O desafio de melhorar um time já quase perfeito
26 de março de 2014Durante a pausa de inverno da temporada 2012/2013 da Bundesliga, o Bayern de Munique anunciava a contratação de Pep Guardiola. O novo técnico assumiria em julho de 2013, sucedendo ao popular e bem-sucedido Jupp Heynckes. A notícia foi recebida com entusiasmo entre os torcedores, mas logo foi dando origem a certo ceticismo.
Heynckes e seus comandados iam abocanhando um título após o outro, conseguindo a tão citada tríplice coroa: Bundesliga, Copa da Alemanha e Liga dos Campeões, algo que nenhum time alemão havia feito antes.
Com um estilo de jogo unindo brilhantismo técnico e uma eficiência impiedosa, o Bayern de Heynckes conseguiu 25 pontos de vantagem na Bundesliga e despachou o Barcelona das semifinais da Liga dos Campeões com um placar de 7 a 0. E no meio do sucesso, o técnico, apesar de modesto, despretensioso e retraído, se tornava cada vez mais popular entre os torcedores.
Herança de peso
Era claro que quem viesse para desarrumar a combinação perfeita entre equipe, torcedores e uma diretoria que esbanjava autoconfiança estava fadado ao fracasso. Todos se perguntavam o que aquele espanhol vinha fazer no time bávaro, mesmo que tivesse anteriormente conduzido o Barcelona ao status de melhor time do mundo. Guardiola certamente não teria um caminho fácil pela frente, considerando a herança pesada de sucesso deixada por Heynckes. Mas ele aceitou o desafio.
Já em sua primeira entrevista coletiva em Munique, conseguiu deixar uma boa impressão. Com sotaque forte, porém charmoso, e um alemão surpreendentemente bom, respondeu de forma vivaz as perguntas dos jornalistas e declarou seu comprometimento com seu novo patrão.
Nos meses seguintes, foi se tornando cada vez mais evidente a importância que Guardiola dava ao novo emprego. Quando, por exemplo, foi revelado que ele havia recusado ofertas financeiramente mais lucrativas do futebol inglês. Ou mesmo no modo com que soube lidar com o caso Uli Hoeness, que renunciou à presidência do Bayern após ser condenado por fraude fiscal. Guardiola o chamou de "amigo" e disse que espera "poder vivenciar seu retorno ao Bayern” − declarações que agradaram aos torcedores.
Sucesso esportivo
No entanto, nada é mais importante do que sucesso esportivo. E nesse quesito, o espanhol já mostrou serviço nos primeiros nove meses de sua gestão em Munique, levando a Supercopa da Uefa, o Mundial de Clubes e agora o Campeonato Alemão.
Além disso, conduziu o Bayern às semifinais da Copa da Alemanha e às quartas de final da Liga dos Campeões. Mas qual será a parte dele nisso tudo? Afinal de contas, ele herdou um grupo já pronto de seu antecessor. Apenas a contratação do meia Thiago Alcântara é considerada uma ideia completamente dele.
Guardiola tem, sim, uma grande parcela de mérito, pois há poucas tarefas mais complicadas no esporte profissional do que tentar aperfeiçoar ainda mais uma equipe quase perfeita. Pois jogadores de futebol tendem – como aliás, a maioria das pessoas – a se acomodar com o sucesso. E o sucesso também alimenta vaidades.
O espanhol conseguiu administrar os egos de personalidades tão distintas como Ribéry, Robben, Lahm e Schweinsteiger, e fazê-los colaborar com seus objetivos, "como se não houvesse amanhã" (para citar o diretor esportivo do Bayern, Matthias Sammer).
Ele conseguiu fazer com que todos, mesmo as principais estrelas, aceitem quando, vez ou outra, não forem escalados para começarem jogando. Nisso, ele é ajudado por sua autoridade natural, seu jeito manso, sua carreira de sucesso e também seu dom de se comunicar com os jogadores. E todo jogador deve estar preparado para ser empregado em quase todas as posições: Lahm no meio de campo, Götze no ataque e Ribéry como armador.
Críticas ao estilo
Apenas o estilo de jogo do campeão alemão dá espaço para críticas. O Bayern pode ser dominante, ter sucesso, mas joga de forma entediante. Raramente a equipe corre riscos. Prefere atrasar a bola, nem que seja para um Neuer poucas vezes acionado, a ir para frente e atacar o adversário a qualquer custo. Uma quota de 80% de posse de bola não é necessariamente sinônimo de futebol atraente. Muito pelo contrário.
Guardiola poderia melhorar nesse quesito. Muito embora os especialistas em tática de futebol se interessem mais pelos resultados. Um pouco mais de arrojo agradaria não só aos torcedores do clube, mas a todos os amantes do futebol.
Mas provavelmente só no fim desta temporada, em maio, virá a resposta sobre se o espanhol realmente conseguiu aprimorar ainda mais o time que recebeu de seu antecessor, como muitos especialistas afirmam. Quando, então, três títulos forem celebrados no final. Qualquer outro resultado deverá ser encarado como uma derrota.