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Gastos públicos impulsionam leve alta da economia brasileira

Fernando Caulyt / Karina Gomes28 de novembro de 2014

PIB cresceu 0,1% no terceiro trimestre, em comparação a abril-junho, pressionado por gastos do governo. Rigor fiscal anunciado por nova equipe econômica terá consequências negativas para crescimento a partir de 2015.

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Agropecuária teve queda de 1,9% entre 2º e 3º trimestre de 2014Foto: Getty Images

A economia brasileira mostrou um pequeno sinal de reação no terceiro trimestre, em comparação aos meses de abril, maio e junho de 2014, já que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,1%, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira (28/11).

Essa taxa de crescimento foi pressionada pelo aumento dos gastos públicos e ficou abaixo do esperado por agentes financeiros. Embora ínfima, ela livrou o país da recessão técnica, após dois trimestres seguidos de resultados negativos. Ainda assim, a economia do país continua estagnada. Enquanto a indústria e os serviços cresceram 1,7% e 0,5%, respectivamente, a agropecuária teve uma queda de 1,9%, o que limitou uma expansão maior do PIB.

Com a política de rigor fiscal que deve ser adotada pela nova equipe econômica anunciada na quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, a tendência vai ser de moderação nos gastos públicos, o que terá consequências para o crescimento do país, principalmente a partir de 2015.

Diego Sánchez-Ancochea, professor de economia política da América Latina da Universidade de Oxford, confirma que as novas políticas anunciadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, podem ter impacto no PIB. "Ele tem uma postura mais ortodoxa em relação às políticas fiscais, o que deve ter um efeito negativo na expansão da economia."

Nesta sexta-feira, Levy declarou que a meta fiscal em 2015 deverá ser de 1,2% do PIB, devido ao baixo ritmo de crescimento. Para alcançar essa meta, o Brasil terá que adotar "todas as medidas e a disciplina que forem necessárias". "Com isso, há a geração de recursos que permitem ao governo continuar suas políticas públicas e, em particular, as políticas de inclusão social."

Por sua vez, o consumo familiar, fator importante na análise do PIB, teve uma variação negativa de 0,3% – o pior resultado desde o quarto trimestre de 2008, ápice da crise mundial, quando o recuo foi de 2,0%, na mesma base de comparação. Já a formação bruta de capital fixo (investimentos) e o consumo do governo apresentaram expansão de 1,3%. Em relação ao terceiro trimestre de 2013, esse indicador avançou 1,9%.

"O setor industrial reagiu um pouco, o que ocorre tradicionalmente no fim do ano, em função de ser época de recebimento do 13º salário e do crescimento das vendas", afirma Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ. "A reação da indústria foi mais importante do que o gasto do governo, que se fosse mantido no mesmo nível do período anterior, certamente o resultado do PIB não seria positivo."

Dos países que já disponibilizaram dados do terceiro trimestre, o crescimento do Brasil só foi melhor do que de Áustria (0%), Itália (-0,1%), Chipre e Japão (-0,4%) e Ucrânia (-2,1%). A China cresceu 1,9%; os Estados Unidos e o Reino Unido, respectivamente, 1% e 0,7%; à frente dos latino-americanos México (0,5%) e Chile (0,4%). A alta da Alemanha no período foi a mesma que a do Brasil (0,1%).

Expectativa ruim para 2014

O PIB do terceiro trimestre de 2014 chega a 1,3 trilhão de reais. "O crescimento foi baixo, como já se esperava. A única forma de se passar por isso é com a estagnação", diz Brian Sturgess, economista chefe do centro de estudos World Economics, em Londres.

Brasilien - Ökonomen Alexandre Tombini, Joaquim Levy and Nelson Barbosa
Presidente do BC, Alexandre Tombini, e ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa na apresentação da nova equipe econômicaFoto: Wilson Dias/Agência Brasil

Muitos analistas brasileiros já esperavam um mau desempenho da economia no terceiro trimestre. Isso resulta em previsões para o ano de 2014 que variam de um crescimento do PIB de 0,8% até taxas negativas.

Apesar de o mercado internacional se mostrar favorável à postura mais ortodoxa de Joaquim Levy, Sánchez-Ancochea, da Universidade de Oxford, considera que "a dinâmica da economia real" pode ir contra o otimismo dos investidores externos.

"Se Levy decidir ser muito ortodoxo, será ruim para o Brasil. Por outro lado, se ele tentar manter a balança comercial equilibrada e garantir a estabilidade econômica, acredito que teremos boas notícias", avalia.

Para Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio Brasil-China, a escolha da nova equipe econômica vai ao encontro das necessidades do país de acertar as contas e dar maior transparência ao controle de gastos, "o que vai ajudar a conter a inflação e os juros".

"Um ambiente de negócios com certa estabilidade, menor volatilidade no câmbio, menos controle de preços, entre outras medidas que inibem investimentos, será mais favorável", diz Tang. "Dobrar a aposta sobre as previsões de crescimento do PIB, como vinha sendo feito [pelo ministro "demitido", Guido Mantega], não será mais possível."