Crise na Líbia
21 de fevereiro de 2011Os violentos protestos na Líbia levaram Seif al-Islam Kadafi, filho do presidente, Muammar Kadafi, à frente das câmeras. Nas primeiras horas desta segunda-feira (21/02), ele advertiu em rede nacional sobre os riscos de uma guerra civil no país.
O filho do presidente contou que opositores do regime do pai teriam ocupado uma base militar e tomado as armas. Ele também avaliou que o número de mortos nos últimos dias na Líbia divulgado pela mídia estrangeira é um exagero – não foram 200, mas 84 vítimas fatais, disse al-Islam.
Para os próximos dias, Seif al-Islam anunciou reformas históricas. O governo estaria disposto a falar sobre alguns pontos da Constituição e a abolir restrições. No entanto, o filho de Kadafi não falou quais seriam exatamente. Al-Islam deixou claro que as forças de segurança continuam dando apoio ao seu pai.
Fuga e confrontos
A localização exata de Muammar Kadafi é desconhecida. Um diplomata líbio disse na televisão árabe que o líder revolucionário não estaria mais no país, e que já teria iniciado a rota de fuga em direção à Venezuela.
Enquanto isso, violentos confrontos foram registrados neste domingo em Benghazi e na capital Trípoli. Depois de as forças de seguranças inicialmente terem dispersado os manifestantes, a violência teria aumentado.
Diversos meios de comunicação árabes reportaram conflitos violentas no centro de Trípoli. Foram ouvidos disparos de metralhadoras e prédios foram incendiados em diferentes partes da cidade.
Fim do apoio
Segundo noticiou a rede de televisão Al Arabia, unidades do exército teriam lutado ao lado dos manifestantes. Também forças especiais da polícia em Benghazi teriam desobedecido ao governo depois que se soube que Kadafi teria contratado mercenários de outros países africanos para reprimir os manifestantes líbios.
Na tarde de domingo, o porta-voz de uma das maiores tribos da Líbia advertiu o presidente de que, caso os confrontos violentos não cessassem nas próximas 24 horas, sua tribo cancelaria o fornecimento de petróleo.
Ao mesmo tempo, outra tribo anunciou a quebra de lealdade a Kadafi frente à escalada da violência. O grupo já havia se decidido pelo apoio ao movimento de resistência. "Nós estamos do lado dos manifestantes", disseram representantes tribais. O clã dos Warfala possui um milhão de membros e compõe aproximadamente 16% da população.
Ameaça à União Europeia
As informações, no entanto, não podem ser confirmadas já que não existem observadores independentes na Líbia no momento. No domingo, o governo ameaçou não interceptar mais os refugiados que tentam deixar a África em direção à Europa.
E ainda: caso a União Europeia continue encorajando os manifestantes pró-democracia, a Líbia deve encerrar o trabalho de cooperação na questão dos refugiados. A informação foi divulgada pela agência de notícias Reuters no domingo por meio do embaixador húngaro em Trípoli.
Sem dar atenção à clara ameaça dos diplomatas líbios, a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, pediu o fim da violência no país africano. Em entrevista à imprensa, Ashton disse que o diálogo deve ser iniciado.
Contra-ataque
O ministro de Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, disse que o bloco europeu não deve ceder à chantagem de Kadafi. "Atiradores foram enviados para disparar contra pessoas que participavam de um funeral, ou que expressavam sua opinião de que queriam ter mais voz no governo do país... Não pode ser que tenhamos que cooperar com um regime que atira na própria população", declarou Asselborn.
Alexander Stubb, chefe da diplomacia da Finlândia, revelou seus temores: "Nós todos conhecemos Kadafi. Tudo pode acontecer e eu entendo totalmente as preocupações de países como a Itália e Malta".
Autores: Peter Steffe / Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer