1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Senhor FMI

16 de maio de 2011

Antes odiado por sua cartilha neoliberal de contenção de despesas e privatizações, o Fundo poliu sua imagem e provou ser fundamental durante a crise financeira. Mas agora a instituição poderá enfrentar um vácuo de poder.

https://p.dw.com/p/11GkY
Com Strauss-Kahn, Fundo voltou a ser ouvido e procurado
Com Strauss-Kahn, Fundo voltou a ser ouvido e procuradoFoto: AP

Os funcionários na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, estão em estado de choque. O banco, que deveria ajudar a restabelecer a estabilidade e a confiança à zona do euro, foi duramente atingido pela detenção do seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn.

DSK, como Strauss-Kahn é conhecido na França e entre os seus colegas em Washington, era a estrela incontestável do FMI. Nem mesmo o escândalo em torno do affair com uma subordinada em 2008 conseguiu abalar o seu prestígio como chefe do Fundo.

Na opinião unânime do setor financeiro internacional, Strauss-Kahn recuperou a imagem do FMI, que passou a ser visto como um porto estável em meio à turbulência gerada pela crise financeira e econômica mundial de 2008/09.

Uma manchete atrás da outra

Strauss-Kahn chegou ao FMI em 2007, por indicação do presidente da França, Nicolas Sarkozy. Analistas políticos viram nos esforços do chefe de governo francês uma inteligente manobra para se livrar daquele que tinha todas as chances de ser seu principal adversário na eleição presidencial de 2012. Exilado em Washington, Strauss-Kahn não produziria manchetes e acabaria esquecido pelos eleitores franceses.

Mas o tiro saiu pela culatra. Strauss-Kahn e o FMI produziram uma manchete atrás da outra, e não só na imprensa francesa, como também na mundial. A crise financeira e econômica de 2008/09 criou a oportunidade de tirar o Fundo do ostracismo e recolocá-lo no centro das atenções.

Nos anos anteriores, nenhum país em dificuldades queria mais a ajuda da instituição, com suas duras exigências de contenção de despesas e a eterna cartilha neoliberal de desregulamentação e privatização.

Prestígio de volta

Com Strauss-Kahn, o FMI se tornou mais flexível. Durante a crise financeira, os recursos foram ampliados para 500 bilhões de dólares. De repente, os conselhos do Fundo voltaram a ser necessários e procurados, e seus empréstimos foram fundamentais para evitar o colapso de várias nações.

Isso vale também para a Europa, onde a ajuda do FMI está sendo fundamental para tentar resolver os problemas da Grécia, da Irlanda e de Portugal. O socialista francês é visto como um interlocutor que possui bons laços com o governo socialista da Grécia e cuja opinião sobre os pacotes de ajuda a Grécia e Portugal é levada em conta em Berlim e em Bruxelas.

Neste domingo, Strauss-Kahn iria participar de uma reunião com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, para debater os próximos passos da ajuda à Grécia. No final de junho, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI decidirão se o país vai receber uma ajuda extra de 12 bilhões de euros.

Chefia do FMI

Se Strauss-Kahn não suportar as pressões geradas pela acusação de abuso sexual, vai se criar um vácuo de poder no FMI. O vice-diretor-gerente do Fundo, o americano John Lipsky, anunciou há poucos dias sua intenção de deixar o cargo no final de agosto.

Até agora valia uma lei não escrita de que a chefia do FMI era ocupada por um europeu, ao passo que a chefia do Banco Mundial cabia aos Estados Unidos. Isso pode mudar, pois grandes países emergentes, como a China e o Brasil, ganharam influência no Fundo nos últimos anos e podem agora ver surgir a oportunidade de colocar alguém no comando da instituição.

Autores: Ralf Sina / Rolf Wenkel / Alexandre Schossler
Revisão: Rodrigo Rimon