Frederico 2º da Prússia completaria 300 anos
25 de janeiro de 2012Para o escritor Tom Goeller uma coisa é certa: Frederico, o Grande foi um rei excepcional – "excepcional em comparação com todos os outros". Como general, mas sobretudo como ser humano e como governante próximo ao povo, ele era exemplar em muitos aspectos. Mesmo nos dias atuais muitos políticos teriam muito que aprender com ele.
Já o historiador Jürgen Luh afirma que Frederico, o Grande foi realmente um "grande", alguém acima da média em todas as áreas. "Ele escreveu poesias, era filósofo e músico, deixou um legado de obras de arte e castelos. E foi também o maior relações-públicas de seu tempo."
Em outras palavras: o rei da Prússia soube transformar seu nome numa marca ainda em vida. "Ele sabia entreter, era charmoso, culto e autoconfiante. Hoje ele se encaixaria muito bem num talk show televisivo", completou o historiador, que trabalha na Fundação Palácios e Jardins Prussianos de Berlim e Brandemburgo, em Potsdam.
Opinião semelhante tem o historiador Tillmann Bendikowski. "O monarca era uma figura de exceção, um multitalento. Na memória cultural alemã, mas não só nela, Frederico 2º é de fato um grande."
Príncipe rebelde
Frederico nasceu numa noite escura de janeiro de 1712 – um facho de esperança numa época de muitas dificuldades. A dinastia dos Hohenzollern tinha agora um herdeiro, no qual estavam depositadas todas as esperanças. Inicialmente ele parecia destinado a frustrá-las. Friedrich era uma criança sensível, que preferia a companhia dos livros, da mãe e da irmã mais velha, Wilhelmine, a unir-se às cavalgadas e exercícios militares do pai.
Aconteceu o que era previsível: os atritos entre pai e filho se tornaram cada vez maiores. Aos 18 anos, Frederico empreendeu uma ingênua tentativa de fuga. Por conta disso, foi duramente castigado pelo pai com o cárcere e humilhações. Mas, ainda pior do que isso: um velho amigo e cúmplice na tentativa de fuga, Hans Hermann Von Katte, foi executado diante do príncipe.
O que se seguiu foi o procedimento educacional típico da época: quebrar a vontade própria do jovem Frederico. Por ordens do pai, o jovem casou-se com a princesa Isabel Cristina, filha do duque de Braunschweig-Bervern, um casamento arranjado. O casal passou alguns poucos meses felizes no castelo de Rheinsberg, ao norte de Berlim, mas logo cada um seguiu, na medida do possível, o seu próprio caminho.
Nesse período, Frederico continuou o desenvolvimento do seu gosto artístico, dedicando-se à música e à filosofia e cercando-se de pessoas interessantes, que escrevia, pintavam e liam. Foi assim que surgiram as lendárias mesas redondas, em torno das quais intelectuais da época e o rei da Prússia se reuniam para comer, beber e debater.
"Anos mais tarde, essas mesas redondas já não eram mais tão cheias de entusiasmo. O discurso longo e prolixo do monarca, já idoso, muitos vezes induzia os convidados ao sono", conta Bendikowski.
Regente reformista
A bela vida de príncipe herdeiro acabou em 31 de maio de 1740, quando Frederico, então com 28 anos, se tornou regente e soberano da Prússia.
A Prússia não era um Estado no sentido atual da palavra, mas um domínio territorial que se espalhava pelos territórios dos atuais estados alemães de Berlim e Brandemburgo e pela Polônia, além de pequenos territórios na região do baixo Reno. A Prússia se estendia por mais de mil quilômetros, englobando várias espaços culturais, nos quais se falava alemão, francês, holandês e polonês.
O novo governante logo se tornou famoso por suas reformas. Ele decretou o fim da tortura, então prática comum (ainda que, na prática, não tenha sido totalmente bem-sucedido), atacou a servidão, distribuiu cereais à população, incentivou o cultivo da batata e publicou o famoso edital em favor da tolerância religiosa: cada pessoa era livre para escolher sua crença.
Frederico tinha uma posição indiferente diante da religião e pragmática diante dos imigrantes de outras culturas. Na Prússia protestante, ele permitiu a construção de mesquitas para imigrantes muçulmanos e de uma catedral para católicos. Nas palavras de Goeller, isso era algo inédito para a época. Segundo o escritor, jamais passaria pela cabeça de algum outro governante europeu de então permitir a construção de templos de outras religiões.
O estrategista militar
Mas havia também um lado negro em Frederico, o Grande. Ele era um líder militar implacável, que procurava impor seus interesses externos com a ajuda de um Exército muito bem treinado e armado. Mas, por mais brutal que fosse o recrutamento dos jovens soldados, por mais rigorosa que fosse a disciplina, por mais violenta que fosse a punição aos desertores, o monarca, que exigia subordinação total por parte de seus soldados, era admirado por eles.
Frederico foi pessoalmente o comandante de inúmeras batalhas e colocou diversas vezes a própria vida em risco, afirmam alguns estudiosos. Ele era um especialista em táticas de guerra, mas também foi o responsável por inúmeras derrotas. E muitas de suas vitórias ele conquistou apostando tudo numa única ficha, um comportamento de jogador, mesmo contra os conselhos de seus oficiais.
Durante anos ele conduziu guerras territoriais, perdendo e ganhando, e ao final era, apesar de tudo, um rei temido e respeitado. Milhares de pessoas, tanto soldados como civis, perderam a vida no lado prussiano. Frederico reinava de forma onipotente. E transformou a Prússia numa superpotência europeia.
Morte e legado
Após anos de batalha, ele voltou a Berlim como um homem doente, aos 51 anos. "Cada dia que passa eu perco um dente e estou meio paralisado pela gota", escreveu o monarca. Apesar disso, ele só morreu 23 anos depois, em 17 de agosto de 1786, em Sanssouci. Seu desejo de ser enterrado ao lado de seus queridos cachorros, na esplanada do castelo, não foi inicialmente atendido.
Seu caixão foi posto na Igreja Garrison, em Potsdam. "O lugar onde ele menos queria estar era lá, ao lado de seu pai", diz o historiador Jürgen Luh. Mais tarde, os restos mortais de Frederico forma trasladados diversas vezes. Apenas em 1991 seu caixão voltou a Sanssouci.
Nessa época as interpretações ideológicas de todas as matizes já eram coisa do passado: conservadores viram nele um modelo da virtude e do senso de dever prussiano, militares alemães propagaram sua estratégia do "tudo ou nada", políticos nazistas manipularam sua imagem nos seus objetivos e guerras, e na Alemanha Oriental ele era visto como um senhor feudal e déspota.
“Hoje temos de estar satisfeitos que essa figura superdimensionada e onipresente tenha sido politicamente posta de lado", diz Bendikowski. "Hoje temos de resolver nossos problemas sem o grande Frederico. Nesse ano de jubileu, podemos nos concentrar na figura histórica, e ninguém precisa temer que no aniversário de 300 anos um novo e ameaçador espírito prussiano se levante."
Autora: Cornelia Rabitz (mas)
Revisão: Alexandre Schossler