Livros em Colônia
11 de março de 2010Além de ser um devorador de livros, Rainer Osnowski é um dos três diretores da lit.Colonge. Para ele, o prazer de ler um bom livro não pode ser substituído, mas pode se tornar ainda maior através de um festival de literatura. A leitura no meio de multidões, nos teatros, em praça pública – esse é seu projeto.
Há 10 anos, ele fundou com os amigos Edmund Labonté e Werner Köhler o festival de literatura em Colônia, transformando a leitura em uma festa popular. Uma vez por ano, os três celebram a literatura, fazendo-a brilhar e aparecer na mídia. Lá, não é o público especializado que se encontra com os autores, mas todos os outros públicos.
Nesta quinta-feira (11/03), um dos pontos altos dos eventos que acontecem no contexto do festival é o encontro entre a escritora romeno-alemã Herta Müller, Nobel de Literatura em 2009, e o celebrado artista chinês Ai Weiwei, diante da plateia do teatro Schauspielhaus de Colônia.
Maior festival da Europa
Já no primeiro ano, 30 mil pessoas visitaram a lit.Cologne, o que surpreendeu os três diretores. Festivais desse formato ainda não existiam na Alemanha e a ideia de oferecer diversos recitais numa só noite parecia um pouco estranha. Entrementes, existem vários festivais de literatura na Alemanha e na Europa, quer de grande porte, como o de Berlim, quer menores.
Neste ano, os iniciadores da lit.Cologne esperam mais de 80 mil visitantes. Assim, ele poderá se denominar o maior festival de literatura da Europa. Durante os 11 dias do festival, acontecerão mais de 175 eventos. "É claro que é um excesso de oferta", admite Osnowski. Mas as pessoas não devem se perguntar se vão à lit.Cologne, e sim a qual evento específico, explicou.
Além dos tradicionais recitais de leitura, neste ano, o festival será acompanhado por jazz e até mesmo ópera, além de uma maratona de leitura de 24 horas no centro da cidade de Colônia. Autores proeminentes também atraem o público. Segundo Osnowski, todos desejam ver de perto seu autor predileto.
No programa, estão autores internacionais de renome, como o escritor inglês Nick Hornby e o espanhol Javier Marías, como também escritores alemães destacados, como Martin Walser e a prêmio Nobel de Literatura de 2009, Herta Müller.
Política e entretenimento
Apesar de toda a propaganda em torno da leitura, os organizadores afirmam que a proposta da lit.Cologne não é vender livros. Essa é tarefa das grandes feiras em Frankfurt e em Leipzig. Mesmo assim, as grandes editoras estão, naturalmente, presentes em Colônia.
Os organizadores do festival também veem o evento como "um statement político", disse Osnowski. Em 2010, principalmente a China faz parte dessa afirmação. O governo chinês proibiu novamente a viagem do escritor chinês Liao Yiwu à Alemanha. Por isso, em vez de seu recital de leitura, o festival promoverá uma roda de discussões sobre os direitos humanos na China.
Também é proposta do festival intrometer-se em discursos como o da crise financeira global. A teórica da cultura Christina von Braun debaterá o tema com a empresária Christine Novakovic, que pertenceu à diretoria do Citibank. "De forma proposital, neste ano, deixamos o tema ser discutido por duas mulheres e não por homens, que afinal de contas foram os responsáveis pela crise", explicou Osnowski.
Herta Müller encontra Ai Weiwei
Além disso, a equipe de Osnowski conseguiu reunir a Prêmio Nobel Herta Müller com o artista Ai Weiwei. Os dois se encontram no teatro Schauspielhaus de Colônia para discutir se a arte pode, precisa ou tem de ser política. Weiwei e Müller têm muito que conversar. Ambos cresceram em regimes totalitários e foram vítimas deles.
Na Romênia, Herta Müller foi professora e, ao se recusar a trabalhar para o serviço secreto do país, perdeu o emprego. Após interrogatórios e buscas em seu apartamento, ela deixou sua pátria e emigrou para a então Berlim Ocidental. Em seus romances, a Nobel de Literatura processa as vivências por quais ela e sua família passaram.
Ai Weiwei, um dos mais renomados artistas contemporâneos, ousa falar abertamente na China sobre os abusos que acontecem no país. Em seu blog, ele escreve sobre a arbitrariedade do governo chinês, lembrando, por exemplo, das crianças vítimas do terremoto na província de Sichuan, em 2008, devido à má qualidade da construção de edifícios escolares, fato que as autoridades chinesas quiseram ocultar.
Autora: S. J. Hofmann / B. Geschwinde / C. Albuquerque
Revisão: Augusto Valente