Fifa teve apenas oito presidentes em 112 anos
25 de fevereiro de 2016A Federação Internacional de Futebol (Fifa) escolhe, nesta sexta-feira (26/2), o nono presidente de sua história – ou 12º, se forem contados os interinos que assumiram por causa da morte ou afastamento do titular.
Fundada há 112 anos, a entidade máxima do futebol é marcada por dirigentes que ficaram por longo tempo na presidência. O mandato de 30 anos de Jules Rimet, os quase 20 anos de gestão inglesa, os 24 anos do controverso João Havelange e os desastrados 17 anos de Joseph Blatter mostram que a rotatividade nunca foi um modelo seguido pela Fifa.
Ao contrário, a concentração de poder parece ser uma das principais característcas da entidade máxima do futebol. A eleição deste ano é marcada pelo número recorde de cinco candidatos, que competirão pelos votos de 207 das 209 associações filiadas – uma vez que duas associações estão atualmente suspensas.
Os favoritos para assumir o comando do futebol mundial pelos próximos quatro anos são o suíço-italiano Gianni Infantino – secretário-geral da Uefa – e o xeique do Bahrein, Salman bin Ibrahim al-Khalifa. O príncipe da Jordânia, Ali bin al-Hussein, o diplomata francês Jérôme Champagne – ex-funcionário da Fifa – e o sul-africano Tokyo Sexwale correm por fora na disputa.
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Os primeiros anos
As associações de futebol de França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça fundaram a Fifa em Paris no dia 21 de maio de 1904. Os representantes destas organizações escolheram por unanimidade o jornalista francês Robert Guérin como primeiro presidente.
Guérin ficou três anos no cargo, dando lugar a Daniel Burley Woolfall – o primeiro dos três ingleses que estariam à frente da organização ao longo da história. Woolfall foi escolhido num congresso realizado em Berna, na Suíça. Ele ajudou a padronizar as regras do jogo internacionalmente e a organizar o torneio de futebol da Olimpíada de Londres, em 1908.
Woolfall morreu em 1918, e o holandês Carl Anton Hirschmann assumiu o seu lugar interinamente. Hirschmann esteve no cargo durante a Primeira Guerra Mundial, que praticamente interrompeu as atividades da Fifa.
A era Jules Rimet
Em 1920, o congresso realizado na cidade belga de Antuérpia deu continuidade ao ciclo dos mandatos longos na organização, com a eleição do francês Jules Rimet. Ele se tornaria o presidente com o mandato mais longo da história da Fifa: 33 anos, de 1921 a 1954.
Sua trajetória à frente da federação foi marcada pela promoção da primeira Copa do Mundo de Futebol, disputada em Montevidéu, no Uruguai, em 1930. A seleção anfitriã foi a vencedora do torneio. Após a Segunda Guerra Mundial, o francês foi homenageado pelos serviços prestados ao futebol. O troféu da Copa do Mundo foi batizado com seu nome.
Curiosamente, a taça Jules Rimet foi duas vezes roubada. Na primeira vez – antes da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra – ela foi enterrada e encontrada por um cachorro chamado Pickles. Em 1983, a peça foi roubada da sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, e supostamente derretida.
Inglaterra campeã
Rimet deixou a Fifa em 1954, quando renunciou, aos 80 anos. O francês foi substituído pelo belga Rodolphe William Seeldrayers, que morreu após um ano no cargo. O suíço Ernst Thommen assumiu a função interinamente por um ano. A partir deste momento, iniciou-se o domínio inglês na gestão do futebol mundial, que duraria quase 20 anos.
Arthur Drewy foi eleito no congresso de Lisboa, em 1956. Seu mandato foi marcado pela implementação de regras relacionadas às categorias amadoras e profissionais e a transferências de jogadores. O dirigente inglês morreu em 1961, sendo substituído por seu compatriota Stanley Rous, eleito no encontro extraordinário da organização, realizado em 1961 em Londres.
