França está há anos na mira de terroristas islâmicos
22 de março de 2012O acusado pelos atentados em Toulouse e Montauban é um francês de origem argelina chamado Mohamed Merah. Segundo declarações do ministro francês do Interior, Claude Guéant, o suspeito afirmou ter ligações com a organização terrorista Al Qaeda.
Esta, por sua vez, possui no norte da África uma ramificação que se autodenomina Al Qaeda no Magreb Islâmico, criada a partir do "Grupo Salafista para a Pregação e o Combate". Segundo informações divulgadas pela mídia, o jovem de 23 anos era há anos monitorado pelas autoridades francesas devido ao seu perfil ligado ao islamismo radical.
O diretor do Instituto de Política de Segurança de Kiel, Joachim Krause, avalia que o perigo do terrorismo islâmico na França é muito alto, já que o país, segundo ele, está na mira da Al Qaeda no Magreb. De acordo com Krause, é bem possível que terroristas afegãos tenham planejado atentados na França. "Há ligações e células terroristas na França. Por isso essa hipótese será investigada", disse o especialista à DW. Soldados franceses fazem parte das tropas da Isaf no Afeganistão, cuja retirada do país é reivindicada pelos rebeldes afegãos e pelos talibãs.
Atentados terroristas desde 1995
Os ataques em Toulouse e Montauban serão os piores atentados cometidos por militantes islâmicos radicais desde a década de 1990. Em meados de 1995 e no segundo semestre daquele ano, ocorreu na França uma série de atentados terroristas, cometidos pelo Grupo Islâmico da Argélia (GIA). A ideia da milícia era supostamente transpor a guerra civil da Argélia para a França.
Um atentado a bomba num trem urbano de Paris, ocorrido no dia 25 de julho de 1995, foi o ataque que deixou mais vítimas, com um saldo de oito mortos e 80 feridos. Na época, as autoridades francesas não encontraram nenhuma prova concreta de que Osama Bin Laden, então em atividade no Afeganistão, estivesse envolvido no caso. Mesmo assim, partiu-se do princípio, naquele momento, de que havia estreitas ligações entre os islâmicos no Afeganistão e os autores dos atentados na França através do grupo argelino terrorista GIA.
A polícia e o serviço secreto da França conseguiram prender os líderes do GIA, evitando, com isso, diversos outros atentados planejados, alguns deles planejados para acontecer durante a Copa do Mundo de 1998. Em 2000, autoridades francesas e alemãs conseguiram evitar um atentado numa feira de Natal na cidade francesa de Estrasburgo.
Detenções no ano de 2010
Depois dos atentados do 11 de setembro de 2001 nos EUA, a França, bem como todos os outros países europeus, acirrou suas medidas de combate ao terrorismo. Em outubro de 2010, a polícia francesa prendeu 11 suspeitos em Marselha, Avignon e Bordeaux, todos suspeitos de ter contatos no norte da África. Em julho de 2010, a Al Qaeda matou uma refém francesa no Magreb. O então ministro francês do Interior, Brice Hortefeux, mencionou na época uma ameaça real, inclusive de atentados a bomba, no país.
Desde os ataques ao metrô e ônibus em Londres, em julho de 2005, vigora na França o segundo nível mais alto do plano antiterrorista Vigipirate, que prevê a atuação de 3.400 soldados na vigilância de edificações do país. Nos pontos turísticos mais conhecidos, como por exemplo nas imediações da Torre Eiffel, soldados mantêm-se presentes e ostensivamente armados. Tais medidas de segurança foram elevadas ainda mais depois dos atentados em Toulouse e Montauban.
Casos de antissemitismo na França
O Centro Nixon, um instituto de pesquisa em Washington, publicou já em 2005 um estudo afirmando que a maioria dos suspeitos de envolvimento com o terrorismo na Europa não vem nem do Oriente Médio nem do Afeganistão. Segundo o documento, 41% dos suspeitos seriam cidadãos europeus e 36% viriam dos países do Magreb.
No caso da França, os seguidores do terrorismo viriam com frequência de classes sociais desfavorecidas que vivem nas periferias das grandes cidades. Um perfil que se adequa ao suposto autor dos recentes atentados em Toulouse e Montauban.
O Conselho das Organizações Judaicas na França (CRIF) observa o desenvolvimento dos delitos de motivação antissemita no país. Depois do ápice em 2009, com um total de 832 registros, o número de ataques antissemitas caiu nos dois últimos anos. Em 2011, esse número foi de 389, segundo o CRIF.
O grande número de casos em 2009 está relacionado principalmente aos combates na Faixa de Gaza, ocorridos naquele ano. "Trata-se de uma transposição absolutamente inaceitável do conflito no Oriente Médio para a França", declarou na época Richard Prasquier, presidente do CRIF.
Ataques antissemitas não são praticados apenas por radicais islâmicos, mas também por outros grupos terroristas, como por exemplo por neonazistas. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, alertou para que não se equipare o Islã ao terrorismo. Organizações judaicas e muçulmanas no país também pedem para que não se associe o terrorismo a nenhuma religião específica.
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Alexandre Schossler