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Conferência do clima

17 de junho de 2011

A conferência do clima em Bonn aumentou a preocupação com o que virá depois do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. O temor é que falte tempo para se chegar a um novo acordo. Decisão será na África do Sul.

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Steam rises from the US Capitol coal-fired power plant, which powers government offices in Washington, DC, USA on 08 December 2009. The US Environmental Protection Agency (EPA) issued a landmark ruling Monday that greenhouse-gas emissions blamed for global warming represent a danger to public health and can be regulated under existing US laws. EPA/MATTHEW CAVANAUGH +++(c) dpa - Bildfunk+++
EPA TreibhausgasFoto: picture-alliance/dpa

A mensagem que se procurou transmitir ao final da conferência do clima em Bonn é: "não estamos em crise". Questionada duramente sobre o futuro do Protocolo de Kyoto, que expira no fim de 2012, Christiana Figueres, secretária executiva da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), rebateu: "As negociações climáticas são a coisa mais importante desse mundo. E você tem que entender que isso não se resolve num acordo, num encontro."

No último dia do encontro, nesta sexta-feira (17/06), permaneceu a incógnita sobre o que virá depois de Kyoto, a convenção que obriga os países ricos a limitarem suas emissões de gases do efeito estufa, assinado em 1997.

A expectativa é que um texto substitutivo esteja pronto a tempo de ser votado na COP 17, em Durban, África do Sul, conferência do clima marcada para novembro. Para tanto, os países concordaram em se encontrar, excepcionalmente, mais uma vez antes da conferência decisiva, em meados de setembro.

O que não mudou

Japão, Rússia e Canadá manifestaram novamente em Bonn a falta de vontade em assinar um novo período de compromisso de redução de emissões. A postura se choca com o passado das três nações: os japoneses presidiram a conferência que celebrou o acordo de Kyoto, os russos foram decisivos para que o protocolo entrasse em vigor, e o Canadá iniciou as negociações para a extensão pós 2012.

No entanto, André Aranha Corrêa do Lago, negociador brasileiro do Ministério de Relações Exteriores, relativa o peso desses três países no contexto da UNFCCC. Ele ressalta que um fator inédito poderá ajudar a dar continuidade a Kyoto: o texto poderá ser aprovado em Durban com o voto de 153 países. O acordo de 1997 contou com o aval de 192 nações.

O recuo dessas nações, naturalmente, é visto como um grande retrocesso para o esforço contra as mudanças climáticas. "Um posicionamento deplorável, um atestado de incompetência", comentou David Turnbull, norte-americano da organização Climate Action Network.

"O Brasil está trabalhando bastante para que seja formada uma proposta equilibrada para substituir Kyoto. E, se houver vontade política, os países podem chegar a um acordo em apenas dois dias de discussão", garantiu Lago. O Protocolo de Kyoto impôs às 37 nações industrializadas – menos aos Estados Unidos, que não ratificaram o Protocolo – a meta de, entre 2008 a 2012, reduzir em 5% suas emissões de CO2 com base nos índices de 1990.

O jogo de empurra

A União Europeia estaria pronta para assumir um compromisso, segundo afirmou Jozsef Feiler, porta-voz do bloco europeu em Bonn, desde que "todos embarquem no mesmo barco". O bloco é responsável por 11% das emissões globais e trabalha para reduzir suas emissões em 20% até 2020.

"Acho não há tempo de um substitutivo de Kyoto ser acordado até 2012, quando expira o atual protocolo. Acho que haverá um buraco. O que não pode acontecer é perdermos tudo o que já alcançamos, voltamos para o nada", disse Feiler à Deutsche Welle.

"Países em desenvolvimento" como o Brasil, defende Feiler, também precisam se comprometer a diminuir suas emissões, "mas não com a mesma obrigatoriedade dos países ricos, mas de forma que seja possível verificar se os dados que eles apresentam estão de acordo com o que se comprometeram".

"A pressão para que os países em desenvolvimento sejam obrigados a diminuir suas emissões é cíclica. Ela varia de acordo com o grau de frustração devido à inércia dos Estados Unidos. Quando os americanos não se mexem, as nações ricas buscam outras vítimas", comenta André Aranha Corrêa do Lago.

O que será na África do Sul

Sob o comando de Christiana Figueres, são aguardadas complexas negociações para que saia um acordo em Durban, um acordo que alie as duas realidades tão competitivas: a da ciência, que alerta sobre o perigo do aumento da temperatura global trazido pelas emissões de CO2, e a situação econômica e política dos países.

"As nações pobres – e intermediárias – estão prontas para colaborar nesse processo", comentou Figueres sobre a extensão do Protocolo de Kyoto. O negociador brasileiro admite a urgência de ação. "Mas não se pode pedir que a China, que tem mais de 500 milhões de pobres, a Índia, com 800 milhões de pobres, e o Brasil assumam os mesmos compromissos dos países ricos", observa Lago.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque