Grécia lapida lista de reformas
30 de março de 2015Com sua lista de reformas econômicas, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras (foto), espera arrecadar 3 bilhões de euros, afirma a imprensa nacional. Além disso, em 2015 o país deverá crescer 1,4%, assim como acumular superávit primário – para pagar os juros da dívida.
Atenas e a União Europeia estão de acordo sobre essas metas. Mas ainda há divergências quanto aos cortes da aposentadoria, às reformas no mercado de trabalho e à elevação do imposto de valor agregado (IVA).
Uma precondição incontornável para a ajuda financeira europeia aos gregos seria os parceiros da UE aprovarem a lista de reformas e, em seguida, os ministros de Finanças darem seu sinal verde.
Limites impostos por Atenas
Tsipras considera tabu a adoção de certas medidas: "Nós nos comprometemos a não aplicar cortes de salários nem de pensões, não permitir demissões em massa, nem outras medidas que levem a um agravamento da recessão e da crise social", declarou o político de esquerda ao jornal Real News, de Atenas.
O premiê expressou otimismo cauteloso de que "em breve haverá um final feliz desta primeira fase das negociações". Ao mesmo tempo, ele reclamou sobre a existência de "forças" na UE que desejariam uma "ruptura" das negociações.
O porta-voz da bancada parlamentar do partido Syriza, Nikos Filis, foi bem mais explícito: "Não se pode exigir que saldemos nossas dívidas exclusivamente com as arrecadações em curso. Isso é uma coisa sem precedentes, é uma extorsão", condenou, em entrevista à emissora de TV Skai.
Desde julho de 2014 a União Europeia suspendeu o pagamento a Atenas das parcelas do programa de resgate econômico. Filis ameaçou, em contrapartida, sustar o pagamento de juros e amortizações relativos às dívidas, caso Bruxelas continue retendo as parcelas devidas. Seu governo precisa "defender as necessidades do povo grego", observou o porta-voz.
Discordância interna no Syriza
De maneira inesperada, o premiê Tsipras marcou para a noite desta segunda-feira (30/03) um debate no Parlamento sobre o atual estado das negociações com os credores. O líder oposicionista conservador Antonis Samaras cancelou um importante evento partidário no norte da Grécia para comparecer.
Espera-se que o chefe de governo busque o confronto com os conservadores e talvez até aborde a questão – a seu ver, ainda em aberto – das reparações alemãs da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de fomentar a coesão dentro do próprio partido.
Segundo a TV Skai, com esse debate Alexis Tsipras também buscaria se antecipar a críticas ao curso das negociações com a UE vindas de dentro do próprio Syriza. Nos últimos tempos, vêm-se acumulando diferenças de opiniões no partido do governo, o que é uma fonte adicional de apreensão para o primeiro-ministro.
O exemplo mais recente é a planejada privatização do terminal de contêineres do porto de Pireu. Embora em janeiro o ministro dos Transportes Marítimos, Thodoris Dritsas, já tivesse anunciado sua suspensão, no último sábado, o vice-premiê Yannis Dragasakis declarou na China que o processo de venda prossegue.
A companhia de navegação chinesa Cosco, que desde 2009 já opera grande parte do terminal e conta entre os concorrentes mais fortes à privatização, está convidada a apresentar uma "oferta competitiva" para Pireu, disse Dragasakis na ocasião.
Flerte com Moscou e Teerã
Paralelamente, Atenas procura aproximar-se da Rússia. Nesta segunda-feira, o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, líder da ala mais de esquerda do Syriza, viajou para Moscou. Em 8 de abril, o próprio Tsipras é esperado na capital russa. Ainda não está claro se na ocasião ele pedirá apoio financeiro ao país anfitrião.
Em entrevista ao jornal grego Kathimerini, o embaixador russo na Grécia, Andrey Maslov, relativizou as expectativas: caso o governo grego apresente um pedido de crédito, este será "verificado".
O diplomata acentuou, porém, a necessidade de cautela quanto a ajudas econômicas em nível bilateral, já que a Grécia pertence à zona do euro. Além disso, a Rússia já estaria participando indiretamente do auxílio financeiro a Atenas, através do Fundo Monetário Internacional (FMI), acrescentou.
Também causou celeuma em Atenas a notícia, não confirmada oficialmente, de que Giorgos Tsipras, primo do chefe de governo e assessor do ministro do Exterior Nikos Kotzias, teria recentemente visitado o Irã.
Segundo informações do influente jornal ateniense Ta Nea, o enviado de Atenas teria pedido ao governo iraniano para investir em títulos públicos gregos. Teerã haveria declinado, alegando as sanções da comunidade internacional relacionadas ao programa nuclear do país.