Festival em Berlim foca na cultura produzida em diversos países do Pacífico
20 de julho de 2013Como uma área tão diversa e vasta como o Pacífico, dotada de uma história milenar e uma geografia cheia de vulcões e praias paradisíacas, pode encontrar uma unidade para sobreviver social, cultural e economicamente num mundo cada vez mais globalizado?
Essa é uma questão complexa e de difícil resposta, mas que o festival Wassermusik 2013 – o novo Pacífico quer levantar em Berlim através da cultura, e principalmente da música.
Em 2011, o presidente dos EUA, Barack Obama, nascido no Havaí, declarou que o Pacífico é o novo centro do poder global. Questões relacionada à tradição e à história se entrelaçam aos problemas ambientais gerados pela indústria do turismo e pelo constante movimento de embarcações que conectam não só dois lados do mundo, mas também duas de suas maiores potências, os Estados Unidos e a China.
Em suas mais de quatro semanas, o festival tentar ouvir de perto as vozes vindas das mais diversas e remotas regiões banhadas pelo grande oceano. Shows ao ar livre, filmes, discussões, feiras e workshops tomam conta da Casa das Culturas do Mundo nas próximas semanas.
Ligados pelo oceano
Os debates que precederam a abertura do evento, nesta quinta-feira (18/07), buscavam reunir diferentes facetas e características para tentar concretizar esse continente imaginário. Além de escritores, teóricos e especialistas em cultura e meio ambiente, os debates contaram com a participação do cartunista Pablo Lentile, que ilustrava ao vivo os temas abordados.
"Sabemos pouco sobre uma região que representa 35% da área total do globo. Em nossas cabeças, temos imagens idealizadas de um paraíso do outro lado do mundo", disse o escritor alemão Martin Jankowski durante os debates.
Fascinado pela cultura da região, ele apresentou algumas de suas viagens por meio de fotos em que tentava mostrar algumas características comuns do cotidiano em vários países da região.
"Esses países têm uma conexão muito forte com o oceano, o que gera uma interconexão ambiental. O mundo da Oceania não é pequeno, e características dessas relações com o oceano podem ser vistas no trabalho de escritores em Taiwan, em Okinawa (Japão) e no Havaí", disse o teórico cultural americano Rob Wilson.
A literatura despontou como um forte elemento cultural, que reflete não só o romântico apego à natureza, mas também questões de identidade, relacionadas a tradições e principalmente ao colonialismo.
Nesse painel de diversidade cultural, a herança escrita da literatura se une à música, ao cinema e ao artesanato como pedaços de um quebra-cabeça cultural que tem uma importância cada vez maior no cenário internacional.
Diversos sons, diversas praias
A música é, no entanto, a grande atração do festival, que tem seus shows em um palco ao ar livre. Uma das atrações é a banda Dengue Fever, formada pelo americano Zac Hotzman depois que ele contraiu dengue em uma viagem ao Camboja. Nesse período, ele desenvolveu uma admiração pelo pop feito no país nos anos 1970. O som da banda, que conta com a vocalista cambojana Chhom Nimol, mistura elementos do pop asiático com rock alternativo americano.
A mistura de pop asiático com elementos da música contemporânea também marca presença na música de novos artistas asiáticos. Vindo de Pequim, Nova Heart é o nome do projeto solo de Helen Feng. A ex-VJ da MTV já foi vocalista de diversas bandas e, em seu novo projeto, mistura batidas eletrônicas psicodélicas e vocais sexy e sombrios.
Formada em Hong Kong, Noughts & Exes mistura música folk e música alternativa. Em seu primeiro show em Berlim, a banda deve apresentar músicas de seu novo disco, que foi totalmente financiado através de crowdfunding.
Ao lado do australiano Robert Foster (The Go-Betweens), Julieta Venegas é uma das principais atrações do festival. Nascida em Los Angeles, a cantora de origem mexicana é um dos mais respeitados nomes da música latina por todo o mundo. A multi-intrumentista já gravou com artistas como Gustavo Santaolalla, Nelly Furtado e Marisa Monte. Suas referências musicais vão da composição pop de Suzanne Vega e David Bowie ao mariachi, reggae, ska e boleros mexicanos.
O festival ainda conta com shows do baixista indonésio Tomi Simatupang, acompanhando pelo coral da Casa das Culturas do Mundo; da big band futurista japonesa Shibusa Shirazu Orchestra; e da lenda do pop tailandês The Paradise Bangkok Molam International Band.
Os sons da América Latina aparecem nos shows dos Meriadian Brothers, que dedicam sua apresentação a uma desconstrução da cumbia peruana, também conhecida como chicha. Já a Mama Julia y Los Sonidos Ambulantes mostra variações de sons e ritmos afrocolombianos.
Para quem quer entrar no clima do Wassermusik antes de chegar à Casa das Cultura do Mundo, o evento oferece, em algumas datas, duas rotas em que o público pode chegar ao festival de canoa, no melhor estilo do Pacífico.
O "Wassermusik 2013 – o novo Pacífico" acontece na Casa das Culturas do Mundo em Berlim até 11 de agosto.