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Greve no setor de saúde provoca indignação na Libéria

Kanubah, Julius / Sandner, Philipp (ca)15 de outubro de 2014

Na luta contra o ebola, enfermeiros e médicos liberianos arriscam a vida diariamente. Após convocarem greve nacional exigindo mais segurança, sindicatos cancelam paralisação atendendo ao apelo popular.

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Liberia Streikaufruf
Foto: picture alliance/AP Photo

Uma greve de funcionários de hospitais da Libéria provocou irritação no país, seriamente afetado pela epidemia de ebola. Após dois dias e com baixa adesão, os sindicatos cancelaram a paralisação nesta quarta-feira (15/10).

"Nossas portas estão abertas para negociações mais para frente, mas por enquanto cancelamos a greve com base nos diversos apelos do povo liberiano", disse George Williams, secretário-geral da Federação Nacional dos Profissionais de Saúde (NHWA, na sigla em inglês).

A entidade havia convocado uma greve nacional nesta segunda-feira, alegando que o pagamento e a proteção dos profissionais de saúde que cuidam de pacientes com ebola não correspondem ao perigo a que se expõem diariamente. A NHWA exige mais segurança para os funcionários e um aumento do subsídio de risco dos atuais 500 dólares para 700 dólares.

Localizada na África Ocidental, a Libéria é o país mais afetado pela epidemia de ebola. Nos últimos meses, o vírus já provocou a morte de mais de 2.300 pessoas. Funcionários de hospitais e centros de saúde estariam particularmente vulneráveis, afirma Williams.

"É evidente que os funcionários não estão suficientemente protegidos na luta contra o ebola", disse Williams. "Alguns morreram. Seus familiares não recebem nenhum apoio do governo."

Entretanto, a greve provocou críticas até mesmo de alguns enfermeiros e membros do sindicato, que continuaram a trabalhar.

Redemption Hospital in Monrovia
Apesar da greve, funcionários do Redemption Hospital continuaram a trabalharFoto: picture-alliance/dpa

População indignada

O chamado de greve veio num momento em que os hospitais liberianos estão sobrecarregados com o atendimento aos pacientes de ebola. O sistema de saúde já era considerado um dos piores da região antes mesmo da eclosão da epidemia. De acordo com estatísticas da ONU, existe ali, em média, um médico para cada 100 mil habitantes.

Durante a paralisação, moradores da capital liberiana, Monróvia, expressaram descontentamento. "Os doentes não encontram mais leitos", afirmou um transeunte, dizendo temer que o número de doentes aumentasse ainda mais devido à greve. Outra cidadã apontou para o juramento hipocrático dos médicos e enfermeiros. "Acho que eles deveriam cumprir o seu juramento."

Alguns enfermeiros também compartilham dessa opinião. Apesar de toda a problemática, James Gbatah decidiu não aderir à greve e continuar trabalhando no Redemption Hospital, localizado num subúrbio densamente povoado de Monróvia e que tem o seu próprio centro de tratamento de ebola. "Eu só estou aqui, porque meus irmãos e irmãs estão morrendo", disse. "Não podemos simplesmente criticar a atitude do governo em relação aos empregados e deixar que nossos semelhantes morram."

O ministro liberiano da Saúde, Walter Gwenigale, também mostrou-se indignado com a convocação da greve. Os enfermeiros estão dispostos a "abandonar seus conterrâneos por um punhado de dólares", disse o ministro à DW. Nesta terça-feira, ele havia ameaçado demitir os funcionários em greve.

Anthony Banbury, Vorsitzender der UNO-Sondermission UNMEER
Anthony Banbury, da ONU, compreende indignação de funcionáriosFoto: imago/Xinhua

Compreensão da ONU

Em entrevista à DW, Anthony Banbury, chefe da Missão da ONU de Resposta Emergencial ao Ebola (Unmeer, na sigla em inglês), demonstrou, por outro lado, compreensão diante do descontentamento dos funcionários de hospitais liberianos. Apesar de "terrível" para a luta contra o vírus, Banbury afirmou que os trabalhadores deveriam, realmente, atender ao chamado de greve.

O representante da ONU disse ainda que a comunidade internacional tem a responsabilidade de assegurar que aqueles que estão à frente da luta contra o ebola sejam pagos. "Isso é o mínimo que podemos fazer. Da mesma forma, deve ser assegurado que eles recebam os equipamentos necessários para se proteger no trabalho."

Segundo Banbury, a missão da ONU se esforçaria, por sua vez, para garantir um pagamento adequado não somente aos funcionários do serviço de saúde, mas também aos trabalhadores funerários.

A Rede de Apoio à Saúde, uma associação liberiana de jornalistas do setor de saúde, destacou nesta segunda-feira ao jornal Daily Observer o seu apreço ao trabalho dos enfermeiros. No entanto, segundo o coordenador do grupo, Victor Seah, somente um diálogo com o governo será capaz de trazer uma solução para o problema, e não uma greve.