de extração de gás na regiãoFoto: imagebroker/IMAGO

O especialista em clima da ONG ambiental Greenpeace, Martin Kaiser, disse à DW que os ministros responsáveis e o chanceler federal alemão em Berlim deveriam dar prioridade máxima ao projeto. "Se eles realmente chegarem a um acordo com a Holanda para explorar o campo de gás na região, eles estarão do lado errado da história na crise climática. A Alemanha não precisa de mais gás, a perfuração não está de acordo com as metas climáticas internacionais e os protestos em massa contra ela mostram que as pessoas não a querem", argumenta.

Um cenário energético completamente novo

A disputa pelo gás mostra como o fornecimento de energia da Alemanha mudou drasticamente em apenas dois anos e meio. Em janeiro de 2022, o país ainda importava quase 6.000 gigawatts-hora de gás.A maior parte vinha da Rússia, seguida pela Noruega, Bélgica e Holanda.

Dois anos depois, apenas 2.000 gigawatts-hora de gás são importados pela Alemanha, reflexo da invasão russa à Ucrânia, que levou ao ao corte do fornecimento de gás pela Rússia.

A Noruega é agora o principal fornecedor alemão, seguida pela Bélgica e pela Holanda. A Alemanha também importa gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos, para o qual foram construídos terminais flutuantes para descarregar os navios-tanque.

Antes do ataque russo à Ucrânia, por décadas, a Alemanha não levava em conta explorar suas fontes de gás locais. O gás vinha da Rússia de forma confiável e barata. Portanto, projetos de extração doméstica eram rejeitados, inclusive por partidos conservadores. A própria parceria com a Holanda vinha sendo rejeitada há anos.

Agora, para o líder do partido conservador União Democrata Cristã (CDU) no Parlamento alemão, Jens Spahn, a Alemanha deveria se tornar mais independente de outros países no fornecimento de energia. Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, ele criticou o que chamou de "padrão duplo" encampados pelo Partido Verde e pelo Partido Social Democrata da Alemanha (SPD). Segundo ele, é contraditório a Alemanha importar gás natural liquefeito dos EUA, energia nuclear da França, e ao mesmo tempo combater "um pequeno e produtivo campo de gás" local.

Em Berlim, porém, tanto o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do SPD, quanto o ministro das Finanças, Christian Lindner, do Partido Liberal Democrático (FDP), seriam a favor do projeto. Scholz disse à uma emissora de rádio alemã que presumia que a exploração deveria começar em breve. "Há autorizações do lado holandês. Há autorizações do lado alemão", afirmou. Para ele, é improvável que o projeto não seja realizado.

Manifestações em Berlim

Habeck conta atualmente com o apoio de sua colega de partido, a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke. "Estou preocupada com a possível produção de gás perto do sensível Parque Nacional do Mar de Wadden em termos de proteção marinha. O Mar do Norte já está sendo explorado em excesso, e qualquer instalação industrial adicional no mar representa um risco para os animais e plantas marinhos", disse ela.

Essa também é a opinião de grupos ambientais, que no início desta semana se manifestaram contra o projeto em frente ao Ministério de Economia, em Berlim. Em Borkum, também ocorrem protestos contra o plano de extração de gás da ilha.