G7 em Washington
12 de abril de 2008Os países do G7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, anunciaram um pacote de medidas destinadas a permitir um maior controle do mercado financeiro internacional, a fim de evitar futuras crises que provoquem perdas bilionárias.
O anúncio foi feito neste final de semana (12 e 13/04) durante um encontro, em Washington, dos ministros das Finanças e dos presidentes do bancos centrais dos países do G7 com representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. O assunto central é a persistente crise financeira provocada pelo mercado de créditos dos Estados Unidos.
Os ministros das Finanças do grupo dos sete aprovaram um documento exigindo que bancos e instituições financeiras operem com mais transparência, e que prevê também uma maior cooperação global entre os órgãos de supervisão. As medidas prevêem mudanças no gerenciamento de capital, risco e liquidez, bem como na avaliação dos riscos de investimentos.
Os ministros intimaram grandes bancos a divulgarem, de forma rápida e abrangente, seus riscos e expectativas de perdas, e exigiram o estabelecimento de critérios mais rígidos para o rating – avaliação sobre a capacidade de pagamento de dívidas e compromissos financeiros de um credor –, e de melhores padrões para balanços financeiros, bem como a elevação da liquidez necessária em negócios de risco.
Alemanha otimisita
O ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, e o presidente do Banco Central alemão, Axel Weber, se esforçaram em demonstrar um otimismo cuidadoso acerca do fim da crise.
"Não há motivo para pintar um quadro apocalíptico. A situação da economia alemã, por enquanto, é positiva. Temos quase a impressão de que devemos nos desculpar por não possuir tendências sado-masoquistas, mas a verdade é essa", disse à imprensa.
O otimismo do ministro dirige-se contra o Fundo Monetário Internacional (FMI), que na semana passada previra uma redução significativa do crescimento econômico alemão para este e também para o próximo ano em virtude da crise.
Steinmeier, por enquanto, não vê motivo para alterar o prognóstico de 1,7% de crescimento econômico para este ano. "Temos a impressão de que se está menosprezando o bom desempenho obtido no primeiro trimestre na Alemanha e na Europa", disse, alertando que a crise afeta, sim, a Alemanha, mas menos que o previsto.
Weber também lembrou que a crise gerou até agora prejuízos da ordem de 225 bilhões de dólares, dos quais cerca de 30 bilhões de euros em instituições alemãs. Estimativas mais altas, segundo ele, não estariam sendo realistas. Com isso, ele relativiza a previsão feita recentemente pelo FMI de que os prejuízos internacionais poderiam chegar a um trilhão de dólares.
Alimentos encarecem
Os políticos em Washington, no entanto, alertaram para outra crise de proporções cada vez maiores, causada pelo aumento dos preços de bens alimentícios. De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a drástica elevação dos preços de grãos e cereais poderiam aumentar a fome em 37 países pobres, com os gastos com a importação de nutrientes subindo 56% em países especialmente pobres.
"Em Bangladesh, um saco de dois quilos de arroz como este que tenho nas mãos custa a metade da renda diária de uma família pobre", alertou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Neste ano, a tonelada do arroz chegou a custar mil dólares, enquanto o preço normal ficava geralmente abaixo dos 400 dólares por tonelada. Tendências semelhantes foram observadas também com o trigo e o milho.
Para Zoellick, o problema é devido a diversos fatores, entre eles o alto custo da energia, o aumento da demanda por alimentos, o elevado interesse na produção de biocombustíveis e secas prolongadas na Austrália, na Europa Central e no Leste Europeu. Segundo ele, o aumento radical dos preços poderia levar cerca de 100 milhões de pessoas a um nível ainda maior de pobreza, o que corresponderia a um aumento de 4%.
O ministro Steinbrück falou em "uma monstruosidade que adentrou o cenário político". Segundo ele, "não se trata mais de um fenômeno de transição e isto poderia se tornar um problema básico, com conseqüências significativas para países pobres e em desenvolvimento e para a nutrição da população".