Fora do Bundestag pela primeira vez, liberais têm de se reinventar
23 de setembro de 2013A queda foi grande e dolorosa. Quando as primeiras projeções eleitorais foram divulgadas, o político liberal alemão Christian Lindner disse que esta seria "a hora mais amarga do Partido Liberal Democrático". O resultado oficial preliminar confirma as projeções: o partido recebeu 4,8% dos votos. Uma perda de quase 10 pontos percentuais em relação à última eleição.
Pela primeira vez desde 1949, ano da constituição da República Federal da Alemanha, o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) não alcançou o percentual mínimo de 5% que lhe garantiria um lugar no Bundestag, câmara baixa do Parlamento em Berlim.
Lindner, o carismático e eloquente líder da bancada estadual do FDP no estado da Renânia do Norte-Vestfália, enfrentou com dificuldade sua primeira entrevista na TV durante a noite, tal foi a decepção.
Principalmente porque na eleição parlamentar anterior, em 2009, o FDP vivenciara seu melhor resultado: 14,6%. Um declínio nunca visto – de uma alta histórica para uma queda sem precedentes. E agora?
"Foi o resultado da política partidária", disse o cientista político Ulrich Von Alemann. "O FDP cometeu erros na sua política, no seu programa, na sua campanha eleitoral e na escolha de seus líderes."
Clientelismo
Na Alemanha, um período legislativo dura quatro anos – para o FDP, foram quatro anos de altos e baixos. E a queda começou logo após a eleição de 2009: sob pressão dos liberais e da União Social Cristã (CSU), aliada bávara do partido de Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), o governo decidiu reduzir o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) do setor hoteleiro. Quase simultaneamente, soube-se de uma contribuição milionária de uma empresa de hotelaria para o partido.
"Imediatamente, o FDP passou a ser visto como partido clientelista, como partido de interesses, disposto a facilitar a vida de grandes contribuintes", disse Von Alemann.
Além disso, houve brigas pessoais internas no partido. Também devido à queda de popularidade, Guido Westerwelle teve de renunciar ao cargo de vice-chanceler federal e à presidência do FDP em 2011. Mas a tendência de queda continuou sob o novo líder Philipp Rösler. Nas eleições para a assembleia legislativa do Sarre, em 2012, o partido atingiu seu ponto mais baixo: 1,2% dos votos – o pior resultado dos liberais num estado do Oeste alemão.
Altas eram registradas, principalmente, quando candidatos se distanciavam em nível estadual da política partidária em Berlim: foi o caso de Lindner na Renânia do Norte-Vestfália. Ele alcançou 8,6% dos votos na eleição para a assembleia legislativa. Ou Wolfgang Kubicki em Schleswig-Holstein, com 8,2%.
Era uma vez um clássico parceiro de coalizão
Lindner e Kubicki ajudaram a melhorar o perfil do partido, algo que faltava em nível federal: embora se diga que Westerwelle tenha amadurecido no cargo de ministro do Exterior, "ele não tem nada para provar que, em termos de política de Relações Exteriores, ele alcançou isso e aquilo", criticou o cientista político Von Alemann.
Nesse contexto, deve-se dizer que o FDP tem longa experiência administrativa. Nos 64 anos de existência da República Federal da Alemanha, o partido sempre esteve representado no Bundestag, fosse no governo, fosse na oposição.
Os liberais chegaram até mesmo a governar ininterruptamente entre 1969 e 1998, apesar da troca de parceiros: primeiramente com o Partido Social-Democrata (SPD), e depois com a CDU/CSU. Nenhum outro partido ficou tanto tempo continuamente no poder. Mas o FDP sempre foi o partido menor na coalizão de governo.
Culpa também é da AfD
A condição de parceiro menor acabou virando um problema. "A força de Merkel se tornou um desastre para o FDP. A dimensão da perda se deve principalmente à chanceler federal e à CDU/CSU", considera Von Alemann. O sucesso eleitoral de 2009 foi baseado principalmente em eleitores que vieram de outros partidos. Eles estavam decepcionados com a grande coalizão formada por conservadores e social-democratas, mas principalmente com a CDU. E agora esses eleitores foram embora.
De acordo com o cientista político, o fato de o FDP ter perdido seu lugar no Bundestag se deve também a outro fator: "Sem a Alternativa para a Alemanha (AfD), o FDP estaria certamente de volta ao Bundestag". O partido eurocético alcançou 4,7% dos votos, avançando sobre o tradicional eleitorado liberal.
Nas pesquisas de opinião pré-eleitorais, a possível saída do FDP já se anunciava: o partido oscilava entre 4% e 6%, sempre próximo ao limite. E, então, uma semana antes das eleições parlamentares, os cidadãos da Baviera deixaram o FDP de fora da assembleia legislativa do estado. Também nas eleições no estado de Hessen, que ocorreram paralelamente às eleições parlamentares alemãs, os liberais saíram da assembleia legislativa.
Atualmente, o FDP só está presente nas assembleias legislativas de oito dos 16 estados alemães. Em somente um deles, o partido faz parte do governo estadual.
E agora?
Hora para o canto do cisne? Não, disse o cientista político Von Alemann: "O FDP é resistente. Tem uma grande história. Tem representantes eleitos por todos os lugares, também nas prefeituras. O partido está firmemente enraizado na sociedade, no público – e por isso ainda não é o fim para o FDP."
Segundo Von Alemann, uma condição é que as alas econômica e liberal do partido estejam, de forma clara e confiável, novamente interligadas. Para tal, o homem certo seria Lindner, ex-secretário-geral do FDP. Na noite da eleição, ele disse que a derrota seria tão fundamental e tão profunda que "a partir de amanhã o FDP deve se reinventar".
A reconstrução será difícil. Mas para isso os liberais têm agora quatro anos – até a próxima eleição parlamentar. E o processo de renovação já começou: nesta segunda-feira, Rösler renunciou à presidência do partido.