França diz que espionagem da NSA é "inaceitável"
24 de junho de 2015O governo francês considerou nesta quarta-feira (24/06) "inaceitável" a revelação de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) espionou os últimos três presidentes da França. O chanceler Laurent Fabius convocou o embaixador americano em Paris, Jane Hartley, para discutir o assunto.
Documentos divulgados na terça-feira (23/06) pelo WikiLeaks mostram que Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o atual presidente, François Hollande, foram alvos de grampos da agência entre 2006 e 2012. Diplomatas e chefes de gabinete próximos aos três chefes de Estado também foram espionados.
Um alto funcionário francês da agência de inteligência nacional será enviado a Washington para discutir o assunto com as autoridades americanas. Em nota, Hollande afirmou que não vai tolerar qualquer ato que ameace a segurança e a proteção dos interesses franceses.
"As autoridades americanas firmaram compromissos", diz, em referência às promessas da Casa Branca feitas em 2013 de não espionar governantes franceses. "Eles [os compromissos] precisam ser lembrados e estritamente respeitados."
O comunicado do Palácio do Eliseu foi divulgado depois de uma reunião emergencial entre ministros e comandantes das Forças Armadas da França nesta quarta-feira.
"É difícil entender ou imaginar o que motiva um aliado a espionar outros aliados que sempre tomam as mesmas posições estratégicas em assuntos internacionais", afirmou o porta-voz do governo francês, Stéphane Le Foll. "Essa ação não é aceitável nem compreensível."
Claude Gueant, ex-chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy, apontado no relatório como um dos alvos da NSA, afirmou que houve uma grave quebra de confiança. "Considerando a relação muito próxima que temos com os EUA e o fato de que somos aliados extremamente fiéis, me sinto como se a confiança tivesse sido quebrada", afirmou.
EUA negam
A Casa Branca se pronunciou ainda na noite de terça-feira e negou que os EUA tenham espionado Hollande. "Não temos e nem vamos ter como alvo as comunicações do presidente Hollande", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Ned Price.
Ele não negou, porém, que o país não tenha espionado outros líderes franceses no passado. Os relatórios da NSA, classificados como "top secret", trazem o conteúdo de cinco interceptações de comunicações envolvendo os três presidentes franceses.
Entre os documentos vazados está uma conversa interceptada pela NSA em março de 2010 entre o embaixador da França nos Estados Unidos e um assessor do então presidente Sarkozy. Eles comentam a tentativa frustrada dos franceses de chegar a um acordo de não espionagem com Washington.
KG/afp/rtr/lusa