França inaugura réplica da Caverna de Chauvet
25 de abril de 2015Com paredes que vão do branco ao ocre, faz frio na Caverna de Chauvet. O ar úmido e pesado cheira a terra e minerais. Pelo chão estão espalhados ossos e depósitos minerais cristalizados. Pingos caem de uma estalactite sobre o chão que cintila, prateado. Nas paredes se distinguem marcas de garras de urso e pontos vermelhos abstratos. No fundo da caverna, cenas de animais ocupam paredes inteiras: rinocerontes em luta, leões espreitando uma manada de bisões, assim como outros felinos, mamutes e cavalos.
Olhando mais de perto, nota-se que se trata de uma cópia. A argila e as formações de calcário são feitas de resina colorida e os muitos desenhos, ossos e pegadas estão concentrados num pequeno espaço. A réplica chega a enganar, assegura o espeleólogo Jean Clottes, um dos primeiros especialistas autorizados a entrar na verdadeira Caverna de Chauvet.
"Eles recriaram as paredes de pedra fielmente, e os desenhos são mesmo iguaizinhos aos da gruta", confirma. O cientista de 80 anos e seus colegas estão visivelmente impressionados com a qualidade da réplica, aberta à visitação pública a partir deste sábado (25/04) nas proximidades do sítio original, no sul da França.
Réplica protege da destruição
Especialistas de várias disciplinas, como arquitetos, cenógrafos e engenheiros, trabalharam ali com grande entusiasmo, para que muitos possam vivenciar a magnífica Caverna de Chauvet, pelo menos em réplica. Com mais de 36 mil anos, suas figuras pré-históricas estão entre os mais antigos exemplos da arte humana.
No local original, "o solo nos dá informações sobre o comportamento dos habitantes e sobre a vida dos ursos", explica o chefe dos pesquisadores de Chauvet, Jean-Michel Geneste. Ele e sua equipe concordam que não se deve dar acesso público a esses testemunhos excepcionalmente bem conservados, para que não sejam danificados, como ocorreu em outras cavernas.
A réplica é um projeto-piloto, visando reproduzir a Caverna de Chauvet, localizada perto de Vallon Pont d'Arc, no departamento francês de Ardèche, até os mínimos detalhes, com base na mais moderna tecnologia.
O projeto foi cofinanciado pelo Ministério francês da Cultura, com 22% da verba, e a União Europeia, com outros 18%. A maior parte do financiamento, no entanto, partiu do Departamento de Ardèche. As autoridades da região acreditam que a réplica da famosa caverna se tornará uma atração turística, impulsionando a economia local.
Tecnologia de ponta e trabalho manual
Mais de um terço da caverna pode ser visto na réplica de 3 mil metros quadrados. Primeiro, fez-se uma maquete em 3D, com base na medição digital da gruta original. Ela foi o modelo para um invólucro de concreto e um esqueleto de metal, reproduzindo, com precisão centimétrica, as fendas escarpadas, formações abobadas e pisos da gruta. Em seguida, artistas desenharam manualmente as pinturas rupestres, a partir imagens projetadas sobre as paredes de rocha simuladas.
Fenômenos naturais nas cavernas também foram reproduzidos a mão: engenheiros experimentaram formas de imitar, por meio de substâncias químicas, os estalactites e estalagmites, ou os depósitos calcários sobre reproduções de ossos.
Para reproduzir as condições da caverna verdadeira, foram realizados numerosos experimentos. A fim de formarem sua própria impressão da caverna verdadeira, todos os participantes do projeto puderam visitá-la várias vezes.
Uma especialista em cheiros compôs a fragrância adequada; a borrifação constante das paredes de resina com água e a criação de zonas úmidas garantem uma umidade atmosférica de 65%; além disso, o condicionador de ar mantém a temperatura a 18°C. Assim, os visitantes pagarão 55 euros por cabeça para vivenciar o local como os seus primeiros descobridores: em meio ao frio e a pouca luz.
Museu complementa a gruta
A cinco minutos do local da réplica, foi erguido um Museu da Pré-História. Ali estão representados animais, plantas e o cotidiano de homens e mulheres 36 mil anos atrás, de quando datam as pinturas da Caverna de Chauvet. Além disso, são disponibilizados espaços para exposições temporárias, além de oficinas pedagógicas para o trabalho com grupos escolares.
A região e o Departamento de Ardèche souberam aproveitar a sensacional descoberta da Caverna de Chauvet, mais de 20 anos atrás, criando um lugar que futuramente deverá atrair visitantes de todo o mundo. Não se trata, contudo, de uma Disneylândia da pré-história, mas sim da bem-sucedida tentativa de simular uma viagem à Idade da Pedra.