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"Fim 'físico' do EI não acabará com o terrorismo do grupo"

Nina Niebergall (md)5 de julho de 2016

À medida que o "Estado Islâmico" perde território na Síria e no Iraque, atentados em nome do grupo aumentam em todo o mundo. Especialista em Oriente Médio afirma que os jihadistas mudaram de estratégia.

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Combatentes do "Estado Islâmico"
Foto: picture-alliance/AP Photo

O "Estado Islâmico" (EI) está adotando uma nova estratégia, como o foco recaíndo sobre o "inimigo distante", ou seja, os inimigos fora do mundo islâmico, afirma o estudioso do islamismo Udo Steinbach, em entrevista à DW.

Segundo ele, inicialmente a prioridade do EI era estabelecer uma comunidade islâmica, uma entidade política que demonstrasse que o "Estado Islâmico" é uma alternativa aos estados que de fato existem no Oriente Médio. O foco, assim, era o "inimigo próximo", entendido como o inimigo na própria sociedade.

Mas agora, à medida que o "Estado Islâmico" é derrotado na Síria e no Iraque, o número de atentados terroristas em nome do grupo aumenta em todo o mundo, afirma o especialista. "Quanto mais se aproxima o fim físico do 'Estado Islâmico', maior é a determinação de grupos fora do EI de agir em todas as partes do mundo. O final físico do EI não será, portanto, o fim do terrorismo islâmico", alerta.

DW: Na última semana, mais de 200 pessoas morreram num ataque em Bagdá, ao menos 45 em Istambul e 22 em Daca, capital de Bangladesh. O "Estado Islâmico" estaria por trás de todas essas ações?

Udo Steinbach: Por trás disso estão grupos que se dizem adeptos do EI. Não acredito que possamos falar aqui de uma estratégia planejada em algum lugar da Síria ou em Raqqa, a capital do "califado". O EI tem simpatizantes em muitas partes do mundo islâmico e além dele, desde o Boko Haram, na Nigéria, passando por Mali e Iêmen.

Os últimos ataques ocorreram em três continentes. Existiria ao menos um intercâmbio entre os vários grupos?

Estes grupos simplesmente se dizem adeptos do EI porque estão à procura de uma moldura política para as suas atividades. Eles não são formalmente ligados ao "Estado islâmico" em Rakka. É uma espécie de propaganda, com a qual eles indicam que são mais fortes do que um grupo isolado no Mali, no Iêmen ou no Afeganistão. Eles sugerem ao mundo: "Nós somos um todo, um Estado".

Isso soa como uma nova Al Qaeda. O EI está evoluindo de uma potência regional para uma rede terrorista internacional?

É esse o caso, sem dúvida. Originalmente, a ideologia do EI consistia em estabelecer uma comunidade islâmica, um califado. O objetivo era criar uma entidade política no mundo islâmico – e, portanto, demonstrar que o "Estado Islâmico" é uma alternativa aos estados que de fato existem no Oriente Médio. O EI alvejava, primeiramente, o "inimigo próximo", entendido como o inimigo na própria sociedade, dentro da ideologia islamista. Agora parece haver uma mudança de estratégia, com o foco recaíndo sobre o "inimigo distante", ou seja, os inimigos fora do mundo islâmico, os europeus e americanos.

Como se pode explicar esta mudança de estratégia?

Há uma discussão fundamental dentro dos grupos terroristas islâmicos: devemos primeiramente combater nossas próprias sociedades e convertê-las num Estado islâmico ou devemos primeiramente combater os americanos, o Ocidente e os "infiéis", como a Al Qaeda fez nos atentados de 11 de setembro de 2001? O EI se afastou da Al Qaeda e adotou uma estratégia própria. Isso levou a uma divisão dos dois grupos terroristas. Entretanto, depois que o EI começou a ser pressionado na Síria e no Iraque, o "califado" se encontra ameaçado, e o EI se vira para o "inimigo distante", aproximando-se, assim, novamente da Al Qaeda.

Udo Steinbach
Udo Steinbach: "Terroristas agem onde podem causar mais impacto"Foto: DW

Com essa reviravolta, o EI não perde credibilidade entre seus seguidores?

Se olharmos para os numerosos grupos islâmicos, sempre houve um alto grau de flexibilidade em termos ideológicos. A discussão estratégia ideológica era uma coisa, o pragmatismo de combate era outra. Os terroristas resolveram agir onde reconheceram existir as melhores oportunidades e o maior impacto.

Na Síria e no Iraque, as oportunidades e os espaços de ação não são mais tão grandes como eram há um ano. Como está a base de poder do EI na região?

A EI está lutando lá pela própria sobrevivência. No Iraque, regiões inteiras foram perdidas. O EI ainda detém Mossul, mas o governo iraquiano se prepara militarmente para retomar a cidade. Na Síria, os adversários do EI, especialmente as tropas curdas, com o apoio dos Estados Unidos, conseguiram tomar áreas estrategicamente importantes do "Estado Islâmico".

Com isso, o fim do "Estado Islâmico" parece estar ficando bem mais próximo. Acredito que as pessoas do EI estão cientes disso – e também aqueles que, em nome do EI, praticam atentados em outras partes do mundo. Quanto mais se aproxima o fim físico do "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque, maior é a determinação de grupos fora do EI de atacar em todas as partes do mundo. O final físico do EI não será, portanto, o fim do terrorismo islâmico.

Como os Estados ameaçados pelo terrorismo devem reagir à nova estratégia do EI?

A Alemanha, por exemplo, apoia os curdos na luta contra o EI. Apoiar a guerra contra o EI foi a estratégia correta e eficaz. Em segundo lugar, devemos monitorar melhor as redes terroristas do EI. Em terceiro lugar, precisamos desenvolver uma espécie de estratégia contra aqueles que estão dispostos a deixar as nossas sociedades para combater pelo "Estado Islâmico" no exterior.