Capital Cultural
11 de janeiro de 2011O fato de Turku ainda existir é quase um milagre, já que a cidade, a mais velha da Finlândia, já foi destruída 30 vezes em incêndios. No entanto, Turku revê sua história com uma boa dose de auto-ironia, o que já pode ser percebido na logomarca do programa da como uma das Capitais Culturais da Europa: uma chama.
"Nós ardemos pela cultura. Queremos fomentar a energia artística", diz Saara Malila, porta-voz do projeto. A palavra para "queimar" em finlandês – palaa – significa também "retornar". "Turku está de volta", dizem os mentores do projeto, brincando com a eterna rivalidade entre a cidade e Helsinki. Em 1819, Turku teve que ceder o título de capital do país, embora a cidade hoje, com seus 175 mil habitantes, não tenha do que se envergonhar.
Porta de entrada para a Europa
Frente às suas portas alastra-se toda uma região de 20 mil pequenas ilhas, a maior do gênero em todo o mundo. Localizada no sudoeste do país, Turku sempre foi uma porta de entrada para a Europa. A presença de muitos negociantes, especialmente oriundos da Alemanha, sempre trouxe novas ideias para o local. E Turku permaneceu aberta a influências externas, enquanto, ao mesmo tempo, orgulha-se dos símbolos de sua história, entre estes seu castelo, um dos poucos do país e a maior edificação medieval preservada em território finlandês.
"Somos imensamente orgulhosos de nosso castelo", diz Reijo Mäki, autor de romances policiais e um dos garotos propaganda do turismo local: desde que o escritor começou a deixar a personagem de seu detetive Jussi Vares passar as noites no Uusi Apteekki, o bar é procurado também por muitos turistas. A "nova farmácia" é, de fato, antiga; os armários de medicamentos são da virada do século passado e o balcão de vendas tornou-se um bar.
Assim como o "Banheiro" ou a "Escola", a farmácia é um dos bares temáticos da cidade, conta Mäki. Seja como for, Turku é um terreno fértil para a subcultura. Mesmo no ano da oficial Capital Cultural, há na cidade também opções culturais inusitadas, desde lutas de wrestling com música de acordeão até musicais heavy metal.
Transpirando no alho
Jan-Erik Andersson sabe que o que há em Turku não existe em outro lugar. "Tentei aqui durante cinco anos conseguir um alvará de construção. Em Helsinki jamais teria conseguido", diz o artista. Sua casa tem a forma de uma folha de ácer, paredes tortas, janelas em forma de boca e o último andar cercado de vidro. O chão poderia ter sido pintado pela travessa Píppi Meialonga, personagem da escritora sueca de livros infantis Astrid Lindgren. E nos pés da mesa são armazenadas garrafas de vinho.
No jardim de Andersson, há também um enorme dente amarelo de alho. No verão, os visitantes do projeto Capital Cultural deverão transpirar ali. Andersson trouxe da Rússia a ideia de construir uma sauna no peculiar formato: "Lá eles têm essas cúpulas de igrejas em forma de cebola. Com a cúpula em forma de alho eu quis embelezar nossos arranha-céus cinzentos, e também lembrar nosso passado russo", diz ele. A sauna de fibra de vidro irá integrar em breve o projeto Let's talk sauna no parque da cidade, ao lado de outras quatro saunas projetadas por artistas finlandeses.
Estilo um pouco rude, mas prático
A paisagem urbana de Turku é tipicamente finlandesa: dominada pelo prático, mesmo que algo de nórdico-romântico paire sobre a cidade aparentemente áspera por fora, mas quente por dentro. Um cenário como em um filme de Kaurismäki. No entanto, Turku não é bela à primeira vista. Ao redor da praça do mercado há grandes prédios de concreto, datados dos anos 1960.
Segundo a guia de turismo Katri Oldendorff, são residências bem isoladas do frio, mas que não deixam de ser "iguais e monótonas". Mas Turku tem também seu lado charmoso: a Igreja de Santa Maria, um dos símbolos da cidade, sede do bispado. A ponta da torre é de Carl Ludwig Engel, conhecido por ter projetado a estação ferroviária de Helsinki.
Turku é também cheia de templos culturais, como o Museu de Arte Wäino Aaltonen. Uma série de cafés, universidade e biblioteca fazem com que o museu seja, segundo Oldendorff, a "segunda sala de visitas dos moradores de Turku". Um cenário majestoso para uma Capital Cultural, que oferece ao mesmo tempo o olhar para longe, em direção ao mar, mas também sobre a crise.
Receita de cultura
Turku é tradicionalmente uma cidade operária da indústria naval. Hoje, contudo, o maior gerador de empregos, o estaleiro, está à beira da falência. E exatamente agora a administração municipal investe 18 milhões de euros no projeto da Capital Cultural, o que desencadeou protestos.
Apesar disso, Saara Malila está convencida do projeto que coordena. "Temos um total de 50 milhões de euros à disposição e vamos fazer deles 200 milhões", diz ela, que já contagiou os políticos e a opinião pública com o otimismo necessário. "Mas demorou muito até conseguir convencer que investimentos também revertem na economia", fala Malila. A cidade espera dois milhões de visitantes nos 150 eventos que acontecerão durante o ano.
Seguindo o lema "a cultura cura", até mesmo os médicos estão receitando bens culturais em lugar de analgésicos, a fim de desenvolver o potencial criativo dos habitantes da cidade. "Mesmo em outras épocas, a cultura sempre deu o tom a Turku", afirma Malila. Não fosse isso, não haveria na cidade o Logomo, uma antiga estação ferroviária transformada em centro cultural e aberta a artistas, arquitetos e outros criadores.
Autora: Jenni Roth (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer