Greenpeace projeta chamas da Amazônia em ministério alemão
3 de setembro de 2020Ativistas do Greenpeace projetaram imagens de incêndios na Amazônia e mensagens pedindo a proteção da floresta na fachada do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, em Berlim, nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (03/09). Com o ato, a ONG se manifestou contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, considerado prejudicial ao meio ambiente pelos ativistas.
"Com o acordo comercial UE-Mercosul, a destruição maciça da floresta tropical ameaça se espalhar ainda mais. A política precisa finalmente agir! O ministro do Exterior, Heiko Maas, deve se opor ao acordo para proteger o coração verde do planeta", escreveu a organização numa publicação em sua conta no Facebook.
Os ativistas projetaram imagens de árvores em chamas e as frases "Acordo UE-Mercosul: perigoso para a Amazônia" e "Parem a destruição da Amazônia". O ato também visava atrair a atenção para o Dia Internacional da Amazônia, comemorado em 5 setembro.
No último dia 21 de agosto, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou ter "sérias dúvidas" sobre a implementação do acordo entre a União Europeia e o bloco sul-americano devido ao aumento do desmatamento na Amazônia.
No início desta semana, a ministra da Agricultura da Alemanha, Julia Klöckner, posicionou-se contra o acordo e afirmou que os colegas de pasta europeus estão céticos em relação ao pacto comercial. O presidente do Comitê de Comércio do Parlamento Europeu, o alemão Bernd Lange, também defendeu a suspensão do acordo.
Nesta quarta-feira, Merkel voltou a colocar em dúvida ratificação do acordo. Segundo ela, sob as atuas circunstâncias, a assinatura do acordo não enviaria um bom sinal. Merkel garantiu que compartilha do espírito ed a intenção do acordo, mas que regulamentações climáticas precisam ser negociadas e acertadas.
Carsten Lindemann, vice-presidente da bancada parlamentar da União Democrata Cristã (CDU), o partido de Merkel, enfatizou que o acordo não deve ser questionado. Em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine, ele afirmou que se a UE não seguir adiante com o acordo, os países do Mercosul iriam se direcionar cada vez mais para a China. Alertas semelhantes foram emitidos por diversos setores da economia alemã.
Em junho do ano passado, após 20 anos de negociações, a UE e os países que compõem o Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – chegaram a um acordo comercial abrangente para a criação da maior zona de livre comércio do mundo. Antes de entrar em vigor, o pacto precisa, porém, ser ratificado por todos os Estados-membros do bloco europeu.
Os parlamentos da Áustria, da Holanda e da região francófona da Bélgica já rejeitaram o acordo negociado. A ratificação do pacto também encontra resistência na França, Irlanda e Luxemburgo.
Segundo o Greenpeace, o acordo entre a UE e os países do Mercosul prevê maiores cotas de importação de produtos agrícolas e de carne bovina e de frango, e a Europa, portanto, importaria significativamente mais produtos para os quais grandes áreas de florestas precisam ser destruídas. Segundo a organização, muitos dos incêndios atuais são causados deliberadamente para preparar terras para a agricultura industrial.
Ainda de acordo com o Greenpeace, uma pesquisa realizada em agosto na Alemanha apontou que 85% dos entrevistados são a favor que um acordo comercial entre a UE e o Mercosul fortaleça os direitos humanos e os padrões sociais. E para 84% dos entrevistados, a consolidação da proteção ambiental deveria ser um ponto central do acordo.
Em junho, Maas enfatizou a importância de relações comercias fortes com o Mercosul e se pronunciou favorável ao acordo.
"É claro que o Ministério do exterior tem que enfrentar crises com cooperações internacionais", disse a especialista em florestas do Greenpeace, Gesche Jürgens. "Acordos comerciais sustentáveis devem, no entanto, focar na proteção do clima e na justiça social. Estes acordos não devem promover indústrias que violam os direitos humanos e destroem o meio ambiente."
PV/dpa/ots