Governo cubano proíbe marcha da oposição
13 de outubro de 2021O governo cubano rejeitou nesta terça-feira (12/10) um pedido de grupos de oposição para realizar uma marcha em 15 de novembro. As autoridades acusaram os organizadores de serem apoiados pelos Estados Unidos e de tentarem derrubar o regime.
O planejamento dos protestos é o mais recente sinal de descontentamento na ilha, que atravessa uma grande crise econômica, com alta inflação, cortes de energia e escassez de alimentos e medicamentos.
"Os promotores [do evento] e seus representantes públicos, alguns dos quais com vínculos com organizações subversivas ou agências financiadas pelo governo americano, têm a clara intenção de promover uma mudança no sistema político cubano", afirmou o governo em nota.
O grupo de oposição Archipiélago, que afirma ter cerca de 20 mil membros, planejou a manifestação "Marcha Pacífica pela Mudança" em apoio às liberdades civis na ilha, incluindo o direito de protesto pacífico e a anistia para oposicionistas presos. Na capital, Havana, estava prevista a participação de cerca de 5 mil pessoas.
A nova convocação para manifestações ocorre depois que protestos espontâneos sem precedentes contra o governo tomaram conta do país em 11 de julho, em cerca de 50 cidades.
Após os atos, houve repressão do governo – pelo menos uma pessoa morreu, dezenas ficaram feridas e mais de mil foram detidas, várias das quais ainda estão atrás das grades.
Na época, o presidente do conselho de Estado de Cuba, Miguel Díaz-Canel, acusou "mercenários pagos pelos Estados Unidos"de organizar os protestos.
Data remarcada
O grupo havia originalmente convocado o protesto para 20 de novembro, mas antecipou o ato em cinco dias, depois que o governo cubano convocou uma parada militar para a data.
No entanto, 15 de novembro também é o dia em que o governo planejou reabrir Cuba ao turismo, após dois anos em que o setor, fundamental para o país, ficou quase inoperante.
"As razões apresentadas para protestar não são consideradas legítimas", disse o governo em seu comunicado, acrescentando que a nova constituição adotada em 2019 afirma que o sistema socialista é "irrevogável".
Grupos debaterão se seguirão com ato
O diretor de cinema e organizador do protesto Yunior Garcia criticou as razões do governo para não permitir a manifestação.
"O que quer que o cubano faça, eles sempre dizem que a ideia veio de Washington. É como se não pensássemos, como se nós, cubanos, não tivéssemos cérebro", disse Garcia.
Segundo ele, os vários grupos de oposição vão agora discutir se devem desafiar a proibição do protesto.
"Qualquer cubano sensato quer a mudança, qualquer cubano sensato quer que em Cuba haja mais democracia, mais progresso, que haja mais liberdade, em todos os sentidos", disse García.
Em Cuba, os direitos de greve e manifestação não são contemplados fora das instituições do Estado, razão pela qual, se tivesse sido autorizada, a marcha de 15 de novembro teria estabelecido um precedente histórico.
le (efe, afp, ots)