Gregos expatriados temem saída da zona do euro
3 de julho de 2015"É possível ter alguma opinião sobre a crise?", grita Theo enquanto coloca jornalistas para fora de seu restaurante grego em Bonn, na Alemanha. O homem – cujo nome alterado nesta reportagem – se recusa a dizer algo sobre Atenas, fechando os olhos e tapando os ouvidos ao escutar o nome Tsipras.
Nesta semana, a Grécia não honrou uma dívida de 1,6 bilhões de euros com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e caminha a passos largos em direção à falência. A disposição dos líderes da zona do euro de chegar a um acordo está diminuindo, e um referendo no próximo domingo vai decidir se os gregos apoiam as propostas do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, ou estão do lado da União Europeia.
Diante desse cenário volátil, descobrir o que os gregos que vivem na antiga capital alemã pensam sobre os problemas do país de origem pode ser uma tarefa difícil.
"Você pode falar para o mundo inteiro que meus empregados e eu apoiamos a União Europeia e o que o Banco Central Europeu propôs à Grécia", diz Alex, proprietário de um restaurante às margens do rio Reno. Ele espera que o resultado do referendo de domingo seja a favor das propostas da União Europeia e que Tsipras seja obrigado a renunciar.
Crise afeta a população
Nikos nasceu na Grécia e vende gyros, também conhecido como churrasco grego, no subúrbio de Bonn. O jovem de 26 anos se considera mais alemão do que grego. "Os gregos são preguiçosos", lamenta, acrescentando que na Grécia o que importa é ter ligações com as pessoas certas. "O 'Q.I' é a única coisa que funciona", diz.
Entretanto, Nikos tem consciência dos problemas que estão incomodando seus familiares que vivem em Tessalônica, a segunda maior cidade grega. Ele guarda dinheiro para enviar aos primos, já que muitos deles não têm o suficiente nem para comprar comida.
"Muitas crianças vão à escola sem ter comido nada em casa", diz Sokratis Ntallis, arcipreste da Igreja Ortodoxa Grega em Bonn. "A igreja disponibiliza alimentos e roupas para essas pessoas", afirma. A instituição na Alemanha coopera com a Igreja Ortodoxa da Grécia para ajudar aqueles que precisam, com roupas e alimentos. Isso inclui jovens, muitos dos quais foram levados a cometer suicídio por não conseguirem lidar com a instabilidade financeira.
Dificuldade de tomar partido
Elena Aliki Papyorou acredita levar uma vida bem mais tranquila na Alemanha do que a que se leva hoje na Grécia. A tradutora profissional de Atenas vive há quase dez anos em Bonn, e as notícias do país natal têm sido bem deprimentes. "Muitos dos meus amigos se mudaram de lá para procurar emprego e um futuro melhor. Eles não foram afetados somente financeiramente. A qualidade de vida também foi abalada. Eles trabalham muito por pouco dinheiro", diz.
Para ela, o povo grego tem uma grande responsabilidade pelo que acontece hoje no país. "A corrupção tem sido desenfreada nos últimos 50 anos e é simplesmente transferida de um governo para o outro", afirma, destacando que os gregos não pensaram em quem estavam votando. "Agora as pessoas terão de usar a cabeça", espera.
Isso não é exatamente o que alguns gregos em Bonn gostariam de fazer no momento. Para muitos, como Alex, expressar a própria opinião pode significar um mau negócio.
"Da última vez que o mercado financeiro quebrou, em 2008, falamos com muitos jornalistas de diferentes veículos. Depois de uma semana, perdemos cerca de 10% dos nossos clientes", diz. Ele reconhece que restaurantes têm seus altos e baixos, mas diz que, desde o começo do ano, vários clientes simplesmente pararam de vir.
Assim como Alex, a maior parte dos gregos em Bonn sente que ter opinião sobre as finanças da Grécia é uma tarefa difícil. No próximo domingo, o país vai ter que decidir cuidadosamente qual é o melhor caminho. A saída da zona do euro está fora de cogitação para os expatriados, que dizem que a Europa não pode existir sem a Grécia. "Europa é uma palavra grega", resume Alex em uma frase.