Governo de Mianmar executa quatro ativistas pró-democracia
25 de julho de 2022A junta militar que governa Mianmar executou quatro ativistas pró-democracia, noticiou a mídia estatal nesta segunda-feira (25/07). Eles haviam sido acusados de liderar "atos de terror brutais e desumanos", seundo o jornal Global New Light of Myanmar. São as primeiras execuções em Mianmar desde o final dos anos 1980.
Entre os executados, estão o o ativista pró-democracia Kyaw Min Yu e o ex-parlamentar e artista de hip-hop Phyo Zeya Thaw, noticiou o jornal. Thaw era um parlamentar do partido Liga Nacional para a Democracia (NLD), o mesmo da líder Aung San Suu Kyi, que está presa e cujo governo eleito foi deposto por um golpe de Estado no início de 2021.
Os outros executados foram Hla Myo Aung e Aung Thura Zaw. O Global New Light of Myanmar noticiou que os quatro haviam sido denunciados sob a lei antiterrorista e o Código Penal, e que a execução havia sido conduzida de acordo com os procedimentos da prisão.
"Voltando à idade das trevas"
Os quatro tinham sido condenados à morte em janeiro, em julgamento fechado para o público, acusados de ajudar milícias a combater o Exército, após os militares terem tomado o poder.
Dois especialistas da ONU classificaram as execuções planejadas como uma "vil tentativa de instigar o medo" entre a população do país, poia s autoridades birmanesas vêm conduzindo uma brutal repressão para desmobilizar os protestos contra o regime. A Associação de Assistência de Prisioneiros Políticos (AAPP) registra 2.100 mortes pelas forças de segurança desde que a junta militar assumiu.
O relator especial das Nações Unidas para Mianmar, Tom Andrews, se disse "indignado e devastado" com as execuções: "Estes atos depravados devem ser um ponto de inflexão para a comunidade internacional", afirmou.
De acordo com o porta-voz do governo paralelo de unidade nacional de Mianmar, Kyaw Zaw, os membros no exílio estavam "extremamente entristecidos" e "condenam fortemente a crueldade da junta". Ele enfatizou que "a comunidade global deve punir sua crueldade".
Richard Horsey, analista da organização International Crisis Group Myanmar, disse que "qualquer possibilidade de acabar com a crise criada pelo golpe foi agora enterrada". A junta militar de Mianmar "vê isso como uma demonstração de força, mas pode ser um grave erro de cálculo".
"Não houve execuções durante 30 anos. Isso faz o relógio voltar para trás, para a idade das trevas", disse Khin Zaw Win, diretor do think tank Tampadipa Institute.
"Total crueldade"
Elaine Pearson, diretora interina da Human Rights Watch (HRW) na Ásia, classificou em um comunicado as execuções como "um ato de total crueldade".
"Essas execuções, inclusive do ativista Ko Jimmy e do parlamentar de oposição Phyo Zeya Thaw, ocorreram depois de julgamentos militares claramente injustos e motivados politicamente. Essa notícia horrível foi agravada pela falta de notificação, pela junta, das famílias dos homens, que souberam das execuções por meio de reportagens da mídia da junta."
A HRW pediu aos países-membros da União Europeia, aos Estados Unidos e a outros governos que "mostrem à junta que haverá consequências por seus crimes": "Eles deveriam exigir medidas imediatas, incluindo a libertação de todos os prisioneiros políticos, e mostrar à junta que as atrocidades que ela comete têm consequências."
Isolamento de Mianmar
Em reação às execuções, o ministro das Relações Exteriores japonês, Yoshimasa Hayashi, disse num comunicado que o tema inspira profunda preocupação e isolará ainda mais Mianmar na comunidade internacional.
Ele acrescentou que a ação da junta militar vai acirrar o sentimento nacional e aprofundar a crise. que as execuções vão contra repetidos apelos do Japão pela libertação dos detidos no país e por uma resolução pacífica do conflito.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da França afirma que "essas execuções constituem uma grande regressão e mais um passo na escalada das atrocidades cometidas pela junta birmanesa desde o golpe de Estado".
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca também declarou que os Estados Unidos condenam as execuções: "Exortamos o regime a parar imediatamente com a violência, soltar os que foram detidos injustamente e permitir um retorno pacífico à democracia, de acordo com o desejo da população birmanesa".
bl/av (Reuters, AFP)