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Fumar mata também o planeta

Irene Baños Ruíz mo
28 de fevereiro de 2019

Os prejuízos do cigarro para a saúde dos fumantes são bem conhecidos, mas e os problemas ambientais? Bitucas são o item mais comum de plástico de uso único no mundo, e esse é apenas um aspecto.

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Mão de um fumante segura um cigarro aceso
Pontas de cigarro representam entre 30 e 40% de todos os itens coletados a cada ano em limpezas urbanas e costeirasFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Todos sabem que fumar faz mal para a saúde, mas quantos conhecem os prejuízos que o tabaco traz para o planeta?

A planta deixa um rastro de destruição do momento em que as sementes são plantadas até o momento em que suas folhas secas e picadas são queimadas pelos 1,1 bilhão de fumantes espalhados pelo mundo.

Pesquisadores do Imperial College London descobriram que a pegada de carbono anual dessa indústria é quase duas vezes maior do que a do País de Gales.

"Se continuarmos a cultivar tabaco para atender à demanda teremos uma enorme degradação ambiental", diz Vinayak Prasad, líder do programa de controle de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Infografik Weltkarte Tabakkonsum PT

O plantio e a secagem das folhas – a chamada cura – são responsáveis por mais de 75% da pegada de carbono do tabaco. Os processos requerem muita terra, água e energia, além de pesticidas e fertilizantes que poluem rios próximos e águas subterrâneas e degradam o solo.

Embora represente um mal menor em comparação a grandes vilões do desmatamento global, como palmeiras ou plantações de soja, o tabaco tem um grande impacto em nível local. "Por exemplo, na Tanzânia", diz Sonja von Eichborn, diretora da ONG Unfairtobacco.

Nesse país, explica ela, o tabaco é responsável por até 6% do desmatamento anual, e a tendência é que esse percentual aumente. No Paquistão, as plantações já respondem por quase 27% do desmatamento anual, segundo dados da OMS.

O transporte e fabricação de cigarros elevam ainda mais a equação tóxica. De acordo com a Unfairtobacco, a indústria utiliza 2,4 milhões de toneladas de papel e papelão por ano para produzir embalagens.

Além disso, um outro problema são as bitucas de cigarro. Dos quase 6 trilhões de cigarros fumados a cada ano, 4,5 trilhões são descartados a céu aberto. Estatísticas do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente (Pnuma) confirmam que elas são o resíduo mais comum de plástico de uso único.

Infografik Zyklus Tabakproduktion und Konsum PT

Feitos de um tipo de plástico não biodegradável, as pontas de cigarro podem levar uma década para se degradar, período em que o vento ou a chuva podem facilmente carregá-las para rios e oceanos, onde liberam produtos químicos tóxicos, como ácido acético e arsênico.

Segundo o Parlamento Europeu, uma única ponta de cigarro tem potencial para poluir até mil litros de água com substâncias tóxicas que podem entrar na cadeia alimentar humana. E elas invariavelmente estão no topo da lista de lixo de limpezas urbanas e costeiras, representando entre 30% e 40% de todos os itens coletados a cada ano.

As grandes quantidades de pontas de cigarros também permanecem nos esgotos. Enquanto algumas cidades ao redor do mundo multam os infratores – em Paris, a multa para quem joga bituca na rua custa 68 euros, e em Londres até 150 libras – Von Eichborn acredita que a indústria do tabaco deveria assumir uma responsabilidade maior sobre esse lixo.

"Os governos devem garantir que as empresas de tabaco levem em conta integralmente o impacto ambiental causado por elas", disse.

A União Europeia (UE) está pressionando por algo nesse sentido. Uma vez aprovada, a nova diretriz da UE sobre plásticos de uso único tornará os fabricantes de tabaco responsáveis pelo custo de coleta de bitucas de cigarro e pelo fornecimento de cinzeiros públicos.

Alisdair Gray, diretor da Confederação de Fabricantes de Cigarros da Comunidade Europeia (CECCM), afirma que o grupo acompanha a evolução do processo e mantém o "compromisso de garantir uma redução significativa do impacto do lixo no meio ambiente".

No entanto, ele se absteve de fazer outros comentários antes da aprovação oficial da diretriz e se recusou a responder o pedido da DW por informações mais detalhadas sobre como exatamente a indústria planeja contribuir para a redução do desperdício.

Prasad, que acredita que a solução está na redução da demanda por tabaco por meio de medidas políticas e de uma legislação dura, diz que em breve a UE também exigirá que a indústria substitua os filtros sintéticos por biodegradáveis.

"Alternativas para filtros plásticos já estão disponíveis", contou. A empresa de pesquisa americana Greenbutts (bitucas verdes, em tradução livre), por exemplo, criou um filtro feito de materiais naturais, como o cânhamo e o algodão, que se degradam rapidamente.

Von Eichborn diz que é necessário acompanhar de perto os fabricantes. "A indústria do tabaco é conhecida por suas táticas para minar as políticas de saúde pública" e fará o mesmo com as ambientais, afirma.

Infografik Inhaltsstoffe Zigarette PT

Embora as alternativas eletrônicas sejam, para alguns, a maneira mais fácil de contornar a natureza prejudicial dos cigarros, e apesar de os cigarros eletrônicos conterem menos substâncias cancerígenas do que as versões tradicionais, suas consequências para a saúde no longo prazo ainda são desconhecidas, assim como os impactos de seus resíduos no meio ambiente.

De acordo com legisladores da UE, ainda não foi possível regular o descarte do cigarro eletrônico devido à falta de informação, mas muitos de seus materiais, como plástico e vidro, e substâncias tóxicas, como a nicotina, não facilitam em nada a reciclagem.

"O mais importante é criar um mecanismo para ver como os cigarros eletrônicos estão sendo descartados", disse Prasad. "Nós devemos decidir agora como tratá-los na condição de lixo tóxico."

A falta de uma resposta rápida traz a preocupação para os ambientalistas de que seja apenas uma questão de tempo até que restos de cigarros eletrônicos e convencionais sejam encontrados lado a lado em praias ao redor do mundo.

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