Portugal: entre o futuro incerto e o otimismo
7 de fevereiro de 2012As estimativas para o futuro de Portugal são tudo menos unânimes. Analistas, investidores que participaram do pacote de resgate, economistas, o ministro das Finanças do país e os próprios portugueses – cada um tem a sua perspectiva. E cada ponto de vista tem uma justificativa.
Tendo em vista a situação do mercado financeiro, o ministro das Finanças de Portugal, Vitor Gaspar, esforça-se para melhorar a reputação de seu país. O endividamento, a falta de sustentabilidade do orçamento público, o fraco crescimento econômico e a baixa produtividade levaram o país ao âmbito do pacote de resgate da União Europeia (UE).
"Por mais de uma década, o desequilíbrio macroeconômico e a deficiência estrutural tornaram-se cada vez maiores", diz Gaspar, pedindo abertamente por mais confiança.
No caminho certo
Com a ajuda dos 78 bilhões de euros do pacote de resgate da UE, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do programa de ajuste financeiro a ele associado se estaria trilhando o caminho certo, afirma Gaspar. O programa exige principalmente o estímulo ao crescimento econômico e do mercado de trabalho. Mas também a proteção das finanças públicas e o restabelecimento da competitividade internacional fazem parte das medidas.
Para a população, as reformas necessárias significam ao mesmo tempo aumento de impostos e diminuição dos salários reais. Além disso, os portugueses terão de aceitar cortes no setor social. Cresce a inquietação no país.
Entretanto, Gaspar aposta em uma coesão social e declara-se a favor do pacote de resgate. Com a proteção que o pacote oferece diante dos caprichos do mercado, se ganharia um tempo precioso.
"É o tempo em que Portugal pode recuperar a confiança necessária para se autofinanciar novamente através dos mercado ao longo de 2013", diz Gaspar.
Implementação do programa de ajuste mostra efeitos positivos
Também a chamada "Troika" – composta por peritos da UE, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) – avalia os desenvolvimentos em Portugal como positivos. Através do programa de ajuste financeiro, Portugal teria conseguido um ligeiro crescimento econômico, constataram.
O economista Ulrich Rathfelder, analista de risco-país do banco alemão Landesbank Hessen-Thüringen (Helaba), considera que Portugal seja capaz de sair da crise através do programa de ajuste. "Os portugueses já haviam participado de um plano do FMI em 1984. Não foi um momento alegre para o país, mas, depois, eles conseguiram até mesmo um superávit na balança comercial."
Porém, Rathfelder não acredita que Portugal consiga se autofinanciar nos mercados novamente já em 2013. "Do ponto de vista atual, o ano que vem ainda é muito cedo para isso."
Necessário cortar a dívida
O Instituto de Economia Mundial da Universidade de Kiel (IfW, na sigla em alemão), na Alemanha, faz previsões bastante sombrias. Os economistas David Bencek e Henning Klodt desenvolveram um barômetro da dívida, que avalia a sustentabilidade da dívida pública em alguns países da UE.
De acordo com o mecanismo, a situação de Portugal não é tão desastrosa quanto a da Grécia, mas, para os dois economistas, o país não escapará do corte da dívida. "O corte da dívida é o menor dos males se um Estado caminha para a falência desordenada", considera Bencek.
Efeito-dominó não obrigatório
Se a Grécia desequilibrar-se, também se desequilibrarão Portugal e outros países, de acordo com o princípio do efeito-dominó. Sob tal ponto de vista, supõe-se que as causas para os problemas sejam idênticas.
Mas esse não é o caso, escrevem os economistas do IfW Klaus Schrader e Claus Friedrich Laaser em um estudo comparativo entre Grécia, Portugal e Espanha. "Os padrões e as trajetórias da crise são muito diferentes, assim como o potencial de resolução do problema de cada país", afirmam.
Deficiências qualitativas, déficits de produtividade como também encargos fiscais públicos e privados conduziram Portugal à crise, aponta o estudo. De acordo com Schrader e Laaser, o país precisaria reagir rápida e decisivamente.
Também o economista Rathfelder aposta em uma rápida consolidação. "Em Portugal, há companhias poderosas na indústria automobilística, no setor de abastecimento e também pequenas empresas eficientes no setor de tecnologia da informação (TI), de modo que a base industrial não é tão ruim", considera. Seria importante alcançar melhorias macroeconômicas e, assim, gerar confiança – também para os investidores.
Autora: Beatrix Beuthner (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque