Futuro da Ucrânia nas mãos do presidente
25 de janeiro de 2014Antes de se tornar um dos principais líderes da oposição ucraniana, Vitali Klitschko ficou mundialmente conhecido por seu sucesso como pugilista. Sua carreira no boxe profissional começou em 1996, quando foi para a Alemanha, ao lado do irmão Wladimir. Ambos criaram fama, entrando para o primeiro escalão do esporte. Em 2008, conseguiram juntos unificar todos os títulos da categoria peso pesado.
O interesse de Vitali pela política foi despertado durante a Revolução Laranja de 2004, quando apoiou o candidato presidencial pró-Ocidente Viktor Yushchenko, de quem foi consultor mais tarde. Em 2006 e 2008, Klitschko tentou se eleger prefeito de Kiev, sem sucesso.
Em 2010, trocou o nome de seu partido, o Capital Europeia, para Aliança Democrática Ucraniana pela Reforma ("Udar", na sigla em ucraniano, que significa "golpe" ou "soco"). Os índices de popularidade triplicaram: com a mensagem "É hora de udar", Klitschko posicionou seu partido na centro-direita, angariando apoio principalmente entre os jovens nas grandes cidades. Em 2012, o Udar ficou em terceiro lugar nas eleições parlamentares, e Klitschko se elegeu deputado.
O ex-boxeador consolidou sua liderança e ganhou destaque nas recentes manifestações em Kiev, na quais se exige a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch após a recusa deste em assinar um contrato de associação com a União Europeia – por pressão de Moscou. Culminando uma escalada contínua de violência, na última quarta-feira (22/01) os protestos causaram as primeiras mortes.
Em entrevista à DW, Klitschko lamentou o fracasso das negociações com o governo e afirma ser preciso empregar todos os meios possíveis para convencer Yanukovytch de que a solução dos conflitos só está em suas mãos.
DW: Como se pode parar o derramamento de sangue na Ucrânia?
Vitali Klitschko:Farei todo o possível para acabar com o derramamento de sangue. Mas a população não está satisfeita com os resultados das negociações que nós, líderes da oposição, tivemos na quinta-feira com o presidente Viktor Yanukovytch. As pessoas esperavam mais. Infelizmente, Yanukovytch não demonstra qualquer desejo de ceder às exigências da população.
Um mês atrás, talvez tivesse bastado a renúncia do ministro do Interior, Vitali Zakharchenko. Ainda há algumas semanas, talvez bastasse a renúncia do governo. Agora, a população quer que Yanukovytch renuncie.
Falando na rua Hrushevsky, um dos focos mais perigosos dos conflitos, fiz um apelo à população que façam uma pausa. Eles me ouviram, e sou muito grato por isso. Foi um gesto de boa vontade, de disposição para cooperar.
Mas quando voltamos das negociações e relatei os resultados, ouvi as vaias de descontentamento. Elas não eram direcionadas contra mim, mas às autoridades e à sua recusa de se comprometer com uma solução para os conflitos.
Como a União Europeia pode ajudar?
A Europa tem grande poder de influência sobre Yanukovytch e as pessoas ao redor dele que mantêm dinheiro na União Europeia. Temos grandes esperanças de que nossos esforços combinados resolvam esse conflito crescente. Na verdade, agora ele já está saindo do controle, mas ainda há uma possibilidade de resolvê-lo pacificamente, sem mobilizar as forças de segurança. Temos que aproveitar cada oportunidade.
Eu disse a Yanukovytch, durante as negociações, que isso é responsabilidade pessoal dele. Suas propostas não bastam para fazer as pessoas deixarem as ruas e voltarem para casa. Ele não acatou, e agora se vê como a escalada prossegue.
Há semanas o senhor vem apelando ao Ocidente para que aplique sanções à liderança ucraniana. Até o momento, a União Europeia tem se recusado. Isso o deixa muito decepcionado?
Fiz apelos a muitos políticos e continuo fazendo. Falo aos homens de Estado dos outros países: precisamos de ajuda, de pressão, contatos pessoais, todos os meios possíveis para convencer Yanukovytch que a solução dos conflitos está inteiramente nas mãos dele. Por outro lado, temo que a situação continue se agravando, até um dia sair de vez do controle.