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Cortes e bilhões

24 de maio de 2011

Anúncio de privatizações e cortes de gastos públicos agrada UE. Ainda assim, Grécia anuncia consequências dramáticas caso não receba próxima parcela de plano europeu de ajuda. Oposição nacional provoca queda do euro.

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Porto de Pireus está à vendaFoto: picture-alliance/dpa

A concessão de um novo crédito bilionário à Grécia parece quase inevitável. Nesta terça-feira (24/05), a agência de rating Moody's advertiu que no caso da falência estatal também os créditos dos demais países endividados perderiam valor.

Atenas também confrontou seus doadores – o Fundo Monetário Internacional e os outros países da zona do euro – com consequências dramáticas, caso estes suspendam a ajuda devido à insatisfação com o cumprimento das reformas prometidas.

Consequências catastróficas

A inadimplência grega seria altamente desestabilizadora para a zona do euro, alertou o especialista da Moody's Alastair Wilson. Espanha, Itália e Bélgica não cairiam na mesma categoria da Grécia, mas ficariam submetidas a considerável pressão por parte dos mercados de capitais.

Embora sem indicar o grau de probabilidade de uma falência, Wilson mencionou que as obrigações estatais emitidas pela Grécia são classificadas por todas as agências de rating como "arriscadas".

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Giorgos Papaconstantinou, da pasta de FinançasFoto: AP

Para evitar o pior, o governo socialista grego pede que seja liberada a parcela referente a junho, de 12 bilhões de euros, dentro do programa de resgate europeu de 110 bilhões de euros. Caso contrário, o país será forçado a suspender todos os pagamentos, advertiu o ministro das Finanças, Giorgos Papaconstantinou.

"Salários, pensões: nenhum gasto estatal poderá mais ser cumprido", disse na televisão. As verbas de que o Estado dispõe se esgotam em meados de julho. A liberação da parcela de ajuda está subordinada ao cumprimento do programa de saneamento acordado com o FMI, a UE e o Banco Central Europeu (BCE).

Medidas dolorosas

Na segunda-feira, Atenas aprovou medidas de contenção num volume de 6 bilhões de euros. Estas incluem a venda "imediata", tanto das duas maiores companhias portuárias do país, OLP e OLTH, como da telefônica OTE e o banco dos correios. A intenção é reduzir o déficit orçamentário em 2011 aos combinados 7,5% do Produto Interno Bruto.

A Comissão Europeia saudou a decisão da Grécia. Ela inclui a criação de um fundo de privatização semelhante à antiga Treuhand alemã – sociedade fiduciária que se ocupou da privatização dos bens estatais da República Democrática Alemã, após a reunificação do país.

Numa segunda fase, deverão também ir a pregão as empresas de abastecimento público, como a Public Power Corporation ou a Athens Water, especialmente interessantes para os investidores. Estima-se que, no total, a venda dos bens estatais gregos vá render 50 bilhões de euros. Estão em discussão medidas futuras, como cortes salariais mais acentuados, demissões no funcionalismo público e aumento dos impostos.

Conversão de débito, "suave" ou não

Em contrapartida ao aplauso da UE, a oposição conservadora grega se opôs às medidas. Após um encontro com o primeiro-ministro Giorgos Papandreou, o presidente do partido Nova Democracia, Antonis Samaras, declarou que as receitas anticrise até agora adotadas provaram estar erradas.

A reação oposicionista resultou em queda da cotação do euro. Embora dispondo de uma boa maioria, Papandreou se esforça para obter um consenso mais amplo para um curso de cortes mais rigorosos.

Do ponto de vista do BCE, não existe solução alternativa. Lorenzo Bini Smaghi, membro do diretório do Banco Central Europeu, acredita ser possível evitar uma conversão da dívida grega. Se o país não pagar seus débitos, isto só irá piorar seus problemas, afirmou.

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Anúncio de cortes já provocara greve geral em maio de 2011Foto: AP

Por outro lado, uma "conversão suave dos débitos", sem falência formalizada, ainda não está fora de cogitação, apesar da oposição do Banco Central Europeu. Na opinião do ministro holandês das Finanças, Jan Kees de Jager, trata-se de uma "opção séria", mas apenas com o fechamento de um pacote completo: a Grécia precisa aplicar suas reformas, insistiu.

Os críticos argumentam que a adoção desse curso provocaria uma reação em cadeia nos mercados de capital. Para certos peritos, como Andres Lipstock, do conselho do BCE, e Christian Noyer, presidente do banco central francês, a "conversão suave" é o mesmo que uma conversão pura e simples, não sendo, portanto, uma opção admissível.

AV/afp/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer