Greenwald defende que Snowden seja ouvido pelo Bundestag
11 de abril de 2014Seria "extremamente irresponsável" da parte do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) não fazer "tudo o que for possível" para ouvir pessoalmente o ex-consultor da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) Edward Snowden na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a espionagem da agência, afirmou o jornalista britânico Glenn Greenwald em entrevista à agência de notícias DPA divulgada nesta sexta-feira (11/04).
O ex-colunista do jornal britânico The Guardian foi peça-chave na divulgação de informações sigilosas da NSA vazadas por Snowden.
A decisão de criar uma CPI com participação de todos os partidos foi anunciada pelo Bundestag na quinta-feira da semana passada. Os parlamentares alemães querem mais detalhes das ações da NSA na Alemanha. "Se eles [parlamentares] não fizerem isso [ouvir Snowden], haverá grandes lacunas nas investigações", afirmou Greenwald, que há um ano ajudou a deflagrar um dos maiores escândalos envolvendo a agência secreta americana.
Mas a eventual audiência com Snowden gerou polêmica no próprio Bundestag. Enquanto a oposição quer aprovar logo o pedido de audiência, deputados da base do governo mostram-se reticentes e questionam se o ex-agente poderá realmente contribuir com informações decisivas nas investigações da CPI. Os parlamentares devem decidir sobre a questão na próxima semana.
"Sacrifícios" de Snowden
Greenwald também considera que seria "ofensivo e imoral" se o governo em Berlim não concedesse asilo político a Snowden, pois, graças aos "riscos e sacrifícios" do delator, todos os alemães souberam do caso e são agora "mais capazes" de proteger seu direito fundamental à privacidade. Segundo documentos vazados pelo ex-técnico da NSA, até mesmo o celular da chanceler federal Angela Merkel teria sido alvo de escuta.
"A Alemanha não querer encarar mudanças amenas e temporárias em suas relações com os Estados Unidos me soa como algo ofensivo e imoral", afirmou o jornalista, que trabalha atualmente na revista online The Intercept.
Em agosto do ano passado, Snowden obteve asilo na Rússia, que ignorou os apelos do governo americano para que ele fosse extraditado a fim de cumprir mandado de prisão pelos crimes de espionagem, furto e apropriação indevida de propriedade de governo.
Fim da privacidade
Para Greenwald, os Estados Unidos e seus aliados de língua inglesa – Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – têm como objetivo, "sem exagero, eliminar a privacidade global". A intenção, segundo ele, seria monitorar e analisar todas as formas de comunicação eletrônica interpessoal.
O jornalista também rechaçou as alegações de Washington de que o vazamento de informações sigilosas estaria prejudicando a luta contra o terrorismo internacional.
"Isso é ridículo. Não contamos nada aos terroristas que eles já não soubessem. O que fizemos foi contar ao resto do mundo (...) que o sistema de vigilância está direcionado contra ele, e não aos terroristas. A fúria por parte dos EUA e do Reino Unido não é porque prejudicamos a segurança nacional, mas porque prejudicamos a reputação deles e sua capacidade de espionar o mundo inteiro."Parlamento alemão cria CPI da NSA e quer ouvir Snowden