Violência no Cairo
10 de outubro de 2011Um dia depois das violentas manifestações no Cairo, o primeiro-ministro do Egito, Essam Sharaf, pediu calma nesta segunda-feira (10/10) num discurso na televisão. No domingo, ao menos 24 pessoas morreram durante o choque entre forças de segurança e cristãos coptas, que protestavam na capital. Muçulmanos também teriam se envolvido no confronto. Cerca de 200 pessoas ficaram feridas, segundo informações do Ministério da Saúde.
"Em vez de avançarmos e construirmos uma nação democrática moderna, nós nos encontramos buscando segurança e estabilidade. Ninguém vai recuar, e não vamos acreditar que o que aconteceu seja um motim sectário, isso é apenas uma cena de uma conspiração", disse Sharaf.
Militares impuseram toque de recolher de cinco horas em regiões do Cairo na manhã desta segunda-feira, e ao menos 40 pessoas foram detidas durante a noite no Cairo por participação nos atos violentos.
No domingo, aproximadamente 2 mil cristãos coptas se reuniram na capital egípcia para uma manifestação inicialmente pacífica contra a destruição de uma igreja no sul do país, ocorrida no final de setembro. Segundo relatos, o protesto degenerou em violência quando os manifestantes alcançaram o prédio da televisão estatal. Eles atearam fogo em veículos e atiraram pedras contra os seguranças que estavam em frente ao prédio.
As tropas teriam reagido com disparos para o alto e gás lacrimogêneo. Testemunhas contam que dois veículos blindados avançaram sobre a multidão, causando atropelamento e morte de civis. Ativistas que participaram dos protestos disseram que "pessoas anônimas atiraram nos manifestantes", segundo publicou na internet Rami Kamel, que liderou o movimento dos cristãos.
Controle da crise
O governo do Egito convocou uma reunião de emergência para debater a situação. O gabinete deve se reunir na tarde desta segunda-feira para discutir como conter a tensão sectária que ameaça o momento de transição que o país vive.
Sharaf foi apontado pelo conselho militar que governou o país depois da saída do ex-presidente Hosni Mubarak. As eleições que irão determinar os primeiros representantes parlamentares desde o início da chamada Primavera Árabe estão marcadas para 28 de novembro.
Motivos religiosos
Há vários dias, cristãos protestam contra a destruição de uma igreja na província de Assuã, sul do Egito, no último 30 de setembro. Diversos bispos participaram da manifestação deste domingo, e fotos do governador da província, Mustafá al Sayed, foram queimadas – o líder havia dito que a igreja arruinada fora construída ilegalmente.
Os cristãos coptas correspondem a cerca de 10% da população do Egito, que é de 80 milhões de habitantes e de maioria muçulmana. O conflito deste domingo é o mais violento desde a revolução que derrubou Mubarak, iniciada em 25 de janeiro.
Em março último, 13 pessoas morreram durante manifestações de coptas no Cairo, que ocorreram após o ataque terrorista numa igreja ao sul da capital. O atentado na véspera do Ano Novo matou 21 cristãos.
A maioria muçulmana
O representante máximo dos muçulmanos no Egito, Al-Azhar Ahmed Tayyeb, também se pronunciou sobre os protestos violentos. Na televisão, ele pediu o início de conversas entre cristãos e islâmicos, "numa tentativa de conter a crise".
Muçulmanos radicais negaram uma possível culpa pelo conflito deste domingo no Cairo. Segundo um porta-voz do movimento salafista, o grupo condena o confronto violento que provocou a morte de civis.
NP/dpa/afp/rtr
Revisão: Alexandre Schossler