Governo e sindicatos trocam acusações sobre reformas
23 de outubro de 2006As manifestações populares organizadas pelos principais sindicatos alemães no final de semana passado levaram cerca de 200 mil pessoas às ruas para protestar contra as políticas econômica e social da grande coalizão.
Nas maiores cidades do país, representantes dos trabalhadores expressaram sua indignação contra o que consideram uma reforma tendenciosa dos setores social e de saúde e que prejudica os mais pobres e poupa os mais ricos. Os protestos dos sindicatos provocaram reações inflamadas, principalmente de membros da coalizão formada por democratas-cristãos e social-democratas.
Para o secretário-geral da CDU, Ronald Pofalla, os sindicatos não têm o direito de ir às ruas por não terem feito uma única proposta razoável que servisse de alternativa às reformas. Markus Söder, da União Democrática Cristã (CSU), também não poupou palavras ao se referir aos protestos.
"Esperávamos que os sindicatos estivessem agradecidos por causa da considerável queda no nível de desemprego durante o primeiro ano de trabalho da grande coalizão", disse. "Mas tudo o que ouvimos deles são constantes reclamações. Os líderes sindicais são ultraconservadores e não podemos levar o país para frente ao lado deles. Na minha opinião, os sindicatos não são mais um parceiro sério na mesa de negociações."
Sindicatos contra-atacam
O presidente da Confederação Alemã de Sindicatos (DGB), Michael Sommer, classificou as declarações de Söder de assustadoras e totalmente infundadas. Mas mesmo altos integrantes do SPD, partido que tradicionalmente possui um eleitorado na classe trabalhadora, disseram que os sindicatos estão obstruindo as negociações.
O ex-chanceler federal Gerhard Schröder afirma na sua autobiografia, que será lançada esta semana, que os sindicatos tiveram uma participação nada desprezível na sua renúncia ao cargo, em 2005. Sommer rebateu as acusações afirmando que não são os sindicatos que estão impedindo o país de avançar.
"O risco real para o desenvolvimento do país são essas companhias que contabilizam grandes lucros e ao mesmo tempo decidem demitir seus funcionários", afirmou. "Seja a gigante do setor eletrônico Siemens, seja a empresa de seguros Allianz, ou companhias similares – todas esquecem como agir de uma forma socialmente responsável, e não iremos aceitar isso."
Ele também comentou as críticas de Schröder. "Sim, fomos contra seu pacote de reformas, a Agenda 2010, por causa das injustiças sociais inerentes ao projeto. Mas ele não pode nos acusar por seu partido ter perdido as eleições", afirmou.
Alemães deixam país
O presidente da Confederação das Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio (DIHK), Ludwig Georg Braun, alertou que o lento processo de reformas no país faz com que mais e mais pessoas deixem a Alemanha e procurem oportunidades de emprego em outro lugar.
Segundo um recente levantamento, cerca de 145 mil alemães deixaram o país apenas em 2005 – o número mais alto em ao menos 50 anos. Braun salientou que mais da metade dos emigrantes têm menos de 35 anos e muitos deles possuem alto nível de qualificação. Para ele, a Alemanha precisa de uma melhor política educacional e uma drástica redução nos impostos e contribuições sociais para manter essas pessoas no país.
Depois de meses de discussões sobre a reforma da saúde, será concluído nesta quarta-feira (25/10), pela ministra da Saúde, Ulla Schmidt, o projeto de lei da reforma. Segundo a imprensa alemã, SPD e CDU/CSU ainda não chegaram a um consenso sobre vários pontos do projeto.