Neonazismo
18 de janeiro de 2012A Alemanha espera vencer a luta contra os crimes cometidos por neonazistas com a ajuda de um banco de dados central com quase 10 mil registros. O governo alemão decidiu nesta quarta-feira (18/01) criar um arquivo que une informações das autoridades regionais e nacionais de segurança sobre extremistas de direita tidos como violentos e seus contatos.
A intenção é identificar com maior rapidez conexões dentro de certos grupos. O exemplo veio do banco de dados antiterrorismo, no qual estão registrados há anos dados sobre ativistas islâmicos tidos como perigosos.
No novo banco de dados estão informações como nome, endereço e data de nascimento. Uma ferramenta de busca permite descobrir dados adicionais, como número de conta corrente, telefone, e-mail e ficha policial. Por insistência da ministra alemã da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, essa ferramenta de pesquisa terá, a princípio, validade de quatro anos. Um possível prorrogação deverá ser definida depois de uma avaliação dos benefícios do recurso.
A criação do registro é uma consequência da descoberta tardia de que a série de assassinatos neonazistas que abalou a opinião pública na Alemanha, em novembro passado, foi cometida por um grupo de neonazistas. A motivação extremista do assassinato de nove imigrantes e uma policial só foi reconhecida anos depois dos crimes. Segundo especialistas, a falha na investigação foi provocada pela falta de troca de informações entre os muitos serviços de investigação envolvidos.
Crimes desvendados com anos de atraso
No início de novembro, após a descoberta de dois corpos carbonizados num trailer em chamas na cidade de Eisenach, no estado da Turíngia, a polícia alemã reuniu provas de que um mesmo trio neonazista fora responsável pela morte de uma policial, em 2007, e o assassinato de oito pequenos comerciantes turcos e um grego, ocorridos entre 2000 e 2006. A autoria, o motivo e a correlação entre os crimes permanecia desconhecida até então.
Os dois corpos encontrados no trailer eram de Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, ativistas de extrema-direita procurados pela polícia por diversos roubos a bancos, juntamente com Beate Zschäpe, a companheira de moradia deles. O trio formava o núcleo de um grupo autointitulado Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão). Zschäpe incendiou o apartamento em que morava com Mundlos e Böhnhardt em Zwickau, também na Turíngia, e se entregou à polícia poucos dias depois.
As armas de serviço da policial morta e de seu colega foram encontradas no trailer incendiado. Nas ruínas do apartamento, os investigadores acharam a arma que matou os comerciantes estrangeiros, cujos assassinatos eram até então um mistério.
Suspeita se recusa a depor
As investigações sobre a série de assassinatos cometidos pelos neonazistas se mostra mais difícil do que o esperado porque a principal acusada se nega a falar. O diretor do Departamento Federal de Investigações (BKA), Joerg Ziercke, afirmou em Berlim nesta quarta-feira que a principal suspeita, Beate Zschäpe, ainda se recusa a falar com os investigadores.
"Os outros suspeitos que estão sob custódia também são muito monossilábicos", disse o chefe da BKA. Ele, entretanto, se mostrou confiante de que, devido à contundência das provas, "alguns dos acusados logo falarão". Além de Zschäpe, há quatro outros suspeitos de cumplicidade em prisão preventiva.
MD/dpa/rtr
Revisão: Alexandre Schossler