Greve contra reforma da Previdência testa governo de Macron
20 de janeiro de 2023Mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em toda a França nesta quinta-feira (19/01) para protestar contra a reforma da Previdência proposta pelo presidente Emmanuel Macron, que faria a população trabalhar por mais tempo antes de receber benefícios de aposentadoria.
Segundo o Ministério do Interior francês, cerca de 1,2 milhão de pessoas marcharam em dezenas de cidades pelo país, sendo 80 mil somente em Paris. Por outro lado, o sindicato de extrema esquerda CGT falou em mais de 2 milhões de participantes ao todo, incluindo 400 mil na capital.
Em Paris, confrontos esporádicos foram registrados perto da área da Bastilha, com a polícia disparando gás lacrimogêneo contra manifestantes que atiravam garrafas e granadas de fumaça.
À medida que a marcha terminava à noite, grupos de jovens manifestantes também entraram em confronto com as forças de segurança na Place de la Nation, no leste de Paris, incendiando várias bicicletas e destruindo paradas de ônibus.
A polícia disse que 44 pessoas foram presas por uso de armas ou violência, a maioria do grupo radical Black Blocs, que usava máscaras, capacetes e roupas pretas. Os policiais disseram que conseguiram separar o grupo, que somava cerca de mil pessoas, da manifestação principal.
Enquanto isso, nenhum grande incidente violento foi relatado em dezenas de outras manifestações em todo o país.
As greves dos trabalhadores interromperam o transporte público na capital, fechando uma linha de metrô e obrigando outras a operarem serviços reduzidos.
Um grande número de trens foi cancelado em toda a França, bem como 20% dos voos no Aeroporto Orly de Paris.
O fornecimento de eletricidade também foi interrompido em várias partes do país.
Além disso, cerca de 40% dos professores do ensino fundamental e 30% do ensino médio não compareceram às salas de aula, segundo estimativas oficiais. Os sindicatos sugerem uma adesão à greve muito mais alta, de 70% e 65%, respectivamente.
O que Macron e os sindicatos dizem
Segundo a reforma, a idade nominal mínima de aposentadoria na França aumentaria de 62 para 64 anos. Os anos de contribuições necessários para uma aposentadoria completa também seriam estendidos. A estrutura de idade de aposentadoria do país é uma das mais generosas entre os países-membros da União Europeia (UE).
Nesta quinta-feira, o presidente Macron reconheceu o descontentamento público, mas afirmou que a reforma da Previdência é "acima de tudo justa e responsável", bem como necessária para "salvar" as aposentadorias francesas.
"Faremos isso com respeito, em espírito de diálogo, mas também com determinação e responsabilidade", disse o presidente francês, que estava em visita à Espanha.
O Estado argumenta que a reforma é a única maneira de manter o sistema previdenciário financeiramente viável.
Os sindicatos, por outro lado, afirmam que a medida ameaça os direitos dos trabalhadores. Em vez da reforma, eles propõem a imposição de um imposto sobre os mais ricos ou contribuições mais altas da folha de pagamentos dos empregadores para o sistema previdenciário.
Trabalhadores mais velhos também expressaram indignação com a reforma, afirmando que os políticos não têm conhecimento sobre a realidade de suas vidas profissionais.
Os sindicatos convocaram outra greve geral para 31 de janeiro.
Um teste para Macron
O projeto de lei é um grande teste para a presidência de Macron. Todas as pesquisas de opinião indicam que a maioria da população francesa se opõe à reforma da Previdência – uma medida que ocorre em meio à alta inflação e com o país ainda se recuperando dos efeitos econômicos da pandemia de covid-19.
Governos anteriores de vários partidos diferentes tentaram aprovar reformas para manter o sistema previdenciário funcionando, mas foram confrontados pelos notórios sindicatos da França.
O governo Macron revelou pela primeira vez os detalhes da proposta durante seu primeiro mandato, mas a abandonou em meio a protestos em massa e ao início da pandemia.
Em sua campanha à reeleição em 2022, o presidente francês disse que tentaria fazer passar a reforma mais uma vez.
O projeto de lei será apresentado formalmente por Macron na segunda-feira e deverá ser encaminhado ao Parlamento francês no próximo mês.
ek (AFP, AP)