Átomos e política
13 de março de 2011"Os eventos no Japão significam um ponto de mudança para o mundo", afirmou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, neste sábado (12/03), após uma reunião de emergência com membros de seu gabinete para discutir a situação na usina atômica de Fukushima. Presentes estavam os ministros do Exterior, Guido Westerwelle, do Interior, Hans-Peter Friedrich, e do Meio Ambiente, Norbert Röttgen.
Após o encontro, a premiê anunciou que o governo irá verificar as normas de segurança em todas as 17 centrais nucleares alemãs, medida a ser realizada em conjunto com as administrações dos estados federados envolvidos. "Depois de um desastre como este em um país possuidor de alta tecnologia, como o Japão, a Alemanha não pode voltar ao seu dia-a-dia, como se nada tivesse acontecido", disse Merkel.
Mudança forçada
Após o desastre nuclear no Japão, o governo alemão começa a questionar sua própria política nuclear. O ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, anunciou no fim de semana que "deve haver um novo debate sobre o tema" e se disse a favor de uma rápida transição para outros tipos de energia.
Até mesmo Merkel deixou em aberto se insistirá em sua política de prorrogar o funcionamento das usinas nacionais. Ambos os políticos democrata-cristãos afirmaram que neste momento a segurança da população é prioridade.
Röttgen comentou à TV alemã que os incidentes no Japão significam uma mudança. "Acho que não podemos fugir desse novo debate sobre a energia nuclear", observou. Ele ressaltou que Berlim considera a energia nuclear um "modelo ultrapassado". Isto apesar de, recentemente, este ter determinado a prorrogação do funcionamento das centrais atômicas por 12 anos, em média.
Boas intenções não bastam
Para ambientalistas e oposição, tais declarações de boas intenções não bastam. Eles exigem um fim imediato da era nuclear. O líder do Partido Verde, Jürgen Trittin, afirmou que usinas nucleares "não estão preparadas para o caso de um derretimento do núcleo do reator".
O presidente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), Sigmar Gabriel, comentou temer que o governo não reconsidere sua posição. "Para o SPD e para mim sempre a questão foi clara: os riscos da energia nuclear são absolutamente inaceitáveis."
Desde que, há alguns meses, o governo aprovou uma lei ampliando o prazo de funcionamento das usinas nucleares, o movimento antinuclear ganhou novo impulso na Alemanha. Cinco estados governados pela oposição entraram com uma ação na Justiça, argumentando que a medida seria anticonstitucional.
Ambientalistas convocam a protestos
No sábado, cerca de 60 mil pessoas fizeram uma corrente humana de 45 quilômetros desde a cidade de Stuttgart até a usina nuclear de Neckarwestheim, para pedir o fim da energia atômica. A manifestação fora organizada antes dos acontecimentos no Japão.
Entidades ambientalistas convocaram para esta segunda-feira manifestações em diversas cidades da Alemanha, nas ruas e em frente a sedes de companhias de energia atômica.
A maioria dos alemães é contra a energia nuclear. Numa pesquisa recente, realizada pela estatal Agência Federal do Meio Ambiente, mais de 60% dos entrevistados se pronunciaram contra a prorrogação do funcionamento dos reatores nucleares no país.
MD/dw/ap
Revisão: Augusto Valente