Fundo de resgate
29 de dezembro de 2010Durante um ano inteiro, a UE esteve sob a sombra da crise. Em janeiro, poucos tinham ideia do quanto a situação se agravaria no decorrer do ano. Ao despontarem os temores de uma moratória da Grécia, o novo comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da UE, Olli Rehn, tentou tranquilizar:
"Se tal situação vier a acontecer, teremos os meios para garantir a estabilidade financeira da zona do euro", afirmou na época. Assim, estava definida uma dificuldade básica: os problemas de um único país podem afetar toda a união monetária.
Indecisão da Alemanha
Mas a promessa em branco de Rehn não foi bem recebida em todos os cantos do bloco. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, rejeitava, ainda no fim de abril, um esforço conjunto de ajuda em massa. "Se o dinheiro for colocado cedo demais na vitrine, veremos que a Grécia não fará seus deveres de casa com a dedicação e disciplina necessárias", alegou.
Poucos dias depois, no início de maio, o pacote para a Grécia começava a ser planejado. Os gregos deviam, em troca, implementar um duro programa de austeridade. As palavras do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, mostravam quão grande era o cisma dentro do governo da Alemanha:
"Todos os europeus devem defender a estabilidade da zona do euro como um todo. Esta é a nossa missão. Quanto melhor a executarmos, melhor será para todos na Europa e também para todos os alemães."
Hoje, Grécia, amanhã...?
Mas muitos já achavam que a crise não iria parar na Grécia, como era o caso do eurodeputado luxemburguês Frank Engel, do Partido Popular. "O que está acontecendo no momento com a Grécia pode vir a acontecer amanhã com Portugal e depois de amanhã com a Espanha. E se acontecer com a Espanha, acontecerá depois com toda a Europa, pois a Europa não tem os meios para salvar a Espanha", prevê.
Em Bruxelas, um certo pânico se fazia sentir. Apenas uma semana após o pacote de salvamento para a Grécia, os países do euro decidiram criar, junto com o FMI, um fundo de resgate de emergência de 750 bilhões de euros. Ao mesmo tempo, todos os governos se comprometiam a manter uma disciplina orçamentária rigorosa.
Pier Carlo Padoan, economista-chefe da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra-se satisfeito. "A interação entre disciplina fiscal e disciplina do mercado deve ser reforçada. Isso significa que os mercados também se comportam de forma disciplinada nos países que mantém seus orçamentos em ordem", afirma. Padoan aprova o condicionamento do mecanismo de salvamento a pré-requisitos rígidos.
Concessões duvidosas e profecias equivocadas
Entretanto, os pré-requisitos rígidos deixavam muito a desejar. A chefe de governa alemã Angela Merkel se deixou convencer pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, em uma reunião em Deauville, a abrir mão das sanções automáticas contra os países que ultrapassem o déficit máximo permitido.
Guy Verhofstadt, líder dos liberais no Parlamento Europeu, não conseguia acreditar no que ocorria: "Durante dez meses, os alemães exigiram sanções mais duras. E agora eles fazem exatamente o oposto", reclamou.
Apesar de tudo, a situação parecia relaxar-se um pouco. Klaus Regling, executivo-chefe da Facilidade Europeia de Estabilidade Financeira, fez, no final de outubro, uma profecia pela qual certamente não deseja ser lembrado no futuro: "Sou da opinião de que não será necessário mobilizar dinheiro algum, e que nenhum dos países-membros precisa de ajuda financeira da união monetária".
Já em novembro, os fatos o desmentiriam. O primeiro país a recorrer ao fundo de resgate foi a Irlanda. E já se instalava o medo de que o fundo não tivesse dinheiro suficiente, o mais tardar quando, além de Portugal, a Espanha viesse a precisar de ajuda.
Último recurso
Mesmo assim, os chefes de Estado e governo não concordaram em aumentar os recursos do fundo, durante uma cúpula em meados de dezembro. Eles somente prometeram de forma vaga que o fundo seria grande o suficiente para o que desse e viesse.
Merkel também mexeu seus pauzinhos para fazer cair a ideia de criar títulos de dívida comuns europeus. E o fundo permanente de resgate, a vigorar a partir de 2013, deveria ser utilizado apenas como último recurso, a pedido da Alemanha. Além disso, os países da zona do euro precisavam coordenar suas políticas econômicas de forma mais estreita: um projeto de longo prazo e com resultado incerto.
Assim, no fim do ano permanece sobretudo a esperança de que os mercados se acalmem com todas essas decisões. Foi nesse clima que Angela Merkel e seu porta-voz, Steffen Seibert, encerraram a entrevista coletiva da cúpula em Bruxelas. Ao "feliz Natal" da premiê, Seibert acrescentou, à meia voz: "E um pouco de paz para a Europa".
A chegada da crise do euro pegou a UE de surpresa, num momento em que o bloco se encontrava bastante despreparado. Em comparação, a Europa está agora numa posição muito melhor. Mas permanece em aberto se as medidas planejadas vão longe o suficiente, e se serão implementadas com a rapidez necessária.
Autor: Christoph Hasselbach (md)
Revisão: Augusto Valente