Rous, um ex-árbitro de futebol, comandou a Fifa por 13 anos – deixando o cargo em 1974, com 79 anos. Durante o seu mandato, a Inglaterra teve o seu único título mundial em uma Copa do Mundo, participando como anfitriã, em 1966.
A competição foi marcada pelo lance controverso e decisivo na partida final, quando jogaram Inglaterra e Alemanha Ocidental. No oitavo minuto da prorrogação, o inglês Hurst acertou um belo chute no travessão e a bola quicou em cima da linha. O árbitro suíço Gottfried Dienst deu gol para a Inglaterra.
"Fifa moderna"
Apenas europeus estiveram à frente da organização até a ascensão do brasileiro João Havelange, em 8 de maio de 1974, no congresso de Frankfurt. Ele venceu a eleição derrotando o então presidente Stanley Rous, prometendo financiar o futebol e levar a Copa para países da Ásia e da África.
Durante sua gestão, mundiais foram disputados na Argentina, no México, na Itália e nos Estados Unidos. Havelange é o segundo presidente que mais tempo ficou no cargo da entidade: 24 anos. Sua gestão selou o nascimento do que muitos chamam de "Fifa moderna".
O carioca, hoje prestes a completar 100 anos, viu de perto como o futebol se tornou um esporte altamente lucrativo e midiático, atraindo a atenção e o interesse de grandes empresas multinacionais dos mais variados setores.
Nos anos 1990, Havelange sofreu forte oposição da Uefa. A organização europeia queria que fosse dado mais poder para as confederações continentais, mais rotatividade na presidência da Fifa e limitá-la a apenas organizar a Copa do Mundo de quatro em quatro anos.
Grandes clubes da Europa, como Manchester United e Milan, tentaram criar uma liga independente, e vários clubes resistiram a liberar jogadores para as seleções nacionais.
Havelange renunciou ao cargo em 1998, aos 82 anos. Muitos analistas afirmam que foi na sua gestão que a corrupção entrou no futebol e que, sob o brasileiro, o esporte virou definitivamente um grande negócio, impulsionado pela televisão e os contratos milionários de patrocínio da Copa do Mundo.
Gestão manchada
A era que então se iniciaria, com o mandato do suíço Joseph Blatter, seria marcada por vários escândalos e denúncias de corrupção. Ele venceu o então presidente da Uefa, o sueco Lennart Johansson, no congresso de Paris em 1998, após quatro meses de campanha agressiva.
O suíço chegava ao cargo não somente com o peso de ter sido secretário-geral da organização, mas também diretor dos programas de desenvolvimento, apoiado por Havelange e pela gigante alemã de material esportivo Adidas. Ele teria até mesmo recebido salários da empresa durante suas atividades na Fifa.
No congresso de 2002, em Seoul, o presidente da Confederação Africana de Futebol, o camaronês Issa Hayatou, foi o concorrente de Blatter nas eleições. Pouco antes do pleito, 11 membros do Comitê Executivo, incluindo o secretário-geral Michel Zen-Ruffinen, registraram boletim de ocorrência na Suíça, acusando Blatter de abuso de poder e má gestão de fundos.
Blatter venceu a eleição, derrotando Hayatou por 139 votos a 56. Zen-Ruffinen deixou o cargo. A queixa foi retirada. Em 2007, no congresso de Zurique, Blatter foi reeleito. Em 2011, ele venceu Mohamed bin Hamman, do Catar, Presidente da Confederação Asiática de Futebol. Na ocasião, Hamman foi banido do futebol, acusado de comprar votos de delegações caribenhas.
No congresso de Zurique, em 2015, duas semanas antes das eleições, operação conjunta das polícias da Suíça e dos Estados Unidos resultou na prisão de dirigentes de futebol, acusados de corrupção. Muitos foram detidos num hotel luxuoso da cidade suíça.
Foi o início da crise que levou à realização do congresso desta sexta-feira (26/02), que elege o novo presidente da Fifa. Blatter foi banido por oito anos do futebol pelo Conselho de Ética da Fifa em dezembro de 2015. Hayatou assumiu como presidente interino por dois meses.