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Fiscais do estreito

Vedat Acikgöz / mw10 de janeiro de 2003

Desde a catástrofe do petroleiro Prestige na costa espanhola, militantes do Greenpeace fiscalizam o movimento marítimo no estreito entre Alemanha e Dinamarca, a fim de evitar acidente similar na região.

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O Prestige afundou com 77 mil toneladas de óleo cru, que vazam gradualmenteFoto: AP

Já faz quase dois meses que o petroleiro Prestige rompeu-se ao meio e afundou diante da costa da Espanha. Até hoje centenas de litros de óleo cru vazam diariamente do navio soçobrado. Não só os espanhóis lutam desde então contra as conseqüências do acidente. Também Portugal e França tiveram seu litoral poluído. Para evitar catástrofes assim na Alemanha, militantes do Greenpeace estão observando, desde 11 de dezembro, o estreito entre o país e a Dinamarca.

63 mil navios em dois quilômetros de largura

Christian Bussau é um dos ambientalistas da seção alemã da ONG. Todo dia ele percorre o estreito, aproxima-se dos petroleiros e identifica entre eles as chamadas "bombas-relógio flutuantes". A passagem entre Puttgarden, na margem alemã, e Rodby Havn, na dinamarquesa, é tida como muito perigosa. Em seu ponto mais apertado, a largura reduz-se a dois quilômetros e as águas são relativamente rasas. Apesar disto não há obrigatoriedade de que um prático local dirija os navios pela rota.

Passagem obrigatória para as embarcações que saem do importante porto de Kiel para destinos no Mar Báltico e vice-versa, o estreito é uma das rotas marítimas mais movimentadas da Europa. Por ele passam mais de 63 mil navios por ano, dentre eles mais de 8 mil petroleiros.

Caça aos cascos simples e velhos

"Queremos descobrir principalmente quais são eles. A gente se aproxima dos navios em botes de borracha, anotamos seus nomes e o porto de origem. Depois investigamos na internet quando o petroleiro foi construído e se possui casco simples ou duplo. Pode-se então verificar o quão segura ou perigosa é a embarcação. É indispensável se ter estes dados básicos para tornar mais segura a costa alemã e a dinamarquesa", relata Bussau.

Nas primeiras três semanas, a organização ambientalista cadastrou 110 navios. Com freqüência são grandes petroleiros, muitos com casco simples e com mais de 20 anos de idade. Devido ao desgaste, há risco de rachaduras, podendo romper-se facilmente no caso de um acidente, diz Christian Bussau:

"Alguns deles são inacreditáveis: verdadeiros ferros-velhos. Por exemplo, ontem à tarde vimos o Klements Gotvalgs, um petroleiro construído em 1978, que só possui um casco, tem 25 anos e, portanto, já é velho demais. Com um casco simples, ele não é mais seguro e já chamou a atenção no passado durante fiscalizações nos portos. No ano passado, foram registradas 21 deficiências durante uma inspeção no Canadá. Hoje encontramos o Arktic Swan, um petroleiro de 1970, portanto com 33 anos de uso, um alto perigo."

Não é a primeira vez que militantes do Greenpeace promovem ações deste tipo. Há um ano eles já haviam feito uma campanha de fiscalização no estreito no extremo oeste do Mar Báltico. Na ocasião, em um mês, registraram mais de 200 transgressões às regras de navegação, especialmente o tráfego fora dos limites demarcados do canal. Na atual iniciativa, os ativistas anotaram apenas cinco infrações.

Lista negra para evitar mancha negra

Após a catástrofe do Prestige na costa atlântica da Espanha, a Comissão Européia orientou os 15 países da UE a editar portarias proibindo o tráfego de petroleiros de casco simples por suas águas territoriais e divulgou uma lista com 66 navios – oito deles petroleiros – considerados perigosos. Para o Greenpeace, a relação é insuficiente. Mais petroleiros deveriam constar dela.

Bussau adverte as autoridades alemãs: "Até agora, a costa alemã foi poupada de um grande acidente com petróleo. E será lamentável se algum dia ele ocorrer. Temos de fazer tudo para que o primeiro derramamento jamais aconteça. E se acontecer, temos de estar preparados para agir rapidamente e evitar que a mancha de óleo atinja a costa."

Os dados reunidos pelo Greenpeace serão colocados à disposição da União Européia e do governo alemão, para que os navios considerados perigosos pela organização possam ser incluídos na lista de embarcações proibidas nas águas do Velho Continente.